Jairo Bouer Publicado em 20/05/2020, às 19h06
O que determina o bom desempenho de um jovem na escola? A gente sabe que os genes têm seu papel, bem como fatores ambientais, como status socioeconômico e acesso a ensino de qualidade. Mas, segundo um estudo que acaba de ser publicado, o ambiente familiar é capaz de moldar o desenvolvimento cerebral e o aprendizado de um indivíduo não só durante a infância, mas também ao longo de toda a adolescência.
Pesquisadores do Instituto Karolinska, na Suécia, decidiram investigar como genes e ambiente interagem para determinar as habilidades e a capacidade de aprendizado, já que, em geral, esses dois aspectos são estudados separadamente.
O trabalho envolveu 551 adolescentes de diferentes condições socioeconômicas de diversas regiões da Europa. Eles passaram por testes genéticos e cognitivos (de memória e aprendizado), e também foram submetidos a exames de escaneamento cerebral quando tinham 14 anos. Cinco anos depois, todo o processo foi repetido para verificar o que mudou.
Os neurocientistas utilizaram um índice que se baseia na análise de 5.000 locais específicos do DNA (código genético) que têm forte relação com escolaridade. Aos 14 anos, genes e ambiente foram associados à capacidade cognitiva de maneira independente. Mas os efeitos do ambiente foram de 50 a 100% mais fortes que os da genética, segundo a equipe.
As diferenças de status socioeconômico também foram relacionadas a diferenças observadas no neocórtex dos adolescentes, área da superfície do cérebro que é a mais desenvolvida, digamos assim. Havia dúvidas se o ambiente afetaria alguma habilidade específica, como a memória ou a linguagem. Mas os pesquisadores descobriram que, como o efeito é sobre todo o neocórtex, uma série de funções seriam afetadas, e não apenas uma ou outra.
Eles também viram que a genética interfere na estrutura do cérebro, em especial uma área no lobo parietal direito que é considerada importante para habilidades matemáticas, raciocínio e memória de trabalho (aquela que a gente usa para armazenar informações temporariamente).
Quando os pesquisadores reexaminaram os participantes cinco anos depois, eles foram capazes de avaliar como os genes e o ambiente afetaram o desenvolvimento do cérebro ao longo da adolescência. Fatores genéticos não foram capazes de explicar as alterações cerebrais encontradas, mas o ambiente sim.
Não se sabe ao certo qual fator ambiental específico pode explicar essas alterações. Pode ser que seja o estresse crônico, a dieta, ou mesmo o estímulo intelectual que os jovens receberam. Os pesquisadores afirmam que estudos futuros com esse foco podem levar a intervenções que otimizem o desenvolvimento cerebral de crianças e adolescentes.
De qualquer forma, os resultados mostram o quanto o ambiente é importante para o desempenho escolar, e não apenas na infância. Investir em hábitos saudáveis, ensino de qualidade e equilíbrio emocional faz toda a diferença, mesmo para quem não foi favorecido pela genética.
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