Redação Publicado em 07/04/2021, às 10h43
De acordo com uma pesquisa realizada pela Universidade de Oxford, pessoas que tiveram Covid-19 têm mais chances de desenvolver doenças mentais, que variam desde ansiedade até demência.
Segundo os pesquisadores, um terço das pessoas que se infectaram com o vírus desenvolveu ou teve uma recaída de uma condição psicológica ou neurológica. Mas aqueles que foram internados em hospitais ou em terapia intensiva correram um risco ainda maior.
Tais consequências podem ser causadas pelo estresse e pelo impacto direto do vírus no cérebro.
Os cientistas do Reino Unido analisaram os registros médicos eletrônicos de mais de meio milhão de pacientes nos Estados Unidos e suas chances de desenvolver uma das 14 condições psicológicas ou neurológicas comuns, incluindo:
Ansiedade e transtornos do humor foram os diagnósticos mais comuns entre as pessoas com Covid e, provavelmente, foram desencadeados devido ao estresse da experiência de estar muito doente ou de ser levado ao hospital, explicaram os pesquisadores.
Já condições como derrame e demência têm mais probabilidade de ser atribuídas aos impactos biológicos do próprio vírus ou da reação do corpo à infecção em geral.
O estudo foi apenas observacional, ou seja, os pesquisadores não puderam dizer se realmente foi a Covid quem causou algum dos diagnósticos ou se algumas pessoas teriam um derrame ou depressão nos próximos seis meses, independentemente.
Mas comparando um grupo de pessoas que tiveram Covid-19 com dois grupos – com gripe e outras infecções respiratórias, respectivamente –, os pesquisadores da Universidade de Oxford concluíram que a Covid estava associada a mais doenças cerebrais posteriores do que outras doenças respiratórias.
Os participantes foram pareados por idade, sexo, etnia e condições de saúde, para torná-los o mais comparáveis possível.
Os infectados tinham 16% mais probabilidade de desenvolver um distúrbio psicológico ou neurológico após a Covid, se comparado a outras infecções respiratórias, e 44% mais probabilidade do que pessoas em recuperação de gripe.
Além disso, quanto mais grave a condição do paciente com Covid, maior era a probabilidade de receber um diagnóstico subsequente de comprometimento da saúde mental ou distúrbio cerebral.
Transtornos de humor, ansiedade ou transtornos psicóticos afetaram 24% de todos os pacientes, mas aumentou para 25% naqueles internados no hospital, 28% em pessoas que estavam em cuidados intensivos e 36% em pessoas que experimentaram delirium durante a doença.
Os acidentes vasculares cerebrais afetaram 2% de todos os pacientes com Covid, aumentando para 7% nos admitidos na UTI e 9% nos que tiveram delirium.
A demência foi diagnosticada em 0,7% de todos os pacientes com Covid, mas em 5% daqueles que experimentaram delirium como sintoma.
Sara Imarisio, chefe de pesquisa da Alzheimer's Research UK, disse: "Estudos anteriores destacaram que as pessoas com demência correm maior risco de desenvolver Covid-19 grave. Esse novo estudo investiga se essa relação também pode ser mantida em outra direção”.
Já o professor de neurologia Masud Husain, da Universidade de Oxford, explicou que há evidências de que o vírus entra no cérebro e causa danos diretos. Por isso, também pode haver outros efeitos indiretos, por exemplo, afetando a coagulação do sangue, o que pode levar a acidentes vasculares cerebrais.
Para pouco mais de um terço das pessoas que desenvolvem uma ou mais dessas condições, foi o primeiro diagnóstico. Contudo, mesmo quando houve a ocorrência de um problema preexistente, os pesquisadores não descartaram a possibilidade de a Covid ter causado essa condição.
A professora Dame Til Wykes, do Instituto de Psiquiatria, Psicologia e Neurociência do King's College London, disse: "O estudo confirma nossas suspeitas de que um diagnóstico de Covid-19 não está apenas relacionado a sintomas respiratórios, mas também a problemas psiquiátricos e neurológicos”.