Estrangulamento é a principal causa de morte em práticas consensuais de BDSM
Redação Publicado em 10/04/2025, às 10h00
Cerca de 50% dos jovens australianos já praticaram estrangulamento, ou "choking", durante o sexo, segundo um estudo. Essa prática envolve uma pessoa aplicando pressão no pescoço de outra, restringindo a respiração ou o fluxo sanguíneo (ou ambos).
O estrangulamento durante o sexo envolve uma série de riscos, que vão desde hematomas e vômitos até lesões cerebrais e morte. E, apesar de raro, é a principal causa de morte em práticas consensuais de BDSM (sigla para "bondage, disciplina, dominação, submissão, sadismo e masoquismo"), alertam as pesquisadoras Heather Douglas, da Universidade de Melbourne, e Leah Sharman, da Universidade de Queensland, na Austrália.
Elas explicam que não há evidências de que exista uma forma segura de realizar o estrangulamento. A prática pode causar lesões sem deixar marcas visíveis, e, às vezes, as consequências negativas só aparecem bem depois do episódio de asfixia.
Em um artigo recente no site The Conversation, as pesquisadoras relatam os resultados de um estudo que fizeram sobre o tema. O assunto é delicado, mas muito importante de ser discutido.
Elas descobriram que parte do motivo pelo qual o estrangulamento durante o sexo é tão comum pode ser porque muitas pessoas acreditam, erroneamente, que, apesar dos riscos, ele pode ser seguro se houver moderação na pressão e comunicação adequada.
No entanto, interromper o fluxo sanguíneo para o cérebro pode exigir menos força do que a necessária para abrir uma lata de refrigerante. E pesquisas mostram que o estrangulamento pode causar danos sérios mesmo quando é consensual.
Em 2023, elas entrevistaram uma amostra representativa de 4.702 australianos com idades entre 18 e 35 anos sobre suas experiências e opiniões sobre estrangulamento durante o sexo.
Em 2024, elas publicaram um estudo sobre a prevalência do estrangulamento sexual com base nos resultados dessa pesquisa. Segundo os resultados, 57% dos participantes relataram já terem sido estrangulados durante o sexo, e 51% já haviam estrangulado um parceiro.
Já no estudo atual, elas também buscaram entender as percepções das pessoas sobre o estrangulamento sexual. Mais de 1.500 participantes comentaram sobre questões relacionadas à segurança em suas respostas, que depois foram analisadas.
Para elas, preocupa o fato de que muitos participantes pareciam acreditar que o estrangulamento sexual pode ser feito de forma segura. A percepção mais comum era de que seria seguro quando a pressão aplicada nos lados do pescoço fosse baixa.
Um participante, homem heterossexual de 31 anos, disse: "Minha parceira gosta de uma mão firme no pescoço, mas não a ponto de cortar a respiração, e sim de restringir levemente o fluxo sanguíneo quando ela sente o orgasmo chegando".
Uma mulher heterossexual de 24 anos comentou: "Acho que deveria haver uma conversa antes sobre o quão forte e quanta pressão será usada".
Alguns participantes sugeriram que era mais seguro bloquear o fluxo sanguíneo do que o de oxigênio. No entanto, restringir o fluxo sanguíneo para o cérebro também pode ter sérias implicações para a saúde, segundo as pesquisadoras.
Embora nem toda pressão no pescoço seja fatal, pesquisas mostram que até pressões relativamente baixas podem causar morte por estrangulamento.
Além disso, se a pessoa que realiza ou recebe o estrangulamento estiver sob efeito de álcool ou outras drogas, pode haver mais dificuldade em perceber a força aplicada, aumentando os riscos para quem está sendo estrangulado.
Os participantes também associaram a segurança – seja emocional ou física – ao consentimento no estrangulamento sexual. Como escreveu uma mulher heterossexual de 32 anos: "Se for entre dois adultos que discutiram previamente e têm um plano de segurança, então não vejo problema no ato. No entanto, já fui submetida a estrangulamento não consensual em uma relação sexual anterior e isso me deixou com raiva e assustada".
De forma geral, o consentimento foi visto como um processo contínuo, que pode ser retirado a qualquer momento. Um homem heterossexual de 32 anos comentou: "Deve ser estritamente baseado no consenso, fique atento à linguagem corporal e respiração do seu parceiro e pergunte se ele quer continuar com a atividade; se disser não, respeite e pare".
No entanto, pesquisas mostram que a pessoa estrangulada pode não conseguir retirar o consentimento com gestos ou palavras, mesmo querendo.
Vários participantes também comentaram sobre as limitações do consentimento como forma de reduzir danos, reconhecendo que, mesmo quando consensual, o estrangulamento durante o sexo pode causar danos.
Alguns participantes demonstraram preocupação com o fato de que o consentimento muitas vezes é ignorado, intencionalmente ou não. Uma mulher heterossexual de 35 anos disse: "A quantidade de homens que simplesmente iniciam isso sem perguntar à mulher é assustadora, e eles se sentem no direito de fazer isso".
Alguns participantes – geralmente mulheres, mas nem sempre – relataram sentir pressão para praticar o estrangulamento (tanto para serem estranguladas quanto para estrangular o parceiro). Um homem heterossexual de 24 anos disse: "Fico com medo de fazer isso, mas minha parceira meio que me faz sentir que às vezes eu tenho que fazer".
Estudos de outros países também demonstram uma compreensão equivocada dos perigos potenciais do estrangulamento sexual, e uma falsa percepção de que ele pode ser seguro se realizado com “precauções adequadas”.
Pesquisas anteriores mostraram que os jovens geralmente aprendem sobre o estrangulamento sexual por meio da pornografia online, redes sociais e entre si. As informações desses meios muitas vezes são enganosas.
É importante destacar que, embora o consentimento seja uma parte essencial de qualquer atividade sexual, ele não torna o estrangulamento seguro. Tampouco confiar na regulação da pressão aplicada.
Muitos participantes da pesquisa australiana expressaram desejo por mais informações sobre estrangulamento sexual. Por isso, as pesquisadoras concluem que informações precisas sobre os riscos associados à prática deveriam estar facilmente disponíveis, tanto online quanto por meio de campanhas de saúde pública.
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