Redação Publicado em 16/08/2021, às 18h00
Plataformas de mídia social – como o Facebook e o Twitter – amplificam e encorajam expressões de indignação de seus usuários ao longo do tempo, pelo fato de que essa linguagem é recompensada com “curtidas” e “compartilhamentos”, mostra um novo estudo da Universidade de Yale (Estados Unidos).
A pesquisa, publicada na revista Science Advances, da Associação Americana para o Avanço da Ciência, indica, ainda, que esse processo tem maior influência sobre as pessoas conectadas com redes consideradas politicamente moderadas.
De acordo com os pesquisadores, os incentivos gerados pelas mídias sociais estão mudando o tom das conversas sobre política na internet. Por isso, a equipe analisou a expressão de indignação durante eventos controversos da vida real e estudou os comportamentos dos usuários em experimentos para testar se os algoritmos das redes sociais - que recompensam as pessoas por postar conteúdo popular, ou seja, que geram muitas curtidas e compartilhamentos - encorajam às expressões de revolta.
A indignação pode ser uma força para o bem social, motivando a punição de preconceitos, promovendo a cooperação entre os indivíduos e estimulando as mudanças sociais. Mas, por outro lado, de acordo com os pesquisadores, também pode contribuir para o ataque a grupos minoritários, a disseminação de desinformação e a polarização política.
As plataformas de mídias sociais argumentam que apenas fornecem um espaço neutro para que as pessoas conversem entre si da mesma forma que aconteceria em qualquer outro lugar. Entretanto, muitos especulam que esses espaços, devido aos algoritmos, amplificam a indignação. E foi exatamente isso que a equipe de Yale analisou.
Para o estudo, os pesquisadores montaram um programa capaz de rastrear posts de indignação no Twitter.Observando 12,7 milhões de tweets de 7.331 usuários, a equipe usou o software para testar se eles expressaram mais esse sentimento ao longo do tempo e, se sim, por qual razão.
Confira:
Os autores descobriram que os incentivos das plataformas de mídia social, como o Twitter, realmente mudam a forma como as pessoas postam. Ou seja, usuários que receberam mais “curtidas” e “retweets” quando expressaram a sua revolta em um tweet eram mais propensos a fazer o mesmo em postagens posteriores.
Para apoiar esses achados, eles ainda realizaram experimentos comportamentais controlados para demonstrar que ser recompensado faz com que os usuários aumentem a expressão da indignação ao longo do tempo.
Os resultados, segundo os pesquisadores, também sugerem uma ligação preocupante entre os debates atuais sobre o papel das mídias sociais na polarização da política.A pesquisa revela que integrantes de redes politicamente extremas expressam mais indignação do que os de redes politicamente moderadas. No entanto, estes últimos são, na verdade, mais influenciados pela lógica da recompensa.
Em outras palavras, os achados constatam que pessoas com amigos e seguidores politicamente moderados são mais sensíveis ao feedback social que reforça suas expressões de indignação, o que sugere um mecanismo pelo qual grupos moderados podem se radicalizar politicamente ao longo do tempo.
Ainda de acordo com os pesquisadores, o estudo não tem o objetivo de dizer se a amplificação e encorajamento da expressão de revolta por parte dos usuários das redes sociais é algo positivo ou negativo para a sociedade. Mas é importante deixar claro que esse é um modelo de negócios que desempenha um papel crucial na mudança social e política. Assim, é fundamental ter consciência de que isso pode influenciar o sucesso ou fracasso de movimentos coletivos, por exemplo.
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