Ao se apresentar num aplicativo de encontro, a maioria das pessoas descreve todas as qualidades e interesses que as fazem parecer especiais, como valores, crenças, hobbies, filmes e músicas favoritas. Mas um estudo mostra que quase todo mundo deixa de fora o mais importante de tudo.
Segundo o trabalho, o que as pessoas mais querem num relacionamento é sentir que são conhecidas, compreendidas e apoiadas. E, de acordo com a autora do trabalho, a pesquisadora Juliana Schroeder, da Universidade da Califórnia, nos EUA, isso vale não apenas para relações românticas, mas também nas conexões com amigos, vizinhos, familiares e colegas de trabalho.
"Claro, as pessoas dizem que querem conhecer e apoiar seu parceiro", diz Schroeder. "Mas isso não é realmente o que as deixa mais felizes em seus relacionamentos. As pessoas se sentem mais felizes quando sentem que estão sendo apoiadas – e, para isso, elas têm que ser conhecidas." Mas o que a maioria das pessoas faz, num perfil de aplicativo, é falar de si mesmas, e não expressar o desejo de conhecer alguém a fundo.
O projeto da pesquisa começou há uma década, quando Schroeder e a colega Ayelet Fishbach, da Universidade de Chicago, descobriram que os pacientes querem que seus médicos não tenham emoções próprias para que possam atendê-los melhor e sentir sua dor. Após chegar a essa conclusão, a dupla decidiu investigar se esse seria um fenômeno mais generalizado.
Em um conjunto inicial de experimentos, publicados no Journal of Experimental Social Psychology, as pesquisadoras pediram aos participantes que avaliassem quão bem acreditavam conhecer um membro da família, parceiro ou amigo, em comparação com quão bem essas pessoas as conheciam.
"As pessoas acham que são únicas, especiais, e têm muita complexidade, então [elas acham] que outras pessoas simplesmente não conhecem seu verdadeiro eu", explica Schroeder. Por outro lado, ao saber uma ou outra coisa sobre alguém, as pessoas logo concluem que conhecem bem o outro.
A pesquisa mostra que, ao avaliar uma relação, o que mais importa é saber o quanto a outra pessoa nos conhece, e não o quanto conhecemos a outra pessoa. Em outras palavras, é tão raro sentir que alguém realmente nos conhece, que as pessoas valorizam muito isso em seus relacionamentos afetivos.
Em outro estudo, participantes tinham que imaginar dois cenários em que se encontraram com um conhecido em uma festa. No primeiro cenário, o participante esquecia o nome da outra pessoa. No segundo, a pessoa esquecia o nome do participante. Claro que a segunda situação foi muito pior: os participantes sentiam como se aquele relacionamento tivesse acabado!
Ao aplicar esses conceitos para perfis de aplicativos de encontros, Schroeder e Fishbach recrutaram uma equipe de assistentes de pesquisa para examinar perfis do Match.com e Coffee Meets Bagel, dois sites de namoro online norte-americanos.
Com base nas declarações nos perfis, eles perceberam que mais de 50% dos usuários queriam ser conhecidos por um potencial parceiro, enquanto apenas cerca de 20% expressaram o desejo de conhecer seu potencial parceiro.
Eles, então, pediram a dezenas de participantes para escreverem seus próprios perfis, enfatizando se queriam ser conhecidos ou conhecer a outra pessoa. Depois, pediram a mais de 250 outras pessoas para avaliarem esses perfis em uma escala de 1 a 7, de acordo com o quanto os achavam atraentes e o quanto gostariam de entrar em contato com aquelas pessoas.
Resultado? Você já deve imaginar....Os avaliadores preferiam aqueles que enfatizavam o desejo de conhecer a outra pessoa.
Essas descobertas podem ser úteis para alguém que quer melhorar suas chances de chamar atenção num site ou aplicativo de namoro. Segundo a pesquisa, o que todo mundo, no fundo, quer ler é algo do tipo: “eu realmente me importo com você, quero te conhecer, te ouvir e te apoiar”.
Em todos os estudos, houve apenas um tipo de relacionamento em que as pessoas não se importavam em ser conhecidas: a relação pai e filho. "O que prevê a satisfação no relacionamento não é o quanto eles pensam que seu filho os conhece, mas o quanto eles conhecem seu filho", relata Schroeder.
A dupla pretende, no futuro, estudar melhor como as pessoas podem mudar seu foco para fazer com que se sintam conhecidas de forma genuína. No contexto profissional, por exemplo, isso poderia não apenas melhorar a relação com os colegas, mas a satisfação com o trabalho em geral.
Tatiana Pronin
Jornalista e editora do site Doutor Jairo, cobre ciência e saúde há mais de 20 anos, com forte interesse em saúde mental e ciências do comportamento. Vive em NY. Twitter: @tatianapronin