Cérebro dos solitários muda diante de situações sociais, mostra estudo

Nessas ocasiões, eles tendem a entrar em um estado de vigilância e tornam-se mais sensíveis a críticas, por exemplo

Jairo Bouer Publicado em 14/10/2019, às 16h30 - Atualizado às 23h56

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Todos nós podemos nos sentir rejeitados ou solitários de vez em quando. Mas o isolamento crônico pode provocar alterações no cérebro que fazem o mecanismo de alerta disparar toda vez que a pessoa entra em contato com um estranho, segundo estudo publicado na revista científica Cortex.

De acordo com a pesquisa, solitários crônicos teriam um cérebro um pouco diferente dos não solitários por causa disto. O isolamento faria o cérebro entrar no “modo de autopreservação”, digamos assim. E isso tornaria a pessoa mais defensiva diante de uma suposta ameaça social. Assim, esses indivíduos se tornam bem mais sensíveis a críticas e tendem a ignorar elogios.

O casal de pesquisadores Stephanie e John Cacioppo, em parceria com Stephen Balogh, da Universidade de Chicago, distribuíram questionários para 38 pessoas que se consideravam muito solitárias, e para 32 que não se sentiam assim.  Todos eles passaram por um exame minucioso de eletroencefalografia, a fim de medir alterações imediatas na atividade cerebral. E, durante o teste, os participantes eram submetidos a palavras positivas, como “pertencer” e “festa”, assim como negativas, como “sozinho” ou “solitário”, e ainda a palavras positivas e negativas sem conotação social, como “alegria” e “tristeza”. A rapidez da exposição impedia que as pessoas parassem para pensar no significado das palavras.

Os pesquisadores analisaram as ondas cerebrais dos voluntários e anotaram as mudanças de padrão. Diante das palavras negativas ligadas ao social, os solitários tinham ativadas áreas cerebrais envolvidas no controle da atenção, ou seja, eles entravam em um estado de vigilância. E conseguiam, inclusive, diferenciar as palavras negativas com conotação social das genéricas, apesar da rapidez do teste.

Os resultados condizem com os obtidos em estudos anteriores. Em um deles, feito em 2009, com escaneamento cerebral, mostrou que os solitários apresentam maior atividade diante de imagens de pessoas estressadas.

Os pesquisadores reforçam que, ainda que uma pessoa tenha milhares de seguidores no Facebook, ela pode se sentir solitária e se isolar socialmente, o que quase sempre traz consequências negativas. Somos seres sociais, e precisamos de relacionamentos para ter bem-estar e até saúde.

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