Condição tem impacto sobre a saúde mental de pacientes e familiares, bem como sobre a vida em sociedade
Redação Publicado em 15/09/2021, às 13h00
A dermatite atópica é uma doença genética, crônica e não contagiosa, cujos principais sintomas são pele seca e erupções que coçam, provocando a descamação da região afetada. Ela acomete principalmente braços, joelhos e pescoço. Rosana Lazzarini, assessora do Departamento de Alergia Dermatológica e Dermatoses Ocupacionais da SBD, destaca que, apesar do incômodo, esse problema de saúde dermatológico tem tratamento.
Segundo conta, o tratamento a ser prescrito dependerá da idade do paciente e da gravidade da doença. “Podem ser utilizadas medicações com ação anti-inflamatória, aplicadas diretamente na pele, por alguns períodos. São cremes ou pomadas (corticosteróides e inibidores da calcineurina), que devem ser adequados à faixa etária do usuário e à localização das manifestações da DA”, ressaltou.
Em alguns casos, os médicos podem indicar ainda medicações orais, na tentativa de reduzir a coceira. Eventualmente, ainda há possibilidade de uso de antibióticos, quando há infecção concomitante. Já o emprego de emolientes e hidratantes é indicado para todos, independentemente da idade. Esses produtos podem ser aplicados de forma constante sobre a pele, em todas as faixas etárias. A assessora alerta ainda para outras medidas que ajudam a evitar o surgimento de lesões e coceira: a adoção de sabonete suave (com pH próximo ao da pele) e o controle da temperatura da água do banho, que não deve ser quente.
Em situações de maior gravidade, Rosana avisa serem necessários tratamentos mais complexos, como fototerapia (uso de radiação ultravioleta de maneira controlada), que auxilia a diminuir a inflamação da pele; e prescrição de imunossupressores (metrotexato, ciclosporina, azatioprina) e de imunomoduladores (dupilumabe, inibidores de JAK - janus quinase). Assistência em ambiente hospitalar não é descartada: “internações podem ser necessárias em casos muito graves, para controle da doença”, afirmou.
Por ser de origem genética, até o momento são desconhecidas formas objetivas de prevenção da dermatite atópica. Por conta disso, a especialista da SBD chama a atenção para a importância das medidas de tratamento e controle da doença. Nesse sentido, independentemente de diagnóstico, Rosana Lazzarini acredita que a hidratação da pele é uma prática que deve ser incorporada à rotina desde cedo, assim como a adoção de banhos rápidos, com água morna ou fria, e o uso de sabonetes suaves.
Ela lembra ainda a influência que o ambiente tem sobre a doença. O calor em excesso piora as lesões. Por sua vez, o clima frio e seco aumenta o ressecamento da pele, o que agrava a coceira relacionada. Sabe-se ainda que a frequência da dermatite atópica atinge mais moradores de áreas urbanas do que os de regiões rurais.
Rosana Lazzarini também chama atenção para o impacto que a dermatite atópica tem sobre a saúde mental de pacientes e familiares, bem como sobre a vida em sociedade. “A dermatite atópica traz impactos psicológicos, principalmente em casos mais intensos. Isso decorre de ser aparente e causar distúrbios do sono. Pacientes com DA têm muita coceira nas lesões, o que não os deixa dormir de maneira adequada. Quando são crianças, os pais sofrem do mesmo problema, pois o incômodo causado prejudica o repouso de toda a família”, complementa.
Finalmente, a especialista enfatiza outro fator que dificulta a vida dos pacientes: a doença pode passar despercebida por médicos que não são dermatologistas. Assim, o atraso no diagnóstico, retardará também o início do tratamento. “O reconhecimento precoce da dermatite atópica pelo especialista é fundamental para uma melhor qualidade de vida do paciente. Portanto, essa campanha da SBD [veja a seguir] reforça a necessidade de termos mais ações de esclarecimento e difusão sobre a doença, inclusive entre os profissionais da medicina”, finaliza.
Para conscientizar mais pessoas sobre a dermatite atópica, a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) realiza entre 14 e 30 de setembro diversas ações para a atualização e conscientização de médicos e da população sobre a dermatite atópica (DA). A campanha inclui a postagem de conteúdos (posts e vídeos) nas redes sociais, a realização de lives sobre o tema, a sensibilização de gestores sobre a importância de qualificar a assistência dos pacientes com esse quadro e a divulgação em massa de dados e informações que ajudem a entender o desafio de se diagnosticar e tratar essa doença, em suas diferentes formas.
Sob o slogan “Dermatite atópica: atenção e cuidado com a sua pele”, a campanha tem início em 14 de setembro, data mundialmente dedicada à conscientização sobre a doença. Nas semanas seguintes, a SBD abordará a população sobre diversos aspectos, como o caráter imunomediado da DA, que a torna uma doença não contagiosa. Também serão ressaltados a identificação de sinais e sintomas e as medidas que ajudam no controle do desconforto causado por conta da coceira, espessamento da pele, inflamação de áreas afetadas e recorrência dos quadros.
Em 23 de setembro, Dia Nacional de Conscientização sobre Dermatite Atópica, a SBD realiza uma live – voltada para a população em geral – onde essas e outras questões serão abordadas por especialistas convidados. O encontro, organizado em parceria com a revista Crescer, terá atenção especial para os casos de DA no público infantil. A transmissão ocorrerá, entre 19h30 e 20h30, pelos perfis da publicação no Facebook e no Instagram.
Além dessa abordagem, a SBD divulgará uma série de vídeos curtos, em que dermatologistas responderão de forma objetiva dúvidas comuns de pacientes e familiares. Para os associados da instituição, uma atividade feita sob medida acontecerá no dia 21 de setembro, quando, em outra live, os participantes terão acesso a informações técnicas e científicas atualizadas, o que ajudará no aperfeiçoamento da sua conduta clínica e de suas escolhas terapêuticas. A campanha conta com o apoio institucional de empresas como Sanofi, Lilly, Abbvie e Pfizer.
Ao longo do mês, outras iniciativas serão realizadas pela SBD em torno desse tema de saúde pública. Dentre elas, a divulgação dos resultados de uma pesquisa sobre a percepção dos brasileiros sobre a doença. Para o presidente da SBD, Mauro Enokihara, a campanha supre uma lacuna no que se refere à conscientização dos brasileiros sobre o que é a dermatite atópica. “Apesar de atingir milhões de pessoas, em algumas situações de forma grave, essa doença não costuma ser discutida com a profundidade que merece. Isso implica prolongar situações de perda de qualidade de vida e de bem-estar para pacientes. Esperamos que com este alerta a situação mude”, disse.
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