Redação Publicado em 25/11/2021, às 17h30
Segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), estima-se que, em 2020, foram diagnosticados 65.840 casos de câncer de próstata no Brasil, o que equivale a, aproximadamente, 29,2% dos possíveis novos diagnósticos da doença entre pessoas do sexo masculino.
Vale lembrar que esse é o segundo tipo de tumor mais comum entre os homens – ficando atrás apenas do câncer de pele –, e a grande maioria dos casos é diagnosticada a partir dos 65 anos de idade (75%). Entre os principais fatores de risco estão histórico familiar, envelhecimento e mutações genéticas.
Entretanto, nos últimos anos, estudos internacionais têm sugerido um novo fator de risco para o surgimento do câncer de próstata: a apneia obstrutiva do sono. A condição é caracterizada por episódios recorrentes e intervalados de colapso das vias aéreas, que levam à interrupção total ou parcial do fluxo de ar, podendo causar ronco, fragmentação de sono, sonolência excessiva diurna, cansaço, redução da memória e alterações de humor.
Para investigar melhor esse assunto, pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) comandam um estudo pioneiro no Brasil que tem o objetivo de avaliar o efeito deste distúrbio do sono sobre o antígeno prostático específico (PSA), principal biomarcador usado para rastrear o câncer de próstata.
A pesquisa usará dados da 4ª Edição do Estudo Epidemiológico do Sono de São Paulo (EPISONO), conduzida entre 2018 e 2019 pelo Instituto do Sono. Segundo os pesquisadores, os distúrbios do sono podem provocar consequências fisiológicas significativas e estarem associados a diversos problemas de saúde.
A próstata é uma glândula localizada abaixo da bexiga e que envolve o início da uretra, tendo como função produzir parte dos fluidos do sêmen do homem. Com o passar do tempo, ela pode acabar aumentando de tamanho por duas razões: a hiperplasia da próstata (condição inflamatória benigna) ou problemas mais sérios, como o câncer.
Em geral, esse crescimento acontece após os 50 anos e, normalmente, causa jatos de urina fracos, dificuldade para urinar e sensação constante de bexiga cheia. No início, costuma evoluir sem apresentar sintomas ou com sinais semelhantes aos do aumento benigno.
Quando o câncer já se encontra em um estágio mais avançado, pode provocar sintomas urinários, infecção generalizada, insuficiência renal e dor óssea, quando ocorre metástase do tumor.
Estudos recentes mostram que a incidência do câncer de próstata em homens com apneia do sono é maior do que em indivíduos sem esta condição. Em 2021, por exemplo, pesquisadores coreanos e um estadunidense divulgaram na revista Medicine um trabalho comparando 152.801 homens diagnosticados com apneia obstrutiva do sono entre 2007 e 2014 com 764.005 indivíduos sem o distúrbio.
Confira:
Após um acompanhamento de quatro anos e seis meses, notaram que os casos de câncer de próstata apresentaram risco de 1,34 vezes maior de serem observados nos homens com apneia obstrutiva do sono do que no grupo de controle. Houve ainda um aumento de 1,51 vezes desse risco na faixa etária de 40 a 65 anos.
Ao revisar 12 estudos com 862.820 participantes, pesquisadores chineses constataram que a apneia obstrutiva do sono está relacionada à incidência de todos os tipos de tumores. Porém, o artigo, publicado em agosto na revista Sleep Medicine, da Sociedade Mundial do Sono, mostrou que a incidência do câncer de próstata nesta população foi a mais alta – num total de 1,1% –, seguido dos cânceres de mama, pulmão, colorretal, melanoma e de rim.
Ainda não se sabe ao certo quais são os fatores envolvidos na ligação entre apneia do sono e câncer de próstata. Uma das hipóteses levantadas é que indivíduos que apresentam este distúrbio de sono por um longo período de tempo passam a ter uma tendência maior à inflamação crônica no organismo - e um ambiente inflamado contribui para o desenvolvimento de um tumor.
Além disso, distúrbios do sono também são capazes de prejudicar o sistema imune. Dormir bem é importante para as defesas naturais do organismo, já que é durante o sono que ocorre o pico de produção do hormônio do crescimento, a elevação dos níveis do hormônio associado à resposta imunológica e a queda na secreção do hormônio induzido pelo estresse (cortisol).
Os despertares sucessivos causados pela apneia obstrutiva do sono podem impactar o sistema imune, já sobrecarregado pela inflamação crônica. Essa combinação é perigosa e capaz de levar ao desenvolvimento do câncer de próstata, além de dificultar que o sistema de defesa o reconheça como um corpo estranho.
Vale lembrar ainda que a apneia causa vários episódios de interrupção da respiração e, por isso, acredita-se que a queda dos níveis de oxigenação dos tecidos, mesmo que momentânea, pode favorecer o desenvolvimento de determinados tumores afeitos a ambientes com pouco oxigênio.
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