Para quem passou a vida lutando contra a balança, medicamentos para diabetes e obesidade como a semaglutida (Ozempic, Wegovy) e tirzepatida (Mounjaro) trouxeram uma possibilidade real de perder peso e vencer a obsessão por comida, algo frequente em obesos ou em quem segue dietas de emagrecimento.
Esses medicamentos podem levar a uma redução de 10 a 20% do peso corporal, o que, segundo alguns estudos, pode reduzir dramaticamente o risco de doenças cardiovasculares. A contrapartida são efeitos colaterais como náusea, refluxo e outros sintomas gastrointestinais, e de possíveis efeitos a longo prazo que ainda não estão bem estabelecidos, já que as substâncias estão há pouco tempo no mercado.
Ainda há outras questões que só agora começam a ficar evidente, conforme mais gente faz uso prolongado dessas drogas. Uma delas é o fato de que, ao parar de tomar o remédio, a tendência é recuperar o peso perdido – uma realidade que pessoas com obesidade e sobrepeso já conhecem de outros Carnavais. Outra é o efeito platô, ou seja, a dificuldade de perder mais peso depois de um determinado tempo no tratamento.
As duas desvantagens têm uma característica em comum: quando uma pessoa perde uma quantidade significativa de peso, o organismo faz um esforço maior para reter calorias e se preservar, como explica o médico Mir Ali, diretor médico do MemorialCare Surgical Weight Loss Center, nos EUA, em entrevista ao MedicalNewsToday. Ele diz que os pacientes tendem a atingir um platô com a semaglutida após 60 semanas, o que é uma boa quantidade de tempo.
O endocrinologista da Universidade de Pittsburgh, Jason Ng, explica que o platô de perda de peso ocorre quando o gasto de energia do seu corpo iguala-se à energia adicionada através dos alimentos. Se no início do tratamento a ingestão de calorias diminui significativamente, o corpo busca obter energia por outras fontes como o glicogênio, o que leva à perda de peso. Porém, à medida em que a pessoa emagrece, o metabolismo diminui para compensar essa aparente ameaça.
A melhor maneira de superar um platô é alterar de novo o equilíbrio energético, o que pode ser feito por meio do aumento da atividade física ou pela redução adicional da ingestão de alimentos. Mas nem sempre isso é possível.
O conselho dos médicos para lidar com essa estabilidade na perda de peso é deixar de focar tanto na balança, e sim em se manter saudável, que é o que mais importa, no fim das contas.
Outra possibilidade, para quem utilizou a semaglutida, é tentar a tirzepatida. É que o primeiro atua em um hormônio, enquanto o segundo, mais recente, atua em dois. Uma substância que atua em três hormônios também está em estudo. Mas é importante lembrar que mesmo a semaglutida é um medicamento muito caro e, como já dito anteriormente, ainda novo para que os médicos conheçam bem seus efeitos colaterais a longo prazo.
Tudo isso deve ser considerado antes de iniciar um tratamento com esses medicamentos. E, para Mir Ali, a recomendação para pacientes com Índice de Massa Corporal (IMC) superior ou igual a 40, a indicação principais é da cirurgia bariátrica, bem como pacientes com IMC de 35 ou mais com outras condições, como diabetes ou pressão alta.
Tatiana Pronin
Jornalista e editora do site Doutor Jairo, cobre ciência e saúde há mais de 20 anos, com forte interesse em saúde mental e ciências do comportamento. Vive em NY e é membro da Association of Health Care Journalists. Twitter: @tatianapronin