O consumo de álcool aumenta os riscos de mais de 60 doenças, inclusive certas enfermidades que não costumam ser atribuídas à bebida alcoólica. Pelo menos é o que revela um estudo com homens chineses, publicado na Nature Medicine.
Estima-se que o consumo de álcool seja responsável por cerca de 3 milhões de mortes em todo o mundo a cada ano, e esse número está aumentando em muitos países de baixa e média renda, como a China.
Os efeitos nocivos do consumo excessivo de álcool para certas doenças, como cirrose hepática, acidente vascular cerebral (AVC) e vários tipos de câncer, são bem conhecidos, mas poucos estudos avaliaram sistematicamente o impacto do consumo de álcool em uma ampla gama de doenças dentro da mesma população.
O estudo, realizado por pesquisadores da Oxford Population Health e da Universidade de Pequim, utilizou dados do China Kadoorie Biobank (CKB), um estudo colaborativo com mais de 512.000 adultos recrutados entre 2004 e 2008 em dez áreas urbanas e rurais diferentes da China.
Os participantes do estudo foram entrevistados sobre seu estilo de vida e comportamentos, incluindo padrões detalhados de consumo de álcool. Cerca de um terço dos homens, mas apenas 2% das mulheres, consumiam álcool regularmente (pelo menos uma vez por semana).
Os pesquisadores avaliaram de forma abrangente os efeitos do consumo de álcool em mais de 200 doenças diferentes em homens, identificadas por meio do cruzamento de dados com registros hospitalares ao longo de cerca de 12 anos. Importante destacar que eles também realizaram uma análise genética para esclarecer se o consumo de álcool era responsável por causar doenças.
Os resultados deste estudo demonstram a influência que o consumo de álcool pode ter no risco de doenças em populações ao redor do mundo.
Veja as principais descobertas do estudo:
Segundo o pesquisador Pek Kei Im, da Oxford Population Health, o consumo de álcool está relacionado a uma gama muito mais ampla de doenças do que foi estabelecido anteriormente, e as descobertas mostram que essas associações provavelmente são causais.
Para outro autor, o pesquisador Liming Li, da Universidade de Pequim, este grande estudo colaborativo demonstra a necessidade de fortalecer as políticas de controle do álcool na China, país em que os níveis de consumo aumentaram bastante entre os homens.
Os autores ainda acreditam que o estudo fornece evidências causais importantes sobre a escala dos danos relacionados ao álcool, o que é fundamental para informar estratégias de prevenção em diferentes países.
É importante destacar que nas populações do leste asiático existem variantes genéticas comuns que reduzem significativamente a tolerância ao álcool, causando uma reação de rubor extremamente desagradável após o consumo.
Pessoas com essas variantes genéticas tendem a beber menos álcool e, como essas variantes genéticas não estão relacionadas a outros fatores de estilo de vida (como fumar ou status socioeconômico), os pesquisadores podem usar essas informações para avaliar com mais precisão as relações de causa e efeito do álcool com uma ampla gama de doenças.
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Tatiana Pronin
Jornalista e editora do site Doutor Jairo, cobre ciência e saúde há mais de 20 anos, com forte interesse em saúde mental e ciências do comportamento. Vive em NY. Twitter: @tatianapronin