Você acha que viver numa cidade, ou mesmo em um país, com escassez de potenciais parceiros ou parceiras para ficar ou namorar pode causar estresse e depressão? Sem dúvida, não é?
Mas e quanto ao excesso de opções, ou seja, candidatos demais – você acha que isso também pode ser fonte de ansiedade? Segundo um estudo publicado no periódico Evolutionary Behavioral Sciences, isso é real.
Ter muitos potenciais parceiros à disposição, assim como ter muito poucos, pode interferir na saúde mental e no bem-estar das pessoas, concluíram os psicólogos e pesquisadores norte-americanos Craig Johnson e Naomi Rosenbach.
A pesquisa deles descobriu que a percepção das pessoas sobre a disponibilidade de parceiros pode gerar sentimentos de ansiedade e depressão. No entanto, esse efeito depende de como os indivíduos avaliam sua própria atratividade como parceiro.
O estudo envolveu 647 jovens adultos, todos solteiros, heterossexuais e com idades entre 18 e 40 anos. Todos foram recrutados por meio de uma plataforma de crowdsourcing online e de cursos introdutórios de psicologia.
Para garantir que a amostra fosse o mais uniforme possível, os pesquisadores excluíram pessoas que já haviam sido casadas, tinham filhos ou estavam em um relacionamento estável, pois esses fatores poderiam afetar a percepção da disponibilidade de parceiros e os resultados relacionados à saúde mental.
Os participantes responderam a diversas questões sobre a percepção da disponibilidade de parceiros, sobre saúde mental e, também, se acreditavam ter valor como potenciais parceiros. Também foi perguntado se eles acreditavam que havia mais homens, mais mulheres ou um número igual de ambos disponíveis em sua região.
Surpreendentemente, os resultados sugerem que tanto a escassez quanto o excesso de opções para namorar podem ter implicações negativas para a saúde mental dos adultos solteiros.
Veja, em detalhes, o que mais os pesquisadores descobriram:
- Sem opção - para indivíduos que avaliaram seu valor como parceiro como baixo, a percepção de escassez de parceiros disponíveis foi associada ao aumento na ansiedade, depressão e emoções negativas. Nesse grupo, a dificuldade em encontrar alguém num ambiente competitivo de namoro pareceu prejudicar o bem-estar mental.
- Opções demais - curiosamente, o padrão foi o oposto para indivíduos que se viam como tendo alto valor como parceiro. Para eles, a abundância de potenciais parceiros foi associada a níveis mais altos de ansiedade, depressão e emoções negativas. Uma possível explicação para esse achado surpreendente é que o excesso de opções de namoro pode levar à "sobrecarga de escolha", um fenômeno no qual ter muitas opções dificulta e torna insatisfatória a tomada de decisões.
- Proporção homem/mulher - aqueles que perceberam um número igual de homens e mulheres disponíveis relataram maior satisfação com a vida em comparação com aqueles que sentiram que havia poucos ou muitos potenciais parceiros. Esse efeito foi mais pronunciado entre os homens, que pareciam ser mais sensíveis à proporção percebida de sexos em relação à satisfação geral com a vida.
Primeiro, o estudo baseou-se em dados autorrelatados, que podem, às vezes, ser imprecisos ou influenciados por fatores como o desejo de aceitação social.
Outra limitação é que o estudo foi correlacional, o que significa que ele não pode determinar se a percepção da disponibilidade de parceiros causa mudanças na saúde mental ou se indivíduos com problemas de saúde mental têm mais probabilidade de perceber uma escassez ou abundância de parceiros. Estudos longitudinais, que acompanham os participantes ao longo do tempo, seriam úteis para determinar a direção dessa relação.
O fenômeno da sobrecarga de escolha é interessante e, para os pesquisadores, merece investigação futura. Afinal de contas, hoje há gente que reclama até do excesso de opções de streaming ou de entrega de comida.
Os autores sugerem que estudos futuros examinem melhor se ter muitas opções de namoro causa estresse ou indecisão, e como isso poderia ser mitigado. Por exemplo, plataformas de namoro online poderiam ser uma via útil para estudar esse conceito, já que frequentemente apresentam aos usuários um número esmagador de possíveis correspondências.
Tatiana Pronin
Jornalista e editora do site Doutor Jairo, cobre ciência e saúde há mais de 20 anos, com forte interesse em saúde mental e ciências do comportamento. Vive em NY e é membro da Association of Health Care Journalists. Twitter: @tatianapronin