Por muitos anos, o advogado e administrador de empresas Aluizio Maia, de 64 anos, sentia muita sonolência durante o dia, irritabilidade e fortes enxaquecas – cerca de 10 episódios por mês, o que o impedia de fazer qualquer coisa pela manhã. Hoje, ele é um atleta: acaba de percorrer 1.105 km de bicicleta entre a antiga Estrada Real, de Diamantina (MG) até Paraty (RJ), junto com a mulher e outros ciclistas com mais de 60 anos.
De onde ele conseguiu tanta disposição para pedalar? Segundo Aluizio, vencer um distúrbio de sono foi o grande deflagrador para a mudança de hábitos. Há mais de 20 anos, ele recebeu o diagnóstico de apneia, condição caracterizada pela interrupção constante da respiração durante o sono. No Brasil, estima-se que 49 milhões de pessoas sofram com o problema, que aumenta o risco de hipertensão, diabetes, arritmias cardíacas, infarto e derrame.
Apesar de mudar radicalmente de estilo de vida – Aluizio era obeso, fumava e bebia, ele dormia mal e não levou o resultado da polissonografia a sério. Com o passar do tempo, o problema só se agravou. “Minha alimentação estava ok, minha atividade física ok, o meu nível de estresse ok, minhas relações, saudáveis, mas meu sono não estava bom. Dormir era uma coisa sofrida”, relata. “Minha qualidade de sono era tão ruim que eu ficava enrolando para ir para cama dormir.”
Em 2022, ele voltou a fazer o exame e descobriu que a apneia, que tinha sido classificada como moderada no primeiro diagnóstico, tornou-se severa. Só então resolveu enfrentar o problema. O tratamento mais indicado para o seu caso foi o uso do CPAP, um aparelho que envia ar com pressão para as vias respiratórias por meio de uma máscara. “Já na primeira noite de sono pude perceber claramente que havia dormido como há muitos anos não fazia”, lembra.
A minha enxaqueca desapareceu, minha irritação constante desapareceu e não tive mais sonolência durante o dia. Melhorou o meu desempenho no esporte, pois passei a me recuperar dos treinos e pedais intensos (mountain bike), fiquei muito mais tolerante e me sinto mais inteligente emocionalmente.”
Ao perceber toda essa melhora, ele também passou a cuidar mais da higiene do sono, o que inclui não ficar nas telas e reduzir as luzes pouco antes de dormir.
No último dia 22, Aluizio participou do Campeonato Metropolitano de Mountain Bike - Cidade Balsa Nova e ficou em primeiro lugar. “A ideia de dormir com uma máscara ligada a uma traqueia e a uma máquina me levava a ideia preconceituosa de algo ruim, ligado à ideia de doença ou incapacidade. Hoje, não consigo pensar em ir dormir sem o meu CPAP”, declara.
Segundo a fisioterapeuta Fernanda Murakami, que é coordenadora de engajamento do paciente na ResMed, uma das empresas fabricantes desse tipo de dispositivo, a apeia do sono é mais frequente em indivíduos do sexo masculino, acima de 40 anos de idade, com obesidade central (concentrada no tronco) ou aumento da circunferência do pescoço.
Os sinais mais comuns da condição incluem:
Em geral, a pessoa com apneia não se lembra de acordar no meio da noite por causa das pausas respiratórias. Mas, em alguns casos, isso pode acontecer. “Se você não dorme bem ou se identifica com esses sinais e sintomas, um médico especialista em sono pode auxiliá-lo a identificar se a apneia do sono pode ser a causa destes problemas”, recomenda a profissional.
Tatiana Pronin
Jornalista e editora do site Doutor Jairo, cobre ciência e saúde há mais de 20 anos, com forte interesse em saúde mental e ciências do comportamento. Vive em NY e é membro da Association of Health Care Journalists. Twitter: @tatianapronin