Jairo Bouer Publicado em 27/04/2020, às 12h50 - Atualizado às 12h59
Um estudo publicado na última sexta-feira (24), nos EUA, traz um alerta importante para todo mundo: quem confia apenas nas redes sociais ou nos agregadores de notícias como fonte única de informações sobre a covid-19 é mais propenso a acreditar em teorias conspiratórias sem qualquer fundamento científico. E isso pode ter consequências para a saúde de todo mundo.
O estudo, realizado por pesquisadores do Centro Annenberg de Políticas Públicas das universidades da Pensilvânia e de Illinois, contou com uma amostra de mais de 1.000 adultos, e tem uma margem de erro de mais ou menos 3,57%. As entrevistas foram feitas no início de março, quando os números de infecções no país ainda não eram tão altos. Atualmente, os EUA são o país com maior número de mortes pela doença.
A análise mostrou que o público que confiou apenas em meios de comunicação mais conservadores (como a Fox News), bem como nas redes sociais (como Facebook, YouTube e Twitter) e nos agregadores de notícias (como Google News, Yahoo news etc), foram mais propensos a acreditar em dados para os quais faltam evidências ou até qualquer base científica, como você vê abaixo:
– 23% tinham certeza ou achavam provável que o novo coronavírus tenha sido criado como arma biológica pelos chineses. Muitos (10%) ainda afirmavam que o responsável pelo desenvolvimento do agente causador da covid-19 deveria ser o próprio governo norte-americano. Não há nenhuma evidência científica para ambas as teorias.
– 21% achavam provável ou certo que a vitamina C pode evitar a infecção por covid-19, recomendação para a qual faltam evidências;
– 19% achavam provável ou certo que autoridades médicas exageraram na avaliação dos riscos do coronavírus para prejudicar a imagem do presidente Donald Trump, que minimizou a pandemia no início.
Quem confiou nas fontes de informação citadas também foi menos propenso a acreditar que lavar bem as mãos é a melhor arma contra a transmissão do vírus. E essa tem sido a principal recomendação divulgada pelos médicos desde o início. Dar mais importância a boatos, portanto, pode afastar as pessoas de verdades simples, como a importância da higiene para a prevenção de doenças.
O exemplo acima é apenas uma das consequências possíveis da disseminação de teorias conspiratórias, segundo uma meta-análise (tipo de revisão de estudos científicos) sobre o tema publicada no ano passado por pesquisadores da Universidade de Lübeck, na Alemanha. O preconceito é outro problema comum associado a esses pensamentos, de acordo com o trabalho.
Muitos estudos, feitos nos últimos anos, têm tentado desvendar o que está por trás da crença de que grandes tragédias podem ser explicadas por planos mirabolantes de alguém, ou de algum país, em busca de vantagens econômicas.
Com tantos escândalos reais que circulam nos sites de notícias e nas redes sociais, é natural que as pessoas deixem de ser ingênuas. Mas é preciso tomar cuidado com generalizações. Quem acha que todo mundo tem más intenções pode cair na tentação de ser antiético também, e reproduzir aquilo que tanto critica nos outros.
No caso da covid-19, informações falsas ou sem comprovação podem atrasar o controle da pandemia. Por isso, antes de compartilhar qualquer teoria conspiratória, faça uma pesquisa em sites oficiais, como o do Ministério da Saúde (https://www.saude.gov.br/fakenews ou https://coronavirus.saude.gov.br/) e de grandes veículos de comunicação, que têm, na medida do possível, investigado ou se pronunciado sobre as principais “fake news” que circulam por aí.
Para saber mais (em inglês):
“Use of Conservative and Social Media Linked with COVID-19 Misinformation”
https://misinforeview.hks.harvard.edu/article/the-relation-between-media-consumption-and-misinformation-at-the-outset-of-the-sars-cov-2-pandemic-in-the-us
Centro Annenberg de Políticas Públicas:
https://www.annenbergpublicpolicycenter.org/
“A Systematic Review and Meta-Analysis of Psychological Research on Conspiracy Beliefs: Field Characteristics, Measurement Instruments, and Associations With Personality Traits”
https://www.frontiersin.org/articles/10.3389/fpsyg.2019.00205/full