Apesar dos avanços obtidos nos últimos anos, ainda há muito o que ser feito
Redação Publicado em 05/02/2023, às 10h00
A cada hora, 44 adolescentes se tornam mães no país, sendo que duas dessas garotas têm entre 10 e 14 anos. Essa informação deixa claro que, apesar dos avanços obtidos nos últimos anos, ainda há muito o que ser feito, como têm ressaltado especialistas no assunto nesta Semana Nacional de Prevenção à Gravidez na Adolescência (de 1º a 7 de fevereiro).
“A questão da gravidez vinculada à violência sexual ainda preocupa muito no grupo de 10 a 14 anos de idade”, comenta a ginecologista Cláudia Salomão, presidente do Departamento de Ginecologia da Infância e Adolescência da Sociedade Mineira de Pediatria. Ela lembra que o aborto é permitido por lei a essas meninas, independente da idade.
Toda gravidez na adolescência é considerada de risco, mas é claro que, nessa faixa etária mais jovem, as questões biológicas têm um peso mais alto no índice de complicações. São casos que exigem uma assistência apropriada, com abordagem multidisciplinar. Sem contar outras questões que exigem orientação adequada, como a prevenção da anemia e da desnutrição, muito comum entre as jovens gestantes, e a importância da contracepção no pós-parto, já que a reincidência da gravidez na adolescência ainda é muito alta, segundo a especialista.
Já os problemas psicossociais ligados à gravidez na adolescência abrangem tanto meninas mais novas, quanto as mais velhas, de 15 a 19 anos de idade. “Há um índice grande de ansiedade e depressão; muitas abandonam a escola, sofrem muito bullying”, descreve a ginecologista.
O Brasil é um dos países com maior número de adolescentes que se tornam mães na América Latina, atrás apenas do Paraguai, do Equador e da Colômbia. Em 2019, foram registrados quase 420 mil partos de jovens com até 19 anos de idade, o que representou 14,7% de todos os nascimentos no país. Em 2020, foram cerca de 380 mil partos nessa faixa etária, ou 14% de todos os nascimentos.
Cláudia Salomão conta que houve uma redução expressiva nos últimos dez anos, e ainda maior durante o período pandêmico. Mas o problema ainda é um enorme desafio ao país, já que a maior parte dos casos está atrelada às classes menos favorecidas, e as famílias acabam sofrendo uma pressão ainda maior quando jovens são obrigadas a abandonar o ensino para cuidar dos filhos.
“Para garotas mais pobres, a maternidade pode se tornar um projeto de vida, uma tentativa de tentar recompor um núcleo familiar em que a garota tenha um papel definido”, observa o psiquiatra Jairo Bouer, em sua coluna no UOL esta semana. Ele lembra que é munir os jovens com informações adequadas, algo que envolve a inclusão de programas de educação sexual nas escolas, é mais urgente do que nunca.
Mas lidar com a gravidez na adolescência também envolve uma abordagem mais ampla, com medidas socioeconômicas, para que as adolescentes tenham perspectivas de futuro, com possibilidades de estudo e emprego.
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