O ato de pigmentar a pele é tão antigo quanto a própria evolução da espécie humana na Terra e remonta a períodos que variam de 2.000 a 5.000 anos A.C.
Um dos relatos mais famosos e antigos referem-se às 61 tatuagens encontradas em Otzi, o Homem de Gelo, realizadas com carvão.
No passado, devido ao conservadorismo da sociedade, pessoas tatuadas eram bastante discriminadas. Porém, com o passar do tempo, esse olhar foi cedendo à expressão estética da arte de tatuar corpos.
Na Europa, cerca de 12% da população tem os corpos tatuados e essa proporção chega a 30% nos Estados Unidos.
Segundo o Instituto Alemão Dalia, 30% da população brasileira é tatuada e, dentre essas pessoas, 75% tem mais de duas tatuagens.
Entretanto, apesar de ter se tornado algo bastante popularizado, realizar tatuagens tem seus riscos e pode acarretar sérios problemas à saúde.
Por se tratar de um procedimento invasivo, através da perfuração cutânea por agulhas, quando associada a locais onde as condições de higiene são precárias é grande o risco de contaminação por bactérias, fungos e vírus, entre os quais se destacam o vírus da hepatite B e C e o HIV.
Além disso, a injeção de pigmentos na pele pode resultar em dermatites alérgicas de graus variados, e também no aparecimento de tumores benignos, como o dermatofibroma, e de cicatrizes inestéticas, os chamados queloides.
Outro problema grave é que muitos estabelecimentos utilizam pigmentos que não foram liberados pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Dessa forma, é de importância crucial quando a pessoa decidir realizar uma tatuagem cobrar do tatuador marcas de tinta chanceladas por este órgão.
Apesar desse cuidado, estudos europeus recentes demonstraram a presença de metais pesados acima dos limites propostos pela legislação europeia nas tintas utilizadas.
Alguns exemplos de metais presentes nas tintas:
- cobre e cobalto: azul
- manganês: lilás
- cádmio: amarela
- mercúrio: vermelho
- níquel e cromo: verde
- níquel, cádmio e chumbo: preto
Além do potencial risco tóxico e cancerígeno desses elementos químicos presentes nos pigmentos das tatuagens, uma outra complicação também é relatada quando a tatuagem é exposta ao sol, já que as tintas podem sofrer alteração química, principalmente na presença de pigmentos na cor vermelha, laranja e amarela, causando um processo de fotoalergia.
A princípio os pigmentos pretos, apesar de apresentarem menores riscos, têm em sua composição uma substância denominada Carbon Black, à base de alcatrão (derivado do petróleo) e borracha, o que confere, também, certo grau de toxicidade ao organismo. Sendo que em alguns estudos científicos foram encontrados pigmentos enegrecidos em linfonodos regionais (gânglios) de pessoas tatuadas.
Sabe-se que intoxicações por chumbo podem afetar o sistema nervoso central, causando desde perda de memória e cefaleia até distúrbios cognitivos e de locomoção. Além disso, em casos graves o rim e o sistema digestório podem ser afetados, com sintomas como falta de apetite, diarreia e vômitos.
Foram também relatados casos de uveítes (inflamação de uma estrutura do globo ocular) e vermelhidão crônica dos olhos que ocorreram em períodos de 6 meses a até 10 anos após a realização de tatuagens.
Obviamente quanto maior número de tatuagens e maior a extensão delas (cobrir com tinta um membro inteiro ou boa parte do tronco), maior é o risco de complicações no organismo.
No Brasil, as três marcas de tinta de tatuagem autorizadas pela Anvisa são:
• Tinta para tatuagem Starbrite Colors – Amazon Indústria, Comércio, Exportação e Importação de Produtos Especializados.
• Tinta para tatuagem Electric Ink – Electric Ink Indústria Comércio, Importação e Exportação LTDA.
• Tinta para tatuagem Iron Works – Brasil LTDA.
Além das inúmeras complicações possíveis de serem causadas pelas tintas e agulhas contaminadas, existe, ainda, o risco de intoxicação pelos cremes anestésicos utilizados pelos tatuadores. Muitos profissionais ignoram o potencial cardiotóxico desses cremes – que devem ser utilizados em concentrações e quantidades pequenas – pois altas concentrações e excesso de aplicação podem provocar dano cardíaco e até morte por parada cardíaca.
Portanto, fica um alerta à todas as pessoas que pretendem realizar tatuagens: que procurem locais referenciados e adequados às boas práticas de higiene e assepsia, e que trabalhem com tintas com aval sanitário, sabendo que, mesmo assim, correm risco de apresentarem complicações imediatas e futuras.
Referências:
- Agência Nacional de Vigialância Sanitária (ANVISA)
- SANTOS J, et al. Riscos toxicológicos dos corantes de tatuagem: uma revisão narrativa, 2021
Dra. Lilian Akemi Ota
Médica dermatologista de São Paulo, membro efetivo da Sociedade Brasileira de Dermatologia, da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica e da American Academy of Dermatology. @lilian_ota