Estudos alertam para risco de doenças que não respondem a tratamentos convencionais
Redação Publicado em 06/04/2021, às 15h01
O uso excessivo de mediamentos sem efeito para o tratamento da Covid-19, como antibióticos, antiparasitários e, inclusive, a hidroxicloroquina, ainda pode trazer um enorme problema para o Brasil, assim como para outros países num futuro breve: o surgimento de microrganismos resistentes, como as populares “superbactérias”.
O alerta vem de diferentes grupos de pesquisadores que vêm investigando esse risco. Uma delas é o consórcio internacional MetaSub, que reúne cientistas especializados em genômica, análise de dados, engenharia, epidemiologia e saúde pública. A equipe chegou à conclusão após analisar um estudo com mapeamento de microbiota (variedade e quantidade de bactérias, fungos, vírus e outros microrganismos). Os resultados foram publicados no periódico Lancet Microbe.
De acordo com o A.C.Camargo Cancer Center, em São Paulo (um dos participantes do consórcio), o aumento no fluxo hospitalar é um fator agravante, já que, com hospitais operando além de suas capacidades, e pacientes com função imunológica prejudicada pelo coronavírus, o risco de coinfecções (pessoas com duas infecções diferentes ao mesmo tempo) teve um aumento substancial.
Outra pesquisa com foco exclusivo no uso indevido de antibióticos é do Insituto Pew, nos EUA, que contou com quase 5 mil pacientes atendidos em hospitais nos primeiros seis meses da pandemia. Na época, mais da metade dos médicos prescreveram esses medicamentos antes de os exames apontarem se havia, ou não, uma infecção bacteriana, a fim de evitar uma progressão que colocasse os pacientes em risco.
Os antibióticos não agem contra infecções virais e, além disso, quanto mais esses medicamentos são utilizados, mais rápido é o desenvolvimento de resistência, o que aumenta o risco do surgimento de infecções bacterianas que não respondem ao tratamento convencional. O lançamento de novos antibióticos no mercado é algo que leva anos para acontecer, por isso microrganismos resistentes são uma ameaça grave à saúde no mundo todo.
Só nos EUA, pelo menos 2,8 milhões de pessoas desenvolvem uma infecção resistente e 35 mil morrem por causa disso a cada ano, de acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC).
Um estudo anterior do consórcio do qual o Brasil faz parte, publicado na Nature, já havia apontado padrões de colonização microbiana alterados e preocupantes, que pode levar a maior diversidade de reservatórios de genes de resistência antimicrobiana.
Os pesquisadores do consórcio também afirmam que o uso de drogas com efeito antiparasitário, antivirais diversos e anti-inflamatórios para prevenir infecções secundárias em pacientes com Covid ao longo de toda a pandemia também pode ter um impacto ainda não conhecido na saúde. Além do já mencionado agravamento da resistência a antimicrobianos, tanto no corpo humano quanto no ambiente hospitalar.
Segundo Emmanuel Dias-Neto, cientista chefe do Laboratório de Genômica Médica do Centro Internacional de Pesquisas do A.C.Camargo Cancer Center houve o uso indevido de vários medicamentos. Os pacientes que utilizaram esses agentes antivirais e antibióticos podem ter alterações na microbiota que pode ser propícia à emergência e disseminação de resistência a múltiplas drogas, ou mesmo ao desencadeamento de outras doenças.
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