Jairo Bouer Publicado em 14/10/2019, às 16h27 - Atualizado às 23h56
Um estudo norte-americano comprova que os comerciais de comida na TV estimulam o cérebro de adolescentes com excesso de peso de forma mais intensa que o de jovens com peso normal. As propagandas afetariam regiões ligadas ao prazer, ao paladar e também à boca, fazendo com que os telespectadores simulem mentalmente que estão consumindo o alimento e, assim, assimilem com mais facilidade hábitos pouco saudáveis.
De acordo com a pesquisa, publicada na revista científica Cerebral Cortex, por causa dessa interferência tão completa e poderosa, os hábitos adquiridos por influência da TV podem dificultar a perda de peso na idade adulta.
A prevalência da obesidade tem aumentado nas últimas décadas, e vários estudos já associaram o número mais alto de programas de TV assimilados durante a infância ao risco mais elevado de obesidade.
Com ajuda de exames de ressonância magnética funcional, pesquisadores da Universidade de Dartmouth examinaram as respostas dos cérebros de alguns adolescentes com peso saudável e de outros com sobrepeso, todos na faixa de 12 a 16 anos. Eles foram expostos a 20 comerciais, sendo parte de fast food e a outra parcela, de itens que não tinham a ver com alimentação. Os filmes eram inseridos no meio de programas dirigidos para jovens, para que ninguém percebesse o propósito do estudo.
Os resultados mostraram que todos os jovens apresentaram uma ativação mais forte de áreas do cérebro ligadas a recompensa, atenção e foco durante a exibição de comerciais de alimentos em relação às outras propagandas.
Além disso, os adolescentes com maior concentração de gordura corporal apresentaram maior atividade relacionada a recompensa e percepção de sabor do que os jovens com peso saudável. Essa área envolve a liberação de dopamina e outros neurotransmissores ligados ao prazer, o que pode levar a um comportamento viciante.
A descoberta mais surpreendente, segundo os pesquisadores, foi que os comerciais de fast food também ativaram a região cerebral ligada ao controle da boca nos adolescentes com excesso de peso. Isso significa que os jovens provavelmente simulam mentalmente, mesmo sem perceber, que estão comendo os alimentos mostrados na TV. Isso é algo que acaba sendo aprendido – e se transforma em um hábito.
Os autores explicam que crianças e adolescentes assistem a uma média de 13 comerciais de alimentos por dia nos EUA, número que não deve ser muito diferente do registrado no Brasil. Por isso, é importante entender como esse conteúdo é absorvido por eles.
Os pesquisadores acrescentam que estratégias de intervenção para combater a obesidade poderiam utilizar esse “mecanismo de ação” dos comerciais para o bem, já que, para emagrecer, não basta suprimir a vontade de comer algo tentador, é preciso também incentivar o desejo de consumir alimentos saudáveis.