Baixa reserva ovariana: estoque de óvulos é sinal de alerta?

O diagnóstico é importante para planejar o futuro reprodutivo da mulher

Dr. Fernando Prado Publicado em 29/11/2022, às 10h00

Reserva ovariana é o estoque de óvulos que a mulher tem até chegar na menopausa - iStock

Nos últimos tempos, temos visto muitas pessoas conhecidas congelando óvulos e preservando a fertilidade. Entre essas pessoas, temos várias personalidades, influencers, atrizes e outras.

Não por menos, isso chama a atenção para o procedimento de preservação da fertilidade e o primeiro passo desse tratamento é justamente determinar a famosa “reserva ovariana”. Mas, o que é a tal “reserva ovariana”?

Muito simples: em termos leigos, é o estoque de óvulos que a mulher tem até chegar na menopausa.

Reserva ovariana ao nascer e ao menstruar

A mulher tem sua reserva ovariana máxima ainda antes de nascer, quando está no útero da sua mãe (na metade da gravidez), ao redor de 20 semanas. O estoque nesse ponto é máximo e em média de 7 milhões de óvulos (que chamamos de folículos primordiais).

A mudança na reserva ovariana é muito intensa ao longo dos primeiros anos de vida e, ao nascimento, ela já cai para 2 milhões de óvulos. Uma perda bastante importante e que tem a ver com a seleção natural, para deixar os melhores óvulos, os mais aptos e que podem gerar uma criança saudável. O que controla essa perda é um mecanismo muito complexo, ainda desconhecido da Medicina.

E o processo de perda progressiva continua. Na adolescência, na época da menarca (primeira menstruação), o estoque de óvulos reduz-se para apenas 500 mil. Isso mesmo: dos 7 milhões iniciais, a menina-adolescente fica com apenas 500 mil. E esses serão os óvulos úteis, a reserva até a menopausa, que acontece ao redor dos 50 anos.

Então, nesse intervalo de aproximadamente 40 anos de menstruações, a mulher vai consumir seus 500 mil óvulos. Quando a reserva acaba, chega a menopausa.

Podemos fazer um exercício aritmético simples, mas que traz um pouco da noção sobre como se dá essa seleção natural. Se a mulher na vida nunca tomasse pílula, nunca ficasse grávida ou nunca tivesse qualquer atraso menstrual, teria ao redor de 500 ciclos menstruais em todo seu período fértil. Fazendo a média, são 500 mil óvulos para 500 ciclos menstruais, ou seja, ao redor de 1.000 óvulos por menstruação.

Mas é sabido que a mulher só ovula 1 óvulo por menstruação. Então, para onde vão os outros 999? Entram em um processo chamado de “atresia" que é quando eles se atrofiam e morrem. Apenas um em cada mil por mês consegue ovular. É a seleção natural agindo para escolher o mais apto.

Como saber se a reserva está baixa?

E quando dizemos que a reserva está baixa? Existem vários critérios médicos, mas podemos citar alguns. Um deles é a chamada contagem de folículos antrais, uma medida do número de óvulos que teriam potencial de crescer naquele ciclo menstrual. É feita por ultrassom transvaginal, logo no finzinho da menstruação, quando não há nenhum folículo dominante (o que será escolhido para ovular). Se a contagem de folículos antrais for menor do que cinco, chamamos de baixa reserva.

Podemos também dosar um hormônio, chamado de hormônio anti-mülleriano (AMH). Quando o AMH é menor do que 0,5, também temos baixa reserva. Existem outros marcadores. O FSH (Hormônio Folículo Estimulante), Inibina-B, e testes de indução de ovulação são os mais comuns. Porém, perderam importância quando surgiu o AMH, que é muito mais preciso e confiável.

É importante saber como está a reserva ovariana por dois motivos principais: planejar o futuro reprodutivo (quando engravidar e quantos filhos ter) e a chegada da menopausa.

Assim, para mulheres próximas dos 35 anos, vale a pena procurar o ginecologista e saber como está sua reserva ovariana. Ao identificar uma reserva mais baixa, recomendo que pense em gravidar com brevidade ou que congele seus óvulos, deixando a decisão de ter filhos garantida para outro momento da vida mais adequado.
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