Segundo pesquisa, a duração do sono diurno triplica após o diagnóstico de Alzheimer
Redação Publicado em 17/03/2022, às 16h00
Tirar um cochilo durante o dia é um hábito comum do processo de envelhecimento, mas também pode prever a doença de Alzheimer e outras demências em idosos. É o que indica um novo estudo realizado pela Universidade da Califórnia (Estados Unidos), publicado no Alzheimer e Demência: The Journal of the Alzheimer's Association.
Os resultados mostram que, uma vez diagnosticada a demência ou o comprometimento cognitivo leve, a frequência e/ou duração da soneca diurna acelera rapidamente.
Para os pesquisadores, as descobertas sugerem que a demência pode afetar os neurônios responsáveis pelo ciclo do sono em áreas-chave do cérebro humano.
A relação entre cochilos diurnos excessivos e demência permaneceu mesmo após o ajuste de quantidade e qualidade do sono noturno, mostrando que ter uma soneca durante o dia tem um papel importante independente do sono da noite.
No estudo, a equipe rastreou dados de 1.401 idosos, acompanhados por 14 anos e que tinham uma idade média de 81 anos. Metade era composta por mulheres e todos utilizavam dispositivos semelhantes a um relógio para acompanhar a sua mobilidade. Cada período prolongado sem atividade entre nove da manhã e sete da noite foi interpretado como um cochilo.
O dispositivo foi usado de forma contínua, todos os anos, por até 14 dias e, uma vez por ano, cada participante era submetido a uma bateria de exames neuropsicológicos para avaliar a cognição.
No início do estudo, 75,7% das pessoas não apresentavam nenhum tipo de comprometimento cognitivo, enquanto 19,5% tinham um quadro de comprometimento cognitivo leve e 4,1% conviviam com o Alzheimer.
Para os participantes que não desenvolveram comprometimento cognitivo, o cochilo diurno diário aumentou em média 11 minutos por ano. Essa taxa dobrou após um diagnóstico de comprometimento cognitivo leve para um total de 24 minutos e foi para 68 minutos após um diagnóstico da doença de Alzheimer.
Confira:
Segundo os dados, 24% dos participantes que tinham cognição normal no início do estudo desenvolveram o Alzheimer seis anos depois. Quando estes foram comparados aos que a cognição se manteve estável, a equipe encontrou algumas diferenças nos hábitos de cochilo.
Os indivíduos que cochilavam mais de uma hora por dia tinham um risco 40% maior de desenvolver Alzheimer. Além disso, os participantes que cochilavam pelo menos uma vez por dia tinham um risco 40% maior de apresentar a doença do que aqueles que cochilavam menos de uma vez por dia.
Os pesquisadores explicam que a pesquisa confirma os resultados de um outro estudo de 2019, que encontrou em homens mais velhos que cochilavam duas horas por dia maiores chances de desenvolver comprometimento cognitivo em comparação a pessoas que tiravam sonecas menores do que 30 minutos.
De acordo com a equipe, o aumento do cochilo pode ser explicado por uma outra pesquisa da Universidade da Califórnia publicada em 2019, na qual foram comparados os cérebros pós-morte de pessoas com Alzheimer com aqueles sem comprometimento cognitivo.
Segundo os achados, os indivíduos com Alzheimer foram encontrados com menos neurônios promotores do ciclo do sono em três regiões cerebrais. Essas alterações neuronais parecem estar ligadas aos emaranhados de tau, uma marca registrada da doença de Alzheimer, caracterizada pelo aumento da atividade de enzimas que fazem com que essa proteína (tau) se agrupe.
Apesar dos dados, os pesquisadores alertam que ainda é cedo para tirar conclusões sobre uma relação causal, ou seja, que é o cochilo em si que provoca o envelhecimento cognitivo. Porém, parece que cochilos diurnos excessivos podem ser um sinal de envelhecimento acelerado ou processo de envelhecimento cognitivo.
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