Covid-19: perder o olfato pode afetar o sexo, segundo pesquisa

Resultado chama atenção já que o sintoma é frequente entre os infectados pelo coronavírus

Redação Publicado em 10/02/2021, às 12h10

O olfato pode diminuir um pouco com a idade, ou como sintoma de alguma doença - iStock

Pesquisadores americanos da Universidade de Chicago encontraram uma ligação entre a perda de olfato, conhecida como anosmia, e a diminuição da motivação sexual e da satisfação emocional em idosos nos Estados Unidos (EUA).

Embora o estudo tenha sido realizado antes da Covid-19, o resultado causa preocupação, uma vez que a perda de olfato é um sintoma comum na infecção pelo novo coronavírus. Além disso, alguns pacientes dizem que essa dificuldade em sentir cheiros ou sabores permanece por alguns meses após o teste vir negativo. 

De acordo com os pesquisadores, o olfato desempenha um papel importante na motivação sexual. Ou seja:  cheiro e desejo estão “intimamente ligados”. Foram analisados apenas idosos com 65 anos ou mais, o que significa que essa relação fica mais forte à medida que envelhecemos e pode ser menos acentuada em adultos jovens

O que é anosmia? 

Anosmia é o termo médico usado para indicar a condição em que alguém sofre a perda completa ou parcial do olfato. É uma condição mais comum do que se imagina, e afeta de 3 a 5% das pessoas em todo o mundo. Além disso, é um dos sintomas recorrentes em indivíduos infectados pelo Sars-CoV-2.

A dificuldade em sentir cheiros pode ser temporária ou permanente, a depender do que está por trás dela. Em geral, o problema é causado por doenças que afetam o nariz ou seios da face, assim como pólipos que crescem nas vias respiratórias, ossos ou cartilagem fraturados, rinite alérgica ou tumores. Lesões na cabeça e doenças no sistema nervoso, como Parkinson e Alzheimer, também podem contribuir para a perda de olfato, danificando os nervos do nariz responsáveis pela detecção de odores

Como o estudo foi feito

Com o envelhecimento, as funções sensoriais diminuem gradativamente. Alguns estudos anteriores já mostravam que pacientes com transtorno de olfato costumam ter queixas na vida sexual

No trabalho atual, publicado no The Journal of Sexual Medicine, os pesquisadores investigaram o efeito da perda da função olfativa sobre o desejo e satisfação sexual de pessoas mais maduras. Para isso, a equipe trabalhou com uma amostra de 2.084 idosos nos EUA.

Os especialistas mediram a sensibilidade olfativa por meio de bastões com cheiro e a frequência de pensamentos e atividades sexuais através de um questionário. Além disso, também perguntaram aos idosos sobre a satisfação com a relação mais recente. 

As análises foram ajustadas por idade, sexo, raça, escolaridade, cognição (raciocínio e memória), doenças associadas e depressão (já que o transtorno também pode afetar o desejo).

Motivação e emoções 

A diminuição da função olfativa em idosos dos EUA foi associada à diminuição da motivação sexual e à menor satisfação emocional com o sexo, mas não à diminuição da frequência do sexo ou ao prazer físico, segundo os pesquisadores.

A pesquisa conclui que um declínio na função olfativa pode prejudicar o prazer sexual em idosos. Segundo os especialistas, isso ocorre porque existe uma conexão entre o olfato e a sexualidade

De acordo com os pesquisadores, as causas de perda sensorial passíveis de tratamento devem ser prioridade para os médicos, como forma de melhorar a qualidade de vida e, consequentemente, a saúde sexual.

Sistema límbico

Os autores do estudo observam que o olfato tem uma conexão com o sistema límbico, moldada pela evolução, e isso desempenha um papel crítico no processamento das emoções e na motivação sexual.

Em entrevista ao The Daily Mail, o médico e autor do estudo Jayant Pinto explicou que o sistema olfativo está conectado a centros no cérebro que permitem a experiência do prazer. Essas conexões são muito antigas e existem mesmo em organismos simples, que precisam identificar substâncias químicas no ambiente, como nutrientes e toxinas. De acordo com o médico, a sexualidade é essencial para a reprodução e também depende do aspecto sensorial.

Como o estudo foi realizado antes da pandemia de Covid-19, seria preciso que novas pesquisas sejam feitas para avaliar se a perda de olfato em pessoas infectadas pelo coronavírus também pode afetar o desejo sexual. De qualquer forma, é algo para se prestar atenção. 

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