Redação Publicado em 13/05/2021, às 15h30
Quase metade (47,5%) das mulheres com bebês de seis meses ou menos atingiram o limite para a depressão pós-parto durante o primeiro bloqueio da pandemia de Covid-19, no ano passado. A porcentagem é mais do que o dobro das taxas médias para a Europa antes deste período (23%).
Os achados são de uma nova pesquisa feita pela University College London(Reino Unido), publicados recentemente no periódioco Frontiers in Psychology. As mulheres participantes relataram sentimentos de isolamento, exaustão, preocupação, inadequação, culpa e o aumento do estresse.
Muitas lamentaram ainda pelo que sentiram ser oportunidades perdidas para elas e seus bebês, além de se mostrarem preocupadas com o impacto do isolamento social no desenvolvimento dos filhos.
As mães cujos parceiros(as) não estavam disponíveis para ajudar com os cuidados e tarefas domésticas, principalmente aquelas que também precisavam dar conta das demandas da educação domiciliar, sentiram os aspectos negativos da pandemia de uma forma mais aguda.
Os pesquisadores entrevistaram 162 mães em Londres entre maio e junho de 2020. Por meio de questionários on-line, as participantes listaram até 25 pessoas que eram importantes para elas e compartilharam com quem haviam interagido e como: pessoalmente, por telefone, chamada de vídeo ou mensagens nas redes sociais.
A depressão foi avaliada com base na Escala de Depressão Pós-parto de Edimburgo, a ferramenta mais utilizada para esse fim. Isso permitiu que a equipe capturasse tanto as interações sociais das mães como a saúde mental de cada uma.
As descobertas mostraram que quanto mais contato as mães tiveram com outras pessoas, seja remotamente ou pessoalmente, menos sintomas depressivos elas relataram, o que sugere que a redução do contato social durante a pandemia pode ter aumentado o risco de depressão pós-parto.
No entanto, as mulheres que mantiveram algum contato cara a cara com membros da família eram mais propensas a ter sintomas depressivos do que mães que viam menos seus parentes. Os pesquisadores acreditam que isso seja reflexo da reação da família às mães que estavam tentando lidar com a sua saúde mental.
Muitas mulheres disseram achar que o isolamento social criava um “fardo de maternidade constante”, sem ninguém por perto para ajudar. Mesmo que o contato virtual – por mensagem, telefone, vídeo – ajudasse, ainda era insuficiente.
Cuidar de um novo bebê é um desafio e todas as novas mães sofrem algum nível de exaustão mental, física e emocional. O baixo apoio social é um dos principais fatores de risco para o desenvolvimento da depressão pós-parto.
Com as medidas de distanciamento social durante a pandemia, criaram-se barreiras para ter ajuda prática e apoio significativo nas semanas e meses após a chegada de um filho, levando muitas mães a se sentirem totalmente sobrecarregadas.
Para os autores, é necessária uma espécie de “aldeia” para criar uma criança, especialmente em meio a uma crise em que todos estão lidando com demandas, estresses e eventos significativos. A pesquisa mostra que o confinamento deixa as mães de bebês pequenos mais vulneráveis à depressão pós-parto - e que a tecnologia pode ajudar, mas não é a solução.
Ainda segundo os pesquisadores, mulheres com mais de um filho foram mais atingidas, porque precisaram lidar com recém-nascidos e múltiplas demandas, como a educação domiciliar. As mães de primeira viagem, muitas vezes, se sentiram “roubadas” do precioso tempo gasto com seus bebês e familiares ou amigos, tornando ainda mais difícil aceitar a mudança de identidade que costuma acompanhar a chegada da maternidade.
Porém, nem tudo o que essas mulheres experimentaram como resultado do isolamento social foi negativo. Algumas relataram que o confinamento “protegia” o tempo em família, fortalecendo a ligação entre os membros. Outro benefício pontuado foi ter o parceiro ou parceira mais perto para divisão de tarefas e apoio.
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