Redação Publicado em 12/10/2022, às 10h00
Hoje, 12 de outubro, é o Dia da Conscientização da Artrite Reumatoide (AR), doença inflamatória crônica que afeta as articulações gerando dores fortes e que pode provocar desgaste ósseo, limitações físicas e até comprometimento psíquico como transtornos de ansiedade e depressão, ocasionados principalmente pelo fator incapacitante da doença.
Em algumas pessoas, a condição pode danificar uma ampla variedade de sistemas do corpo, incluindo pele, olhos, pulmões, coração e vasos sanguíneos. Distúrbio autoimune, a artrite reumatoide ocorre quando o sistema imunológico ataca erroneamente os tecidos do próprio corpo. Ao contrário do dano de desgaste da osteoartrite, a artrite reumatoide afeta o revestimento das articulações, causando um inchaço doloroso que pode resultar em erosão óssea e deformidade articular. A inflamação associada à artrite reumatoide é o que pode danificar outras partes do corpo também. Embora novos tipos de medicamentos tenham melhorado drasticamente as opções de tratamento, a artrite reumatoide grave ainda pode causar deficiências físicas.
Conhecer melhor a jornada do paciente de AR no Brasil é importante para compreender os principais obstáculos enfrentados durante esse percurso desafiador e marcado pela dor. Esse processo que, em alguns casos, pode levar anos e acaba impactando fortemente a qualidade de vida de quem tem AR. É importante estar atento aos principais sintomas para não demorar a procurar o médico.
Entre eles se destacam: dores intensas; inchaço e vermelhidão nas articulações, especialmente nas mãos; rigidez articular e dificuldade em se mexer ao acordar (durando pelo menos uma hora) ou após longa inatividade; fadiga, febre e perda de apetite. Sendo que esses sintomas também podem aparecer separadamente. A artrite reumatoide precoce tende a afetar primeiro as articulações menores – particularmente as que prendem os dedos às mãos e aos pés. À medida que a doença progride, os sintomas geralmente se espalham para os pulsos, joelhos, tornozelos, cotovelos, quadris e ombros. Na maioria dos casos, ocorrem nas mesmas articulações em ambos os lados do corpo.
Cerca de 40% das pessoas que têm artrite reumatoide também apresentam sinais e sintomas que não envolvem as articulações. As áreas que podem ser afetadas incluem pele, olhos, pulmões, coração, rins, glândulas salivares, tecido nervoso, medula óssea e veias. Os sinais e sintomas da artrite reumatoide podem variar em gravidade e até ir e vir. Períodos de aumento da atividade da doença, chamados surtos, alternam-se com períodos de remissão relativa – quando o inchaço e a dor desaparecem. Com o tempo, a artrite reumatoide pode fazer com que as articulações se deformem e saiam do lugar.
Um levantamento realizado pelo Instituto Ipsos, a pedido da Janssen, empresa farmacêutica da Johnson & Johnson, entre o final de 2020 e o início de 2021, entrevistou 144 pessoas com diferentes doenças autoimunes, sendo que 54% do total de entrevistados com artrite reumatoide relataram uma peregrinação por quatro ou mais médicos até que a doença fosse corretamente identificada. Esse é só um dos desafios do paciente.
O especialista responsável pelo tratamento da AR é o reumatologista, peça fundamental na jornada do paciente, o que já derruba um dos mitos que rondam a doença, como o de que este especialista cuida apenas de idosos. Outro mito a ser derrubado é de que a AR é doença de pessoas idosas. A prevalência da doença é de duas a três vezes maior nas mulheres e os primeiros sintomas costumam se manifestar entre os 30 e os 40 anos. Esses mitos podem desafiar o paciente na busca pelo diagnóstico precoce, o tratamento adequado e a conquista por mais qualidade de vida, sem dor. A seguir, conheça 15 deles:
Artrite e artrose são doenças diferentes, mas os sintomas são parecidos e ambas afetam as nossas articulações, também chamadas de juntas. São essas estruturas que fazem a conexão entre os ossos do corpo. Na artrose ocorre um desgaste da cartilagem que fica entre os ossos, geralmente por causa do envelhecimento. Já a artrite reumatoide é uma inflamação autoimune, ou seja, o próprio organismo ataca suas articulações, causando inchaço e dores nas regiões afetadas. Qualquer pessoa pode desenvolver a doença, inclusive crianças, e as pequenas articulações, especialmente mãos e pés, costumam ser afetadas primeiro.
Os médicos consideram que o desenvolvimento da artrite reumatoide é influenciado por fatores hormonais, ambientais e imunológicos, agindo em conjunto sobre pessoas que têm uma predisposição genética para a doença. Por isso, não é raro encontrar casos de AR na mesma família, principalmente em familiares de primeiro grau, como irmãos, pais e filhos.
Nada disso. Homens também podem desenvolver a artrite reumatoide, embora a doença seja de duas a três vezes mais comum em mulheres.
Não! A incidência da doença realmente aumenta com a idade, especialmente a partir da quinta década de vida, mas os primeiros sintomas costumam surgir entre a terceira e a quarta década de vida, no auge da atividade produtiva. Existe, ainda, a artrite reumatoide juvenil, ou idiopática, que acomete pacientes antes dos 17 anos de idade.
Sim, é. Embora não seja a manifestação inicial mais frequente. A doença pode afetar qualquer articulação do corpo, mas, geralmente, os primeiros sintomas ocorrem nas mãos, punhos ou tornozelos, de forma simétrica, ou seja: afetando os dois lados do corpo. Com o tempo, muitas vezes a doença progride para joelhos, ombros, cotovelos e quadris. Mas também pode ocorrer o comprometimento de articulações da coluna.
Muitas vezes os pacientes partem em busca de terapias alternativas, deixando de lado o tratamento prescrito pelo médico e arriscando a saúde. Dietas, massagens e substâncias homeopáticas são muito buscadas, mas as sociedades médicas apontam que faltam estudos científicos sobre a segurança e a eficácia da maioria dessas terapias. Por isso, é importante consultar o reumatologista para todas as decisões que envolvam o manejo da AR e nunca tomar ou abandonar medicamentos por conta própria.
O médico ortopedista trata sobretudo doenças relacionadas aos ossos, como fraturas, bem como luxações, entorses e outras lesões. Muitas vezes, essas lesões são resultado de trauma físico e podem requerer intervenções cirúrgicas. Já o reumatologista cuida dos problemas inflamatórios das articulações e tecidos, que em geral são de natureza crônica e persistem por longos períodos. Diferentes doenças autoimunes fazem parte desse grupo, como a artrite reumatoide.
Sintomas que persistem por mais de seis semanas devem ser avaliados pelo reumatologista, tais como dor, inchaço e vermelhidão nas articulações, especialmente nas mãos, e dificuldade em se mexer ao acordar, durando pelo menos uma hora. O diagnóstico precoce é fundamental para preservar a saúde das articulações.
Tem, sim! A doença não tem cura, mas tem tratamento. Iniciá-lo o quanto antes é fundamental, pois grande parte do dano nas articulações tende a ocorrer nos primeiros estágios. Por outro lado, começar o tratamento nos primeiros 12 meses de sintomas, principalmente nas 12 semanas iniciais, aumenta a chance de um controle mais rápido e efetivo da doença, beneficiando a qualidade de vida. Nos últimos anos, os medicamentos biológicos revolucionaram o tratamento da AR, especialmente para casos da doença ativa moderada a grave. É importante conversar com o médico sobre todas as opções disponíveis, buscando sempre mais liberdade de movimento, com menos dor e rigidez.
Sem tratamento, a doença pode progredir rapidamente, causando danos irreversíveis nas articulações. Como consequência, o paciente acaba sofrendo limitações em diferentes áreas da vida, do trabalho à rotina pessoal, incluindo tarefas básicas, como amarrar os sapatos ou pentear os cabelos. Muitos pacientes acabam se aposentando por invalidez. Além disso, aqueles com a doença avançada podem apresentar menor sobrevida.
Achar que é normal e acostumar-se com a dor, que é o sintoma mais comum e latente da AR, é um dos maiores mitos. Isso acontece tanto com quem já teve o diagnóstico, quanto com quem ainda não foi diagnosticado. Além disso, conviver com a dor é deixar de buscar qualidade vida, arriscando a liberdade de movimento. A busca por mais vida com qualidade para o paciente também envolve o médico, que conhece o que há de mais inovador para tratar a doença e contribui para acelerar o diagnóstico.
A percepção de que a AR afeta exclusivamente idosos é um dos mitos frequentes sobre a doença, contribuindo para o atraso no diagnóstico. Os primeiros sintomas costumam se manifestar em plena idade produtiva, ameaçando a realização das atividades diárias e a vida profissional e social do paciente.
Artrite reumatoide é uma doença sistêmica, ou seja, afeta todo o corpo, ao invés de apenas um órgão ou região, e causa efeitos variados. Ela também é autoimune e outras doenças desencadeadas pelo mesmo mecanismo são mais frequentes nesses pacientes, quando comparados com quem não tem a doença. Por isso, elas também são associadas a algumas comorbidades. Por exemplo, não é raro o paciente ter artrite reumatoide e tireoidite de Hashimoto. Outra complicação comum em pacientes com artrite reumatoide são doenças que estão relacionadas a deposição de placas de gordura (colesterol) nos vasos sanguíneos.
Assim, doença coronariana, aterosclerose nas artérias carótidas, doença vascular periférica e acidente vascular cerebral (AVC), em especial o tipo isquêmico, podem ocorrer. Outras condições mais frequentes em quem tem artrite reumatoide são insuficiência cardíaca congestiva, diabetes mellitus tipo 2, osteoporose e distúrbio dos lipídios (colesterol, HDL e triglicerídeos). A presença de comorbidades nos pacientes com artrite reumatoide é importante, pois podem aumentar ainda mais a chance de um infarto do miocárdio e/ou AVC, com consequente aumento da incapacidade e mortalidade, caso estas doenças concomitantes não sejam reconhecidas e tratadas de forma adequada. Por isso, a abordagem multidisciplinar é fundamental.
O afastamento das atividades sociais, a interrupção das práticas esportivas e o abalo na vida profissional podem impactar também a saúde mental dessas pessoas. Essas informações corroboram com os achados científicos que reforçam a ligação entre a enfermidade e quadros depressivos, por exemplo. Estudos revelam que a prevalência de transtornos depressivos em portadores da doença varia entre 13% e 47%, de acordo com o tamanho e as características das populações analisadas.
Alguns trabalhos apontam que a depressão teria um efeito direto sobre as citocinas, substâncias que estimulam o processo inflamatório relacionado à artrite reumatoide. Um artigo recente, publicado no Arthritis Care & Research diz que um em cada três dos adultos americanos com artrite, com mais de 45 anos de idade, relata ter ansiedade ou depressão. O trabalho destaca que a ansiedade é quase duas vezes mais comum que a depressão entre os pacientes artríticos.
Por isso, estimular o cuidado multidisciplinar do paciente reumático, com grande atenção à saúde mental, é muito importante. Vale destacar que o transtorno mental também pode interferir na adesão ao tratamento, agravando o quadro. Também há grande impacto no trabalho. As fortes dores e a perda de autonomia interferem fortemente na vida profissional: um terço das pessoas com AR tem afastamento do trabalho nos primeiros cinco anos.
De acordo com especialistas, o tratamento com imunobiológicos é um avanço no campo da saúde para tratar as doenças autoimunes, podendo trazer mais qualidade de vida ao paciente. Em sua maioria, a administração é feita de forma segura por via intravenosa ou subcutânea. O paciente recebe a medicação em ambiente ambulatorial e pode continuar as atividades do seu dia a dia. Podemos concluir que, o diagnóstico tardio é prejudicial porque adia, por consequência, o início do tratamento, o que pode impactar fortemente o cotidiano do paciente, desde a realização das atividades mais básicas como se alimentar, se higienizar, trabalhar, até a convivência com os amigos.
Fontes: Janssen / Mayo Clinic / Thiago Ferreira da Silva, médico reumatologista
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