Jairo Bouer Publicado em 14/10/2019, às 16h43 - Atualizado às 23h54
Nas últimas décadas, o mundo voltou a sofrer com uma doença sexualmente transmissível (DST) com mais de 500 anos, que havia sido controlada com a descoberta da penicilina: a sífilis. Entender por que isso aconteceu é algo importante para combater a doença, por isso pesquisadores têm utilizado técnicas avançadas de análise de DNA para estudar essa bactéria.
Uma equipe da Universidade de Zurique, na Suíça, descobriu que as cepas modernas de sífilis têm como ancestral comum uma estirpe que existia por volta de 1.700. Além disso, os cientistas constataram que as cepas que dominam as infecções, hoje em dia, vêm de uma pandemia que surgiu após 1950. A má notícia é que elas trazem consigo a resistência ao antibiótico azitromicina, o tratamento que tornou-se a opção à penicilina.
De acordo com os autores do trabalho, publicado na Nature Microbiology, pouco se sabia sobre a origem evolutiva da doença, pois as amostras dos pacientes contêm pequenas quantidades de DNA, e o patógeno é difícil de ser cultivado em laboratório. Graças a técnicas de captura e sequenciamento genético, tem sido possível obter amostras de DNA antigo.
A equipe coletou 70 amostras de 13 centros espalhados pelo mundo para fazer a análise. Apesar da resistência à azitromicina, a boa notícia é que, até agora, não foram detectadas cepas resistentes à penicilina, a primeira linha de antibióticos para o tratamento da sífilis. Vale lembrar que outra DST comum, a gonorreia, tem gerado preocupação depois do registro de alguns surtos de bactérias multirresistentes.
O retorno da sífilis tornou-se um problema de saúde pública mundial: mais de 10 milhões de casos são relatados praticamente todo ano. No Brasil, apenas a sífilis congênita, aquela que é passada de mãe para filho, é notificada obrigatoriamente pelas instituições de saúde. De 2010 a 2015, a taxa de infecção aumentou de 2,4 para 6,5 para cada 1.000 bebês nascidos vivos. Entre gestantes, o aumento foi ainda mais expressivo: de 3,7 para 11,2 a cada 1.000 nascidos vivos.