Cármen Guaresemin Publicado em 29/10/2021, às 10h00
Crianças adoram não só se fantasiar, como também se maquiar e usar adereços e acessórios. Mas é importante frisar que as muito pequenas não devem usar maquiagem, pois a pele delas é bem mais fina e sensível que a dos adultos. Desse modo, as substâncias químicas presentes são absorvidas com maior intensidade, o que aumenta as chances de aparecerem reações alérgicas e dermatite.
Segundo os médicos dermatologistas, antes dos 3 anos, o uso está proibido. A partir dos 4, as crianças podem usar, mas só os produtos feitos especialmente para elas, e que sejam hipoalergênicos. Nunca deixe que os pequenos usem maquiagem consideradas brinquedos, aquelas feitas para bonecas, pois elas são criadas para brincar. E é importante que os pais ou responsáveis fiquem responsáveis por retirarem os produtos da pele com água e sabonete neutro, limpando delicadamente e sem deixar resíduos.
É preciso lembrar que maquiagem não é testada em crianças, por isso, até mesmo os itens voltados a elas podem causar algum problema na pele. Além disso, os sinais de alergia podem aparecer em até 24 horas após a exposição ao produto. Outro ponto relevante é procurar, nas embalagens, o selo de registro da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).
“Vários agentes de uso tópico podem apresentar toxicidade sistêmica dependendo da substância, da concentração e/ou da extensão em que são aplicados. Considerando, na criança, a relação entre superfície e peso corpóreo. Além da toxicidade, há uma preocupação com as dermatites de contato primárias e alérgicas. O recomendado é que sejam utilizados produtos liberados pelos órgãos regulatórios para determinada idade”, aconselha o dermatologista Daniel Cassiano, membro da SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia) e professor da Universidade São Camilo.
Ele, porém, enfatiza que o fato de ter liberação do órgão regulador não isenta a criança de desenvolver dermatite de contato a determinado produto. “Como isso é muito pessoal, caso a criança inicie quadro de prurido [coceira], eritema [manchas vermelhas] e descamação nos locais de aplicação da maquiagem, deve-se suspender imediatamente o uso e os pais devem procurar um dermatologista”, adverte.
A dermatologista e membro da SBD Patrícia Mafra comenta que, além da maquiagem, as tintas à base de água, usadas para criar personagens e pintar a pele, também precisam ser hipoalergênicas. Quanto aos brilhos, ela diz que podem ser usados esporadicamente e sempre observando a tolerância da pele. “Se apresentar alguma irritação, retirar imediatamente e não repetir o uso. Na hora de selecionar os produtos, se atentar para o rótulo. Isto porque produtos com muitos metais aumentam a chance de irritação e, alguns deles, como, por exemplo, o chumbo, que pode ser frequentemente encontrado nos batons e maquiagens mais coloridas, podem provocar intoxicação nas crianças. O que provoca alguns efeitos maléficos, como insônia ou cansaço excessivo”, afirma.
Após a escolha dos produtos, sempre verificando a data de validade, é importante preparar a pele da criança, ou melhor, protegê-la. Para isso, antes de mais nada, use um hidratante também hipoalergênico. Quando for aplicar a maquiagem, escolha esponjas e pincéis macios para não irritar a pele dos pequenos. Procure evitar as áreas muito próximas dos olhos, que são as mais sensíveis.
Quanto a adesivos, adereços e acessórios, a dermatologista explica que os cuidados que devemos ter é devido, também, ao risco de irritação e alergias na pele. Assim, ela recomenda usá-los com cautela e não deixá-los muito tempo em contato com a pele. Na hora da limpeza, remover completamente para que não fique nenhum tipo se resíduo e, em seguida, hidratar bem a pele com um creme hipoalergênico e sem fragrância.
No caso dos adolescentes, os cuidados são parecidos. Porém, Cassiano lembra que a constituição da pele deles e dos adultos é muito semelhante, principalmente após a puberdade, período em que há aumento da secreção sebácea. “Dessa forma, os produtos utilizados por adultos podem ser utilizados por adolescentes sem grandes problemas. Talvez, o único cuidado que deva ser acrescentado é com relação aos que têm acne vulgar, já que algumas maquiagens ou tintas vêm em veículos mais oleosos e podem piorar o quadro inflamatório”.
As brincadeiras acabaram? Limpe a pele da criança o mais rápido possível. Antes do sabonete, passe um demaquilante que seja oil free e sem álcool na composição. Porém, o pós-festa é igual para todas as idades. Patrícia indica que seja feita uma boa hidratação após a retirada da maquiagem e limpeza da pele. Ela lembra que, atualmente, podemos achar uma gama de produtos com propriedades calmantes. Uma boa opção é passar água termal.
“O uso de maquiagens em situações específicas e de forma esporádica, como, por exemplo, nas festas de Carnaval e Halloween, pode ser feito com os devidos cuidados. Porém, o uso frequente ou diário deve ser desencorajado até a adolescência. Crianças ainda não têm noção de como se ter uma boa rotina de skincare. Elas têm a pele muito sensível e são mais propensas a irritações. O acúmulo de resíduos na pele, em longo prazo, pode entupir os poros e aumentar a chance de acne, oleosidade ou outros problemas como as dermatites de contato”, finaliza.
A Anvisa possui um guia sobre cosméticos para criança. Uma das primeiras dicas da entidade é procurar na embalagem a indicação do registro do produto, que pode ser precedida pelas iniciais MS, ANVS ou pelo nome Anvisa seguido de um número com 9 ou 13 dígitos, que sempre se inicia com o número 2. Antes de serem registrados, os produtos passam por uma detalhada análise técnica na qual se verifica a conformidade com a legislação sanitária vigente, incluindo análise da segurança do produto e os dizeres de rotulagem.
Um dos requisitos da maquiagem infantil é “ter baixo poder de fixação e ser facilmente removida da pele com água. Cada tonalidade de blush e rouge deve ser testada antes de ser comercializada, para se avaliar o potencial de irritação, sensibilização e toxicidade oral. Além disso, a Anvisa permite que as maquiagens contenham substâncias que possuam gosto ruim (amargo) para evitar que a criança leve o produto à boca”.
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