Redação Publicado em 07/06/2021, às 14h35
Os cães receberam o título de “melhores amigos do homem” por serem incrivelmente bons interagindo com as pessoas. Mas, ao contrário do que se imaginava, essa habilidade social pode estar presente logo após o nascimento em vez de ser aprendida com o tempo.
Esse é o principal achado de uma nova pesquisa feita pela Universidade do Arizona (Estados Unidos), publicada na revista Current Biology. O estudo revelou ainda que a genética pode ajudar a explicar por que alguns cachorros apresentam um desempenho melhor do que outros em tarefas sociais, como seguir gestos de apontar.
De acordo com os pesquisadores, já havia evidências de que esse tipo de habilidade social estava presente na idade adulta, mas a análise encontrou sinais de que os filhotes – assim como os humanos – estão biologicamente preparados para interagir nas formas sociais.
Para entender melhor o papel da biologia na habilidade dos cães no momento de se comunicar com humanos, a equipe analisou como 375 cães de serviço com dois meses de idade - todos de uma organização de cachorros que atendem clientes com alguma deficiência física e que tinham pouca interação presencial com humanos – realizaram tarefas projetadas para medir suas aptidões de comunicação social.
Como os pesquisadores conheciam o pedigree de cada filhote e, portanto, o quão relacionados eles eram uns com os outros, eles também foram capazes de olhar se os genes herdados explicavam a diferença nas habilidades dos cães.
A genética esclareceu mais de 40% da variação das habilidades dos filhotes para seguir gestos de apontar, bem como a alteração da quantidade de tempo que eles se envolveram em contato visual com os humanos durante uma tarefa desenvolvida para medir o interesse pelas pessoas.
Segundo os pesquisadores, sempre houve um debate sobre até que ponto essa habilidade dos cães estava realmente presente na biologia em comparação com algo que se aprende ao interagir com humanos. A pesquisa revelou que há, definitivamente, um componente genético forte e que eles têm a capacidade de se comunicar desde o início da vida.
Vale lembrar que, na época do estudo, os filhotes ainda viviam com seus companheiros de ninhada e não tinham sido enviados para viver com um filhote voluntário. Portanto, suas interações com humanos foram limitadas, tornando improvável que os comportamentos fossem aprendidos.
Os pesquisadores engajaram os filhotes em quatro tarefas diferentes. Em uma das atividades, foi escondido um petisco sob um de dois copos virados - e a pessoa apontou para o recipiente correto com objetivo de ver se o cão poderia seguir o gesto. Para garantir que os filhotes não seguissem apenas seus narizes, uma guloseima também foi colada no interior do outro recipiente.
Na tarefa seguinte, em vez de apontar para o copo certo e indicar onde o filhote deveria procurar a comida, os cães observavam enquanto os pesquisadores colocavam um bloco amarelo ao lado do recipiente que continha o petisco.
As últimas duas atividades foram desenvolvidas para analisar a propensão dos filhotes de olhar para os rostos humanos. Em uma das missões, os pesquisadores “conversaram” com os cães em um tom de voz agudo como quando se fala com um bebê. A equipe, então, mediu quanto tempo o filhote manteve o olhar fixo no humano.
Na tarefa final, os pesquisadores colocaram um petisco dentro de um recipiente fechado e apresentaram ao cachorro. A partir disso, mediram a frequência com que ele procurou o humano para ajudá-lo a abrir o pote.
Confira:
A pesquisa mostrou que, enquanto muitos dos filhotes respondiam às pistas físicas e verbais dos humanos, poucos procuravam ajuda humana para solucionar a última tarefa. Isso sugere que, embora os cães possam nascer sabendo como responder à comunicação iniciada pelo homem, a capacidade de começar a se comunicar por conta própria pode realmente vir mais tarde.
Os pesquisadores explicam que, em estudos com cachorros adultos, existe uma tendência de eles procurarem ajuda humana, especialmente quando são comparados a lobos – que persistem e tentam resolver o problema de forma independente. No caso dos filhotes, esse comportamento de buscar ajuda ainda não parece fazer parte do seu repertório.
Para os pesquisadores, em muitos aspectos, as descobertas refletem o que é observado no desenvolvimento de crianças. Quando elas aprendem um idioma, por exemplo, são capazes de entender o que estão dizendo antes mesmo de que possam produzir fisicamente as palavras.
Dessa forma, o mesmo acontece com os filhotes: eles estão compreendendo o que está sendo transmitido socialmente para eles, mas a produção disso, provavelmente, vai levar um pouco mais de tempo em termos de desenvolvimento.
De acordo com a equipe, os achados têm grande potencial e o próximo passo é descobrir se identificar genes específicos pode contribuir para definir a capacidade dos cães de se comunicarem com humanos.
Caso seja possível reconhecer quais as características determinantes para que um cachorro seja bem sucedido como cão de serviço, existe a possibilidade de prever, mesmo antes de o filhote nascer, se ele faz parte de uma ninhada que seria boa candidata para essa função.