Pesquisador sugere que hábitos dos pais também interferem na saúde da criança
Tatiana Pronin Publicado em 21/11/2023, às 09h00
Os homens consomem mais álcool e são mais propensos a episódios de consumo abusivo de bebida alcoólica. No entanto, ao diagnosticar bebês nascidos com defeitos associados ao consumo de álcool, como a síndrome alcoólica fetal, apenas os hábitos de consumo de álcool da mãe têm sido levados em consideração.
O pesquisador Michael Golding, professor da Universidade Texas A&M, nos EUA, sugere que o consumo de álcool pelos homens também pode afetar a saúde da criança. Em artigo recente no The Conversation, ele relata alguns estudos feitos por ele e sua equipe nessa área, além de outros que podem ajudar a moldar uma nova visão sobre o tema.
De acordo com ele, o esperma carrega uma enorme quantidade de informações epigenéticas, ou seja, mudanças na forma como os genes são expressos que influenciam o desenvolvimento fetal. Apesar disso, a maioria dos profissionais de saúde não costuma levar em consideração o estilo de vida paterno ao analisar o desenvolvimento infantil.
Desde a década de 1980, médicos têm alertado que o uso de álcool por mulheres na gravidez pode causar defeitos físicos e problemas mentais nas crianças. Hoje, estima-se que 1 em cada 20 crianças em idade escolar nos EUA pode apresentar alguma forma de distúrbio do espectro de desordens alcoólicas fetais, um termo que se refere a uma ampla gama de deficiências físicas, de desenvolvimento e comportamentais relacionadas ao álcool.
A síndrome alcoólica fetal é a mais grave delas, e está associada a três principais defeitos de nascimento: anormalidades faciais, incluindo olhos pequenos e malformações no meio do rosto; redução do crescimento da cabeça e do cérebro; e restrição do crescimento fetal, uma condição que ocorre quando os bebês nascem menores do que a média.
De acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças, nos EUA, esta síndrome pode ocorrer quando o álcool no sangue da mãe passa para o bebê através do cordão umbilical. Em função disso, a comunidade médica tem levado em conta apenas o papel da mãe nessa condição.
No entanto, Golding diz que há múltiplos casos documentados de crianças diagnosticadas com síndrome alcoólica fetal nos quais as mães negam ter consumido álcool durante a gravidez. Nessas circunstâncias a suposição aceita é a de que essas mães mentem.
De acordo com os CDC, não há quantidade segura conhecida de consumo de álcool durante a gravidez ou ao tentar engravidar. Apesar dessa recomendação, o consumo de álcool durante a gravidez é amplamente relatado. Os níveis de consumo relatados nem sempre se correlacionam diretamente com o desenvolvimento de defeitos de nascimento. Além disso, nem todas as mulheres que bebem dão à luz crianças com síndrome alcoólica fetal.
Embora as diferenças na quantidade e no momento em que as mulheres grávidas bebem possam contribuir para a variação na forma como a síndrome alcoólica fetal se desenvolve, esses fatores sozinhos não podem explicar a ampla gama e gravidade dos sintomas. Portanto, o pesquisador acredita que fatores desconhecidos, além do uso de álcool pela mãe, devem contribuir para esse distúrbio debilitante.
O álcool é uma droga social, por isso é comum que muitas mulheres junto com o parceiro. Partindo dessa perspectiva, Golding e sua equipe avaliaram os impactos do álcool em machos e fêmeas para simular o que acontece com a prole.
Em um estudo publicado no início deste ano, eles sugerem que a exposição crônica ao álcool pelos machos afeta a formação do cérebro, crânio e rosto da prole. Eles também observaram a microcefalia (subdesenvolvimento da cabeça e do cérebro), além de peso ao nascer mais baixo, o que piorou quanto mais o pai bebia.
Além da pesquisa deles, outros estudos já identificaram mudanças comportamentais na prole de camundongos machos que consomem álcool regularmente. Além disso, estudos clínicos sugerem que o consumo de álcool pelo pai aumenta o risco de defeitos cardíacos em humanos.
Os estudos de Golding também apontam impactos mais imediatos do consumo de álcool na fertilidade masculina e na capacidade dos casais de terem uma gravidez saudável.
Os resultados indicaram que quanto mais um homem bebe antes de doar sêmen, menores são as chances de sua parceira engravidar – em alguns casos, em quase 50%.
Nos EUA, estima-se que os custos cumulativos dos distúrbios do espectro alcoólico fetal para os sistemas de saúde e educação possam chegar a 10 bilhões de dólares por ano. Assim, o pesquisador acredita que ignorar os hábitos de consumo de álcool paternos na saúde das crianças é negligenciar um fator que pode ser significativo.
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