Jairo Bouer Publicado em 09/05/2020, às 18h24 - Atualizado em 11/05/2020, às 18h29
A vida dos solteiros que estão em busca de parceiros nas redes sociais e aplicativos não está nada fácil desde que a pandemia começou. Sem bares, boates, eventos esportivos, restaurantes e shows fica muito mais difícil marcar o primeiro encontro em local público –essencial para a segurança de quem usa a internet para conhecer gente. Contatos íntimos, então, por enquanto, nem pensar. Preservar a saúde é fundamental nesse momento grave!
Usar a web para paquerar já é um comportamento assimilado pela nossa sociedade. Cerca de um terço de todos os casamentos norte-americanos já se deve à internet, segundo um grande estudo publicado em 2018 pelos pesquisadores Josue Ortega, da Universidade de Essex, no Reino Unido, e Philipp Hergovich, da Universidade de Viena, na Áustria. Entre casais homoafetivos, 70% devem sua união a sites ou aplicativos de encontro. A “discrição” da internet acaba sendo uma importante aliada para quem é mais tímido ou enfrenta preconceitos sociais na busca de um parceiro.
Uma reportagem publicada esta semana na revista The Economist mostra que aplicativos de encontros já têm oferecido produtos diferentes para atender às novas demandas da quarentena, como noites de jogos ou discotecas virtuais. O texto também diz que o app chinês TanTan registrou salto de 30% no tempo de uso no fim de fevereiro. E que, em abril, o número médio de mensagens enviadas diariamente em aplicativos como Match, OkCupid e Tinder aumentou 27%.
Apesar da aflição geral, do tesão fazendo o pessoal subir pelas paredes e da angústia pela falta de uma parceria imediata, eu acho que o balanço dessa situação pode até ser positivo, e explico por quê. Uma queixa comum dos usuários de aplicativos é que manter uma conversa mais longa com alguém é quase impossível. Alguns somem depois de trocar uma ou duas mensagens ou quando a outra parte se recusa a enviar uma imagem mais ousada. Outros querem logo marcar um encontro, e assim por diante. Com o distanciamento social, porém, não há outra saída senão passar mais tempo nas conversas “preliminares” e contatos virtuais.
Marcar uma vídeo-chamada antes de um encontro era quase impensável antes da pandemia, quase um pecado capital na ordem dos encontros imediatos. Hoje é a alternativa possível e mais segura. E isso pode ser interessante em muitos aspectos. Em primeiro lugar, é mais seguro você tentar conhecer alguém melhor antes do primeiro “date”. Em segundo, a “vídeo-call” pode evitar que duas pessoas partam logo de cara para a intimidade e se arrependam depois. Em terceiro, um bom aquecimento antes do contato real pode permitir que o casal discuta detalhes importantes, como preferências, expectativas, desejos, uso de camisinha, etc., o que pode evitar surpresas desagradáveis amanhã, numa possível “hora H”. É quase como se eu fosse pactuando, criando uma intimidade, aumentando o desejo por um encontro, uma possibilidade que na vida pré-quarentena não era a regra para boa parte desses encontros.
Se não dá para ter uma vida “normal”, de encontros e baladas, pelo menos por enquanto, é bom aproveitar para explorar outras formas de intimidade. Sem esquecer de todos aqueles cuidados com segurança que a gente deve ter ao trocar “nudes” ou tirar a roupa para a webcam, é claro.
Muita gente diz que intimidade demais tira a graça dos relacionamentos que nascem nas redes sociais e aplicativos, onde o “calor da hora” e o agir quase por impulso têm um papel importante no tesão. Mas, sem ela, a paquera também pode ficar sem tempero e sexo por sexo, com o tempo e o acúmulo de sucessivas experiências, pode causar uma sensação de “mais do mesmo”.
Quem sabe os encontros “reais” no futuro, marcados para depois que a pandemia estiver controlada, não vão ser ainda mais intensos? E será que, depois de uma longa fase isolado em casa, o que a gente vai buscar no outro não vai ser justamente a possibilidade de mais intimidade? E, finalmente, aqueles “contatinhos” que não passarem no “teste do vídeo” e na “fase do aquecimento” podem, quem sabe, render até boas e sólidas amizades para a vida. Aproveite, então, esse isolamento para exercer a criatividade também nos relacionamentos amorosos!
Para saber mais:
https://www.economist.com/international/2020/05/09/casual-sex-is-out-companionship-is-in?cid1=cust/ednew/n/bl/n/2020/05/7n/owned/n/n/nwl/n/n/NA/468836/n
https://arxiv.org/pdf/1709.10478.pdf