Cães também podem ficar mais difíceis na adolescência

Quem entende de cães pode não ficar surpreso, mas um estudo traz evidências de que esses bichos também têm um comportamento típico na adolescência. Assim

Jairo Bouer Publicado em 13/05/2020, às 19h20 - Atualizado em 13/10/2020, às 15h04

-

Quem entende de cães pode não ficar surpreso, mas um estudo traz evidências de que esses bichos também têm um comportamento típico na adolescência. Assim como muitos humanos de 15 ou 16 anos, eles podem ser mais resistentes às ordens dos cuidadores nessa fase.

Pesquisadores das universidades de Newcastle e Nottingham, no Reino Unido, e de Edimburgo, na Escócia, descobriram que cães são mais propensos a ignorar comandos, e treiná-los vira um desafio aos donos, por volta dos oito meses de idade, fase em que passam pela puberdade. Assim como acontece com a gente, mudanças hormonais e cerebrais marcam a transição para a vida adulta.

O comportamento é ainda mais pronunciado nos bichos que, segundo os psicólogos, têm um “apego inseguro” com seu dono. O termo é usado para descrever indivíduos que tiveram cuidadores negligentes ou emocionalmente instáveis no início da vida, algo que, entre os humanos, também pode resultar em uma adolescência mais difícil.

Os pesquisadores ressaltam que a puberdade pode ser um período de muita vulnerabilidade para os cães. É quando deixam de ser filhotes fofinhos e passam a dar trabalho de verdade, o que torna a época propícia para abandonos. Muitos cuidadores desistem do pet ao perceber que não conseguem controlar seus latidos ou agressividade.

Para testar a hipótese, os pesquisadores primeiro monitoraram um grupo de 69 cães com idades entre cinco e oito meses. Havia labradores, golden retrievers e cruzamentos dessas duas raças. Todos demoraram mais para responder ao comando de “sentar” dos respectivos donos durante a adolescência, ou seja, aos oito meses, em comparação com o que foi registrado aos cinco meses. A resposta só melhorou com o passar do tempo quando o comando vinha de um estranho.

Então, a equipe procurou um grupo maior, com 285 labradores, golden retrievers, pastores alemães e cruzamentos dessas raças, e eles foram acompanhados dos cinco aos 12 meses. Cuidadores e treinadores pouco familiarizados com cada cão preencheram questionários para explicar como os animais respondiam ao treinamento em diferentes ocasiões. De novo, os donos deram notas mais baixas aos cães aos oito meses, mas não os treinadores.

Os pesquisadores ainda descobriram que as fêmeas com apego inseguro, que tentavam chamar mais a atenção dos cuidadores ou ficavam ansiosas ao serem separadas deles, eram mais propensas a atingir a puberdade mais cedo. Isso é curioso, pois também é observado entre seres humanos.

Os autores do estudo comentam que muitos donos de cães e treinadores já suspeitavam que o comportamento dos bichos se altera durante a puberdade. Se a tese for mesmo comprovada, pode até ampliar o conhecimento que se tem sobre a adolescência entre humanos e outros mamíferos.

Já para quem tem um cão na puberdade em casa, a mensagem dos pesquisadores é parecida com a que costuma ser transmitida para quem tem filho na adolescência: é só uma fase, vai passar! Se afastar ou reagir com agressividade pode até piorar o comportamento do seu animal de estimação.

comportamento emoções adolescência animal