Homens e adolescentes do sexo masculino correm cada vez mais risco de recorrer ao uso perigoso de esteroides anabolizantes na tentativa de obter um corpo musculoso digno de fotos publicadas nas redes sociais.
Uma revisão de estudos publicada na revista Psychology of Men & Masculinities descobriu que a exposição a postagens em redes sociais que mostram corpos masculinos musculosos está diretamente ligada a uma imagem corporal negativa e a maior tendência de recorrer ao uso de esteroides anabolizantes.
“O corpo masculino ideal na sociedade ocidental é simultaneamente muito magro e muito musculoso, com uma figura em forma de V e ênfase em braços, ombros e peito grandes”, afirma a autora sênior, Ivanka Prichard, professora da Faculdade de Enfermagem e Ciências da Saúde da Universidade Flinders, na Austrália.
Embora pesquisas anteriores nesta área tenham focado predominantemente em mulheres, evidências recentes sugerem que os homens também sofrem os efeitos negativos das redes sociais em sua imagem corporal e estão se envolvendo em comportamentos de risco para lidar com essas questões.
“Há pressão sobre homens e adolescentes para não apenas atender a esse ideal de aparência, mas também serem fortes, pois isso está intrinsecamente ligado à masculinidade”, observa a pesquisadora.
Seis bases de dados eletrônicas foram usadas para compilar a revisão, com estudos que analisavam o uso geral de redes sociais, comportamentos relacionados à aparência nas redes sociais ou exposição ao conteúdo relacionado à aparência nas redes sociais.
A revisão focou especificamente em amostras masculinas e ampliou os resultados para incluir comportamentos de alteração da aparência, como atividade física e uso de esteroides, a fim de explorar as relações entre redes sociais e imagem corporal.
Entre os entusiastas do fisiculturismo, o termo “natty” (uma abreviação de “natural”, em inglês) simboliza um compromisso em alcançar objetivos de condicionamento físico sem o uso de substâncias sintéticas, como esteroides.
No entanto, mesmo dentro dessas comunidades, a influência abrangente das redes sociais pode contribuir para uma pressão aumentada em conformar-se a ideais corporais irreais, especialmente aqueles caracterizados por um físico magro e musculoso.
“Descobrimos que o tempo gasto em plataformas de redes sociais, como Facebook e Instagram, o engajamento em comportamentos online relacionados à aparência e a exposição a conteúdos de redes sociais relacionados à aparência estavam ligados a uma imagem corporal negativa e/ou pensamentos sobre o uso de esteroides anabólico-androgênicos”, afirma a autora principal, Nepheli Beos, da Faculdade de Psicologia, Educação e Trabalho Social.
“Ficou claro que o uso de redes sociais relacionado à aparência está associado a uma imagem corporal mais negativa e a maiores chances de uso de esteroides anabólico-androgênicos em homens.”
Embora o estudo tenha limitações e mais pesquisas sejam necessárias para focar no impacto das redes sociais em homens e adolescentes, os autores afirmam que o estudo traz implicações para pesquisadores, plataformas de redes sociais e formuladores de políticas.
“Precisamos considerar as implicações do consumo de mídia na saúde e na autopercepção dos homens, para que possamos desenvolver um ambiente mais favorável onde as preocupações com a imagem corporal possam ser abordadas de forma construtiva”, acrescenta Beos.
Tatiana Pronin
Jornalista e editora do site Doutor Jairo, cobre ciência e saúde há mais de 20 anos, com forte interesse em saúde mental e ciências do comportamento. Vive em NY. Twitter: @tatianapronin