Redação Publicado em 12/02/2021, às 17h44
A pandemia de Covid-19 alterou a dinâmica do mundo todo de maneira surpreendente. Quase ouvimos gente se queixar das consequências negativas, mas é bom lembrar que existem exceções à regra. Um estudo realizado pela Universidade de Bath, no Reino Unido, em parceria com a Universidade de Lisboa, sugere que as medidas de isolamento social adotadas para combater o coronavírus também trouxeram impactos positivos para muitos indivíduos e suas respectivas famílias.
Publicado no British Journal of Psychiatry, a pesquisa destaca que o confinamento pode ter provocado um “crescimento pós-traumático" nos indivíduos, ou seja, muita gente relata ter ganhado algo após ter sofrido um trauma ou evento estressante.
A equipe de pesquisadores recorreu a um questionário online durante o pico do primeiro surto de coronavírus na Europa, de 1° de maio a 27 de junho de 2020. Eles analisaram as respostas de 385 pais e cuidadores de crianças dos 6 aos 16 anos no Reino Unido e em Portugal.
Todos os participantes relataram experiências adversas devido à Covid-19, entre elas trabalhar exclusivamente em casa (70%), sendo que metade reportou uma diminuição no rendimento, e praticamente todas as crianças (93%) estavam lidando com o ensino remoto. Além disso, um em cada cinco entrevistados suspeitava que um familiar contraiu a doença ou foi infectado.
Apesar das adversidades impostas pela pandemia, 88% dos participantes responderam de forma afirmativa sobre alguns aspectos positivos resultantes da pandemia e, até mesmo, das restrições de distanciamento social.
Para uma melhor classificação, a equipe de pesquisadores separou as respostas em quatro áreas chaves e as identificaram como exemplos de “crescimento pós-traumático”. Entre os resultados adquiridos estavam:
Segundo Paul Stallard, professor do departamento de saúde da Universidade de Bath e um dos autores do estudo, é inegável o impacto negativo na saúde mental de milhares de pessoas, mas é preciso olhar para todo o contexto e identificar a presença de efeitos positivos, como a oportunidade de viver de uma forma mais tranquila e em um ritmo menos acelerado por conta do confinamento.
“Estes são resultados importantes. Não só identificamos quais foram estas experiências positivas, mas também mostramos que as pessoas que conseguiram identificá-las revelaram melhores indicadores de bem-estar em comparação àquelas que não conseguiram enxergar pontos positivos", opina.
Para ele, a pesquisa também fornece algumas pistas sobre como podemos reconstruir uma vida mais saudável e positiva ao abraçarmos uma rotina mais tranquila e passarmos a apreciar pequenos prazeres e coisas mais simples.
Para Ana Isabel Pereira, professora da Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa e co-autora da pesquisa, em momentos de grandes adversidades como uma pandemia, encontrar algum significado e propósito para as experiências é muito importante.
“Em cada momento, podemos encontrar novas formas de construirmos relações mais fortes com as nossas crianças, parceiros(as) ou amigos(as), escolher como melhor utilizar o nosso tempo durante o confinamento; e ajudar outros(as) membros da comunidade que estão experimentando maior adversidade ou que têm menos recursos para superarem este período”, completa.