Relato de caso recente chama atenção para os desafios do diagnóstico precoce da doença
Tatiana Pronin Publicado em 16/10/2022, às 09h00
Um caso recente descrito em um periódico científico no mês passado chama atenção para a dificuldade de se diagnosticar o câncer de pulmão precocemente. Uma mulher de 76 anos de New Jersey, nos EUA, procurou atendimento num hospital por causa de uma dor crônica e progressiva nos ombros. Após ser submetida a alguns exames, os médicos descobriram que ela tinha adenocarcinoma, o tipo mais comum de câncer de pulmão, em estágio avançado, e com metástases. Ela veio a falecer 25 dias depois.
Apesar de ter sido fumante no passado, a paciente não apresentava nenhum dos sintomas mais esperados para um câncer de pulmão, como tosse persistente, dor no peito ou falta de ar. Mas a verdade é que a doença não costuma causar sinais ou sintomas em estágios iniciais, o que põe os pacientes em risco, conforme explica o oncologista e cirurgião torácico Carlos Gil Ferreira, presidente do Instituto Oncoclínicas.
No Brasil, o câncer de pulmão é o terceiro mais comum em homens (17.760 casos novos/ano) e o quarto mais comum em mulheres (12.440 casos novos/ano), sem contar o câncer de pele do tipo não melanoma, segundo estimativas de 2020. É, também, o câncer que causa mais mortes, entre os homens, e o segundo, entre as mulheres, de acordo com estimativas mundiais.
“Fumantes, ou quem parou de fumar há menos de 15 anos, entre 50 – 80 anos, e que consumiram um maço de cigarro por dia durante um ano ou o equivalente a isso, devem fazer anualmente uma tomografia computadorizada de tórax com baixa dose de radiação”, explica o médico na entrevista abaixo. No entanto, ele acrescenta que o adenocarcinoma também é o tipo mais comum de câncer de pulmão em pessoas que não fumaram. E, nesse grupo, a doença tem crescido principalmente entre mulheres jovens, por algum motivo que a ciência ainda não desvendou.
Confira:
Como o câncer de pulmão pode causar uma dor que seja interpretada como sendo nos ombros? Já atendeu algum caso semelhante?
Dr. Carlos Gil Ferreira - Já atendi alguns pacientes com dores no ombro, sim. Caso haja líquido na pleura (derrame pleural) ou tumor avançado no ápice do pulmão, pode haver dor no ombro.
Quais os tipos mais comuns de câncer no pulmão?
O câncer de pulmão mais comum é o de células não pequenas (85% de todos os diagnosticados), que é subdividido em três tipos: carcinoma de células escamosas, adenocarcinoma de pulmão e carcinoma de grandes células. Ele tende a crescer e se espalhar mais lentamente do que o câncer de pulmão de pequenas células. Dentre eles, adenocarcinoma é tipo mais comum de câncer de pulmão em pessoas que nunca fumaram.
Quais os sintomas mais comuns?
O grande problema é que o câncer de pulmão normalmente não causa sinais e sintomas em seus estágios iniciais. Eles ocorrem geralmente quando a doença está avançada e podem incluir tosse persistente, tosse com sangue, falta de ar, dor no peito, rouquidão, perda de peso, dor nos ossos e dor de cabeça.
Temos alguma informação sobre queda de casos de câncer de pulmão associados à queda no tabagismo nas últimas décadas?
Alguns países já estão vendo redução dos números associados a queda do tabagismo nas últimas décadas, sobretudo em homens. Entretanto, infelizmente, vem crescendo o número de pessoas diagnosticadas com câncer de pulmão que nunca fumaram e muitas vezes nunca tiveram contato direto com fumantes. Dentro desse grupo, o número que mais cresce é o de mulheres jovens não-fumantes. Não se sabe exatamente a causa.
Quais as outras principais causas de câncer de pulmão e como se proteger delas?
De 80 a 85% dos casos estão relacionados ao tabagismo. Existem maneiras de reduzir os riscos e a principal delas é não fumar ou, no caso de fumantes, procurar ajuda para parar de fumar. Também é importante limitar a exposição ao fumo passivo, porque não fumantes expostos ao fumo passivo em casa ou no trabalho aumentam o risco de desenvolver câncer de pulmão em 20 a 30%.
Se a doença é silenciosa nos primeiros estágios, existem iniciativas de rastreamento? Como isso deve ou deveria ser feito?
O rastreamento do câncer de pulmão é extremamente importante e é realizado para diagnosticar a doença em pessoas assintomáticas, consideradas de alto risco para desenvolver um tumor pulmonar. Há estudos que comprovam que o rastreamento feito em base populacional reduz a mortalidade de câncer de pulmão. Contudo, a implementação global dessa estratégia vem ocorrendo de forma mais lenta que o esperado. O Brasil, por exemplo, não tem estratégias para rastreamento de câncer de pulmão nem no setor púbico, nem no privado.
E quais pessoas podem ser consideradas com alto risco?
Fumantes, ou quem parou de fumar há menos de 15 anos, entre 50 – 80 anos, e que consumiram um maço de cigarro por dia durante um ano ou o equivalente a isso, devem fazer anualmente uma tomografia computadorizada de tórax com baixa dose de radiação. Um tipo de tomografia que utiliza pouca radiação, mas que identifica lesões pulmonares que podem ser câncer.
O objetivo é identificar o câncer de pulmão em estágios iniciais, que são curáveis, na grande maioria das vezes. O benefício é alto e pode aumentar significativamente as chances de cura do câncer de pulmão. Portanto, é muito importante que fumantes e ex-fumantes procurem orientação médica para que seja avaliada a necessidade de realizar o exame de rastreamento.
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