Jairo Bouer Publicado em 04/03/2020, às 12h50 - Atualizado em 09/03/2020, às 13h05
A chegada de uma criança na família é sempre motivo de muita alegria e emoção. Mas, para quem já sofre com o receio constante de perder o parceiro, o bebê pode gerar um certo ciúme, como mostram diversas pesquisas com pais e mães de primeira viagem.
Um estudo realizado na Universidade do Estado de Ohio, nos EUA, confirmou que, para casais que já enfrentam o medo de rejeição de uma das partes, a atenção despertada pelo primeiro filho gera emoções negativas e até um certo estresse no relacionamento. Isso numa fase que já é um pouco estressante por natureza, já que envolve uma nova rotina e noites mal dormidas.
O trabalho, assinado pela pesquisadora Anna Olsavsky, analisou dados de um projeto de longo prazo, chamado Novos Pais, que acompanha a trajetória de 182 casais para descobrir como homens e mulheres se ajustam à essa nova realidade, que é virar pai ou mãe. Por que estudar esse assunto? Porque muitos casais relatam uma queda no nível de satisfação com o relacionamento após o nascimento do bebê. E, para os pesquisadores de Ohio, a questão do ciúme pode ser um fator importante nessa equação.
O atual estudo descobriu que o declínio na satisfação do casal é maior quando ambos – pai e mãe – ficam enciumados com o excesso de atenção que o(a) parceiro(a) dá para o bebê. A conclusão foi obtida a partir da análise de questionários preenchidos pelos casais durante o terceiro mês de gravidez e, mais tarde, três meses após o nascimento do bebê. Os resultados foram publicados no Journal of Social and Personal Relationship.
Os especialistas chamam de “apego ansioso” a tendência que algumas pessoas têm de sentir receio constante de perder o parceiro, ciúmes e ansiedade diante de qualquer sinal de possível rejeição. Mas os pesquisadores descobriram que esses indivíduos ansiosos não são os únicos a sofrer com a chegada do bebê. Os respectivos parceiros também ficam assustados ao deixar de receber toda aquela atenção extra dedicada a eles antes do nascimento da criança.
Sentir ciúme do próprio filho pode ser algo difícil de se admitir, mas é algo humano. Fazer de conta que o sentimento não existe pode ser até pior, porque atrapalha a comunicação do casal. A pesquisa chama atenção para a importância de se refletir sobre o estilo de relacionamento antes de ter o primeiro filho. Existem livros e programas específicos para casais “grávidos”, e conversar com quem passou pela experiência é sempre bom. Ter consciência da possibilidade de sentir ciúme da criança pode ajudar futuros pais e mães a lidar com as emoções de maneira mais construtiva, e a família inteira vai ganhar com isso.