Redação Publicado em 23/04/2021, às 19h00
No início da pandemia de Covid-19, pouco se sabia sobre a doença e, ao longo do último ano, foram inúmeras as descobertas sobre como o vírus é transmitido, quais os grupos de risco e as práticas de prevenção. Entretanto, a forma como a Covid-19 impacta a saúde de gestantes e recém-nascidos ainda é um ponto que gera muitas dúvidas.
Nesse cenário, pesquisadores de Massachusetts (Estados Unidos) realizaram um novo estudo que revelou que a transmissão do vírus da mãe para o bebê é um evento raro, porém os recém-nascidos de gestantes contaminadas pela Covid-19 podem sofrer riscos indiretos à saúde como consequência do agravamento da doença materna.
De acordo com os autores do artigo, publicado no JAMA Network Open, havia muito poucos dados para orientar práticas de cuidados com bebês baseadas em evidências no início da pandemia e, ao analisar os resultados, eles esperavam que o modo de parto e/ou o grau da doença pudessem aumentar o risco de infecção nos recém-nascidos, mas não foi esse o caso.
Realizando um acompanhamento durante o primeiro mês de vida de bebês nascidos em 11 hospitais – o que representa aproximadamente 50% de todos os nascimentos em Massachusetts – a equipe identificou 255 recém-nascidos entregues entre 01 de março a 31 de julho de 2020, para mães que tinham um resultado positivo recente para Covid-19.
Dos 255 bebês estudados, 88,2% foram testados para Sars-CoV-2 e apenas 2,2% apresentaram resultados positivos. Entretanto, mesmo com as taxas de infecção mãe-bebê relativamente baixas, o agravamento da doença materna representou 73,9% dos nascimentos prematuros.
Vale lembrar que o parto prematuro pode, muitas vezes, levar a complicações agudas e crônicas, incluindo dificuldade respiratória, problemas crônicos de saúde e de desenvolvimento.
Segundo os pesquisadores, os resultados revelaram que muito poucos bebês apresentaram testes positivos, mas, em vez disso, o impacto da Covid-19 no recém-nascido foi o parto prematuro, geralmente motivado pelo agravamento da doença da mãe.
A pesquisa também trouxe outros indicadores de efeitos edversos sobre a saúde infantil como o baixo ou muito baixo peso ao nascer, necessidade de reanimação na sala de parto, tempo de internação hospitalar e utilização de cuidados de saúde para consultas não rotineiras no prazo de um mês após a alta.
Diante dos resultados, a equipe constatou que os impactos a curto prazo estavam mais intimamente associados ao nascimento prematuro e suas consequências, e não à infecção do recém-nascido com o vírus.
Com os dados do estudo, foi possível observar que bebês de mães socialmente vulneráveis apresentavam risco aumentado para teste positivo da Covid-19: cinco vezes mais chances de contrairem a doença.
Segundo os pesquisadores, os indícios de como essa vulnerabilidade pode afetar a transmissão mãe-bebê incluem o acesso diferenciado aos serviços de saúde e a discriminação que, também pode ser um fator de estresse crônico e, consequentemente, diminuir as respostas imunológicas do corpo contra o vírus.
Embora as taxas de infecção neonatal sejam mínimas, é importante estar atento aos recém-nascidos e quaisquer sinais atípicos da doença. Para os autores, novas pesquisas sobre a transmissão da Covid-19 de mãe para filho devem incluir também mulheres que contraíram a doença no início da gravidez, com objetivo de identificar qual o período de maior fragilidade, tanto da mãe como do bebê, ao vírus durante a gestação.
Além disso, estudos futuros de todos os níveis, inclusive com gestantes já imunizadas contra a doença, são fundamentais para informar a janela ideal para realizar a vacinação dos recém-nascidos.
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