Você sofre muito quando fica menstruada? É difícil encontrar alguma mulher que não se queixa de cólicas ou desconforto nessa fase do mês. Mas essa dor não
Jairo Bouer Publicado em 04/02/2020, às 18h56
Você sofre muito quando fica menstruada? É difícil encontrar alguma mulher que não se queixa de cólicas ou desconforto nessa fase do mês. Mas essa dor não deve ser incapacitante. Quem não consegue realizar atividades diárias por causa do problema deve buscar ajuda, e isso inclui as adolescentes, que muitas vezes ouvem de outras pessoas que “é assim mesmo e não há nada que se possa fazer”.
Um estudo recente publicado no periódico Journal of Women`s Health indica que 71% das mulheres jovens sofrem com dismenorreia, o termo médico usado para designar as dores menstruais. Além disso, uma em cinco delas perde aulas por causa do problema, e 41% relatam perda de concentração e desempenho nas atividades acadêmicas.
Os números foram obtidos por pesquisadores da Universidade do Oeste de Sydney, na Austrália, a partir da análise de 21.573 mulheres de diferentes países. A equipe encontrou proporções semelhantes independente da localização e do status socioeconômico das jovens.
Um estudo nacional, realizado há alguns anos pela empresa Medinsight, trouxe dados parecidos. Segundo eles, 65% das brasileiras sofrem de dismenorreia e 70% experimentam queda de produtividade durante a menstruação. Outras manifestações relatadas foram: cansaço maior que o habitual nesse período (60%), inchaço nas pernas ou enjoo (51%), dor de cabeça (46%), e diarreia (15,5%).
Todos esses sintomas são provocados pela liberação de prostaglandinas, substâncias produzidas durante a ovulação que fazem o útero se contrair e eliminar o sangue durante a menstruação. A sensibilidade às prostaglandinas pode variar muito entre as mulheres, por isso algumas podem ter mais dores, enquanto outras também sofrem com problemas gastrointestinais.
Jovens com sangramento excessivo também devem ser acompanhadas de perto pelo ginecologista. É preciso checar se há presença de anemia, por causa da perda de sangue, e descartar a possibilidade de outros distúrbios hemorrágicos que costumam se manifestar na adolescência. A presença de miomas (tumores benignos) no útero também pode ser causa de dores e sangramentos.
A endometriose é outra doença ginecológica que pode levar a dores incapacitantes e sangramentos fortes. Nessas pacientes, há crescimento do tecido que reveste o interior do útero fora da cavidade uterina, ou seja, nos órgãos que ficam ao redor, como intestino, bexiga, ovários ou trompas. Estimativas indicam que entre 10 a 15% das mulheres em idade reprodutiva podem desenvolver a doença, que tem início já na primeira menstruação.
Uma das principais consequências da endometriose é a infertilidade. Infelizmente, esse acaba sendo o motivo que leva muitas pacientes ao diagnóstico, após anos e mais anos de dores e desconforto. Quanto mais cedo o problema é descoberto e tratado, maiores são as chances de sucesso no tratamento. Além das cólicas menstruais intensas, pode haver dor pélvica em outros dias do mês e/ou durante as relações sexuais, fadiga e alterações intestinais ou urinárias durante a menstruação.
Vale ressaltar que a dor menstrual intensa ainda pode não ser causada por nenhuma doença – nesse caso, é classificada como dismenorreia primária. O tratamento costuma envolver anti-inflamatórios, que devem ser tomados já no primeiro sinal de desconforto e durante toda a menstruação. Outra opção é o uso de anticoncepcionais hormonais, que interrompem a ovulação e, portanto, a produção de prostaglandinas. Vários estudos também sugerem que a atividade física ajuda muito no controle da dor, por mais difícil que pareça.