Uso excessivo do smartphone, falta de sono, cyberbullying e problemas de saúde mental: junte tudo isso e você terá a fórmula perfeita para levar um adolescente ao colapso. Segundo pesquisadores, essa combinação é frequente e os pais precisam ficar alertas.
Uma equipe da Universidade do Sul da Austrália entrevistou mais de 50 mil estudantes com idades entre 7 e 19 anos, para ver como anda a relação entre seus hábitos de sono e uso do celular durante a noite, experiências com cyberbullying e níveis de estresse.
Os pesquisadores descobriram que, em todos os gêneros e faixas etárias, o uso do celular durante a noite não apenas privou as crianças de sono, mas também teve um impacto negativo em sua saúde mental, especialmente entre aquelas que foram vítimas de cyberbullying. Os resultados foram publicados na revista Adolescents.
Se um hábito é a causa ou o resultado de outro ainda não está claro, mas o estudo envia um sinal claro aos pais sobre a necessidade de gerenciar o uso de dispositivos digitais em casa. Veja algumas descobertas da pesquisa:
- Aproximadamente 66% das garotas e 58% dos garotos (de 12 a 19 anos) relataram ter sofrido cyberbullying pelo menos uma vez no último trimestre escolar.
- Entre as meninas, 17% disseram que dormiam menos de oito horas por noite, e o número correspondente para os meninos adolescentes foi de 13%.
- Níveis de estresse na faixa de moderado a severo foram relatados por 38% das garotas e 23% dos garotos.
- Embora o cyberbullying e a falta de sono não fossem tão comuns entre as crianças de 7 a 11 anos, uma em cada cinco relatou estresse moderado a severo.
- Aproximadamente 15% das crianças no estudo relataram ter sofrido cyberbullying.
- Mais de um terço das crianças e mais de 60% dos adolescentes no estudo relataram usar o celular à noite, quando deveriam estar dormindo.
- Das crianças que sofreram cyberbullying, quase 75% admitiram que verificavam o celular durante a noite, em comparação com menos da metade daquelas que nunca haviam sofrido cyberbullying.
Obs: no estudo, "noite" refere-se ao uso do telefone quando as crianças deveriam estar dormindo, e não antes de ir para a cama.
A coautora do trabalho Stephanie Centofanti afirma que as meninas são particularmente vulneráveis porque o uso de smartphones à noite é maior nesse grupo do que em outros, e elas começam a usar as redes sociais em uma idade mais jovem.
“Descobrimos que a frequência do uso do telefone à noite e dormir menos de oito horas por noite não apenas atinge o pico no início da adolescência, mas também é mais evidente em meninas mais jovens”, diz a pesquisadora.
“Pré-adolescentes estão em maior risco de desenvolver distúrbios socioemocionais porque estão em uma fase de desenvolvimento na qual estão menos preparadas cognitivamente, comportamentalmente e neurobiologicamente.”
Os pesquisadores afirmam que, fora do ambiente digital, os meninos são mais propensos a sofrer bullying físico, enquanto as meninas geralmente recorrem ao bullying psicológico ou relacional, que é mais facilmente facilitado online.
A pesquisadora ressalta que os pais precisam prestar mais atenção ao gerenciamento do uso de smartphones à noite, especialmente se seus filhos forem mais vulneráveis ao cyberbullying, e garantir que seus filhos durmam o suficiente.
Tatiana Pronin
Jornalista e editora do site Doutor Jairo, cobre ciência e saúde há mais de 20 anos, com forte interesse em saúde mental e ciências do comportamento. Vive em NY e é membro da Association of Health Care Journalists. Twitter: @tatianapronin