Jairo Bouer Publicado em 14/10/2019, às 16h39 - Atualizado às 23h54
Muitos jovens perdem a paciência quando os pais repetem que não se deve aceitar bebidas de estranhos. Mas o fato é que colocar álcool, sedativos ou outras drogas na bebida de alguém para obter vantagem sexual, dinheiro ou por simples diversão é uma realidade, e não uma lenda urbana, como muita gente pensa.
Pesquisadores da Universidade da Carolina do Sul, nos Estados Unidos, decidiram avaliar o fenômeno do “spiked drink” (que pode ser traduzido como “bebida batizada” ou “Boa Noite, Cinderela” por aqui) de perto. No país, uma pesquisa no Google com o termo traz milhares de links com conselhos para se evitar a cilada e até kits para detecção de drogas em drinques.
A equipe avaliou dados de mais de 6.000 estudantes de três universidades diferentes. Ao todo, 462 alunos (ou 7,8% da amostra) reportaram 539 incidentes em que teriam sido drogados ou alcoolizados contra a vontade. Desse total, 83 jovens (ou 1,4%) admitiram que já tinham “batizado” a bebida de alguém ou viram alguém fazendo isso.
As vítimas mais frequentes, segundo o estudo, foram as mulheres, em 89% dos casos. Também foram elas as que amargaram as piores consequências. Elas foram mais propensas a responder que o episódio tinha o abuso sexual como intenção, enquanto eles disseram mais que o objetivo era a simples diversão.
Os resultados foram publicados na revista Psychology of Violence, da Associação Americana de Psicologia. Os autores observam que o estudo tem algumas limitações, como o fato de que não havia como comprovar se a pessoa tinha sido mesmo vítima de uma bebida batizada, ou se ela acreditava nisso, mas, na verdade, tinha consumido um drinque mais forte do que de costume, ou ingerido algum remédio que interage com álcool. Outra questão é que muitas vítimas não se lembram do que aconteceu depois de “apagar”.
Mesmo assim, o estudo mostra que o “spike drinking” não é algo tão raro. Outros trabalhos já resultaram em números semelhantes ou até mais altos – os pesquisadores citam um, feito na Austrália, em que 25% de 805 jovens diziam ter vivenciado uma situação desse tipo. Para eles, não basta orientar possíveis vítimas, mas também possíveis autores, que podem achar a ideia divertida. Assim como ninguém pode ser obrigado a fazer sexo, todo mundo tem o direito de saber o que está consumindo. Gente pode morrer por causa de uma bebida batizada.