Beber quantidades moderadas de álcool todos os dias não protege de doenças do coração, nem contribui para uma vida mais longa, como muita gente acredita. Um novo estudo, que examinou a saúde e os hábitos de consumo de quase 5 milhões de pessoas, derruba de vez essas crenças.
O trabalho, publicado no Jama Network Open, ainda descobriu que consumir quantidades baixas de álcool – cerca de 25 gramas por dia para mulheres e 45 gramas, para homens podem, na verdade, aumenta o risco de morte. Para se ter uma ideia, uma taça de vinho, uma lata de cerveja ou um shot de destilado têm, em média, 14 gramas de álcool cada um.
Esta não é a primeira revisão a colocar em cheque o conceito de que um pouco de bebida alcoólica faz bem à saúde das pessoas. No ano passado, pesquisadores britânicos analisaram dados médicos e a genética de quase 400 mil pessoas e também concluíram que mesmo doses pequenas de álcool podem fazer mal.
Mas o novo estudo, por ser mais abrangente, destrói a esperança de muita gente de que o uso moderado de bebida alcoólica seja saudável, conforme declarou o psiquiatra Robert DuPont, do Instituto Nacional para estudo do Abuso de Drogas nos EUA. A nova máxima pode ser resumida como: “Beba menos e viva mais”.
A crença de que o consumo diário e moderado de álcool seria benéfico surgiu na década de 1980, quando pesquisadores identificaram o chamado “paradoxo francês”, o fato de aquele país ter taxas mais baixas de doenças cardiovasculares, apesar do consumo de gordura. A hipótese era a de que o vinho tinto teria efeito protetor.
Análises posteriores encontraram falhas nessas pesquisas iniciais. Além disso, um relatório recente apontou que 13.500 estudos sobre os benefícios do álcool tinham sido financiados direta ou indiretamente pela indústria.
A revisão atual, chamada de metanálise, analisou 107 estudos observacionais. Os resultados indicam que estimativas anteriores sobre os benefícios do consumo moderado de álcool sobre risco de morte por qualquer causa foram “significativamente” infuenciadas por falhas na forma como os estudos foram desenhados.
Um dos problemas comuns nesses estudos antigos era a falta de ajuste de fatores que poderiam ter influência nos resultados, como dieta, tabagismo e prática de exercícios por parte dos consumidores moderados de álcool. Alguns trabalhos até indicavam que bebedores têm mais saúde que abstêmios, o que pode ser explicado por um simples viés: muita gente se abstêm de beber por causa de doenças ou uso de medicamentos.
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Tatiana Pronin
Jornalista e editora do site Doutor Jairo, cobre ciência e saúde há mais de 20 anos, com forte interesse em saúde mental e ciências do comportamento. Vive em NY. Twitter: @tatianapronin