Jairo Bouer Publicado em 29/06/2020, às 22h48
Você se considera um pai ou uma mãe “helicóptero”? Ou, para ser mais claro: você está sempre de olho no que seu filho está fazendo, tenta controlar seu comportamento, suas amizades e até a carreira que ele deve escolher?
Para muitos pais, tomar as rédeas é importante para que os filhos não saiam do trilho. Mas estudos têm mostrado que esse estilo de paternidade pode fazer mais mal do que bem. Há evidências de que esses jovens, ao se tornarem adultos, podem ter mais dificuldades em conseguir trabalho e até um relacionamento romântico.
Um dos trabalhos, publicado este mês por uma equipe da Universidade da Virgínia, nos EUA, no periódico Child Development (https://srcd.onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1111/cdev.13377), acompanhou 184 adolescentes dos 13 até os 32 anos de idade.
Os pesquisadores descobriram que filhos de pais dominadores tendem a não ir muito longe na vida acadêmica. Além disso, são menos propensos a ter um parceiro estável, ou a interagir de forma saudável com pares românticos.
A gente sabe que a intenção dos pais é sempre a melhor. Estabelecer limites e orientar é fundamental para educar crianças e adolescentes. O problema é quando o controle excessivo vira uma forma de manipulação, e impede o jovem de lutar sozinho por aquilo que deseja. Em certos casos esses indivíduos têm dificuldade até de identificar aquilo que desejam.
Os pesquisadores dão como exemplo aqueles pais que fazem os filhos se sentirem culpados, ou que punem os filhos com silêncio quando eles não fazem o que eles querem. Isso pode levar esses jovens a ter mais dificuldade de expressar seus sentimentos no futuro, e isso pode interferir na sua capacidade de se relacionar.
Estudos anteriores já tinham destacado outras consequências negativas da paternidade helicóptero, como falta de autonomia, sensação de que tem direito a tudo, desempenho acadêmico mais baixo, piora na autoestima, menor nível de satisfação com a vida, problemas de relacionamento com pares e níveis mais altos de ansiedade e depressão, entre outros.
A boa notícia, segundo os pesquisadores de Virgínia, é que ter pais superprotetores ou manipuladores não é uma condenação. Com autoconhecimento e vontade, é possível modificar padrões negativos adquiridos na infância e na adolescência.
Para os pais, fica o convite à reflexão. A forma de educar os filhos envolve valores pessoais, experiências passadas e até mesmo características e aprendizados herdados dos próprios pais. A ansiedade para não errar é grande, e ver um filho sofrer injustiças causa enorme sofrimento. Mas é fundamental que os jovens sejam criados para ser independentes, e que sejam respeitados como pessoas que têm voz e desejo próprios.
*Da coluna do Jairo Bouer no UOL