O suor é um fluido natural do corpo humano e sua principal função é regular a temperatura corporal. Assim, quando nosso corpo está mais quente, as glândulas sudoríparas, que podem ser do tipo écrinas ou apócrinas, produzem e eliminam o suor por meio dos poros para que ele consiga “refrescar” o corpo e então reduzir a temperatura. O suor é composto basicamente por água e sais e não tem cheiro, mas em algumas situações ele pode ter um odor nada agradável: o cecê.
Tecnicamente chamado de bromidrose, o cecê é causado por bactérias que decompõem a secreção das glândulas sudoríparas. Quanto maior a quantidade de suor produzida pelo corpo, mais suscetível à bromidrose ele fica e por isso ela é mais frequente no verão e entre pessoas que utilizam muita força muscular (como na academia e no trabalho). Além disso, a bromidrose acomete especialmente adolescentes em razão das mudanças corporais típicas dessa fase da vida. Isso porque as glândulas sudoríparas apócrinas atuam principalmente durante a puberdade e, por estarem próximas aos folículos pilosos (onde crescem os pelos), junto do suor também são eliminados ácidos graxos e proteínas, que favorecem a proliferação das bactérias que causam o mau cheiro.
“A bromidrose também pode ser agravada pela má higiene e por algumas condições que promovem o aumento da população bacteriana, como diabetes, obesidade e fatores genéticos. Além disso, pode ser intensificada pela ingestão de certos alimentos, como alho, cebola, curry e álcool”, explica Mariana Murad, dermatologista e membra titular da Sociedade Brasileira de Dermatologia. “Geralmente ela acomete as axilas, mas também pode ocorrer na região genital e nos pés”, completa.
Mariana destaca que por ser uma condição comum, ela muitas vezes não é diagnosticada e também não recebe o tratamento clínico devido. “Apesar de não ser uma doença grave, apresenta elevado impacto psicossocial, comprometendo a qualidade de vida do paciente”, destaca a especialista.
Confira:
O cecê tem cura e é fundamental a avaliação por médico para que possa direcionar o tratamento conforme a gravidade e o impacto da doença na vida de cada pessoa. “O tratamento básico é feito com a melhora da higiene pessoal e o uso de produtos antissépticos e antiperspirantes, aqueles para controle do excesso de suor. Já o tratamento específico pode ser realizado com o uso de antibióticos tópicos, laser, toxina botulínica e, em casos mais graves e de difícil controle, por meio de cirurgia”, detalha Mariana.
A dermatologista ainda relata que os desodorante são elaborados para neutralizar o odor, diferentemente dos antiperspirantes (ou antitranspirantes), que geralmente têm hidróxido de alumínio e agem bloqueando a produção sebácea geralmente. “Alguns desodorantes do muitos desses associam tanto o controle do odor com o controle da transpiração, mas esses costumam ser mais caros do que desodorantes convencionais”.
O uso de sabonetes antissépticos, apesar de fazer parte do tratamento, tem algumas restrições, como explica a especialista. “Eles contêm alguns ativos que reduzem a microbiota bacteriana e com isso diminuem a chance de causar odor. Mas esse tipo de produto não deve ser usado por muito tempo, num primeiro aspecto, porque ressecam bastante a pele. Além disso, por destruir a microbiota bacteriana, pode haver o crescimento de fungos ou outros microrganismos, já que as bactérias também controlam o crescimento destes”. Assim, após o uso inicial de sabonetes antissépticos, o ideal é manter o tratamento com os antitranspirantes, ou conforme a necessidade de cada caso.
Além disso, algumas medidas gerais podem ajudar a evitar o mau cheiro, e não apenas nas axilas:
1. Tomar banho: a higiene é fundamental e pode ser feita com sabonetes neutros. Dê atenção especial às regiões com mais glândulas apócrinas, como axilas, mamas, virilhas e pés.
2. Secar-se adequadamente: como as bactérias que causam o mau cheiro se proliferam sobretudo em regiões úmidas do corpo, é necessário que após tomar banho você também se seque muito bem, incluindo a região genital, as axilas e entre os dedos dos pés.
3. Aparar pelos ou depilação: os pelos podem favorecer o acúmulo de umidade e, então, a proliferação bacteriana. Neste sentido, um estudo evidenciou que a depilação pode reduzir a bromidrose.
4. Utilizar tecidos leves: ao escolher roupas, dê preferência por tecidos que permitem que o suor da pele seja eliminado, como algodão, linho e tecidos tecnológicos como dry-fit e clima cool.
5. Trocar roupas diariamente: ainda que o tecido seja leve e que você transpire pouco, partículas de suor podem se acumular nos tecidos e favorecer o surgimento do odor. Assim, troque de roupas íntimas diariamente e, sendo possível, troque também as roupas de uso cotidiano .
6. Revezar o uso dos calçados: ao usar um calçado num dia, deixe-o em lugar arejado no dia seguinte e utilize outro par se for possível. Intercalar o uso de calçados diariamente permite que o suor deles seja eliminado, evitando que acumulem mau cheiro e causem o famoso chulé (ou bromidrose plantar). Também opte por calçados que permitem que os suor dos pés sejam eliminados durante o uso e evite meias de material sintético.
7. Reduzir o estresse: ao reduzir a carga estressora, você pode evitar o excesso de transpiração, já que as glândulas sudoríparas são induzidas a produzir mais suor pelo estresse.
*Leo Fávaro é acadêmico de Medicina da Universidade Federal do Espírito Santo
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Léo Fávaro
Ex-advogado, jornalista e, atualmente, acadêmico de Medicina da Universidade Federal do Espírito Santo. Escreveu por bastante tempo sobre música, cultura pop e moda, e atualmente se dedica a escrever sobre saúde. Está nas redes sociais como @leofavaro