Descomplicando a higiene oral

A escovação era realizada com escovas dentais com poucas cerdas não muito macias e cremes dentais muitos abrasivos

Dr. Hugo Roberto Lewgoy Publicado em 12/07/2022, às 12h00

Há pouco tempo, a escovação era realizada com escovas dentais com poucas cerdas não muito macias - iStock

A realização da higiene oral de forma correta é, sem dúvida, o melhor caminho para a prevenção das doenças que incidem em nossa boca. Aliás, essa afirmação não se restringe apenas à cavidade oral e/ou está relacionada exclusivamente à estética e à função mastigatória dos dentes.

Atualmente, está comprovada a relação das doenças orais com um grande número de condições sistêmicas, como diabetes, doenças cardiovasculares, respiratórias e gastrointestinais, acidente vascular cerebral (AVC) e até mesmo Alzheimer. Logicamente, esse reflexo na saúde geral interfere diretamente na qualidade de vida das pessoas e amplifica a importância da prevenção. É como diz o velho ditado: “A saúde começa pela boca”.

A preocupação com a higiene oral é muito antiga e possui muitas evidências ao longo da história, mas, atualmente, o que existe de mais moderno em termos de prevenção das cáries e doenças das gengivas (doenças periodontais) é a filosofia iTOP de saúde oral. Esta sigla, em inglês, significa individually Trained Oral Prophylaxis e pode ser traduzida como “Higiene Oral Treinada Individualmente”. Esta filosofia preconiza uma higienização efetiva, atraumática e motivacional da chamada placa bacteriana ou biofilme oral, que se deposita constantemente sobre os dentes.

Cerdas ultramacias

Há pouco tempo, a escovação era realizada com escovas dentais com poucas cerdas não muito macias e cremes dentais muitos abrasivos. Na filosofia iTOP, isso foi alterado para uma grande quantidade de cerdas do tipo ultramacias e utilização de cremes dentais não abrasivos. Pode parecer uma diferença sutil, porém, isso modifica completamente a eficiência da escovação. Para facilitar o raciocínio imaginemos um piso de madeira com uma superfície lisa e brilhante onde depositamos um pacote de açúcar em dois pontos diferentes. Em um deles fazemos a remoção com uma escova de pelos bem macia e no outro com um escovão de fibras de piaçaba.

No local onde o açúcar for removido com a escova de pelos macios, a superfície permanecerá lisa e brilhante e, no outro, ficará toda riscada e fosca. Por analogia, é exatamente isso que ocorre no esmalte dos dentes quando utilizamos escovas dentais com poucas e duras cerdas em comparação às escovas com muitas cerdas ultramacias. Além da quantidade de cerdas, na filosofia iTOP o nylon foi substituído por um tipo de microfibra ultramacia chamada Curen, ou seja, ocorreu uma modificação na quantidade e qualidade das cerdas das escovas dentais.

É importante também realizar a escovação dos dentes com uma técnica apropriada, além das escovas adequadas. A escovação deve ser realizada com movimentos circulares rápidos, totalmente sem força ou “pressão”, dente a dente sempre de forma sequencial. A cabeça da escova deve ser inclinada em um ângulo de aproximadamente 45 graus em relação a superfície dos dentes, posicionando metade das cerdas sobre a gengiva e metade sobre o dente que está sendo higienizado. Dessa forma, as cerdas penetram suavemente nos sulcos gengivais e limpam as margens localizadas entre os dentes e gengivas. A empunhadura do cabo deve ser feita com a ponta dos dedos, como se estivéssemos segurando uma caneta ou pincel, pois isso previne que se utilize uma força exagerada.

Escovas interdentais

Outro ponto importantíssimo é a higienização da região de contato dos dentes. Nesse local existem depressões, irregularidades e concavidades que até mesmo o fio ou fita dental não conseguem acessar. O fio dental é muito bom para a remoção de detritos alimentares, porém, as escovas interdentais devem estar presentes na higienização bucal diária em conjunto com a escovação convencional.

Inclusive, desde 2021, a Federação Europeia de Periodontia (EFP) também passou a recomendar em seus guidelines o uso dessas escovas interdentais sempre que possível. A escova interdental deve ter um diâmetro adequado que permita o acesso à região localizada entre os dentes sem machucar a gengiva, o que pode ser obtido com escovas interdentais do tipo prime de diferentes diâmetros.

A higiene da língua, o uso cremes dentais de boa qualidade e dos enxaguatórios orais também são recursos coadjuvantes importantes, e sua utilização deve ser orientada por um cirurgião-dentista de confiança. Porém, sem sombra de dúvida, o uso diário das escovas interdentais, em conjunto com a utilização de escovas dentais convencionais, com uma grande quantidade de cerdas ultramacias, são os atores principais e garantem uma higiene oral perfeita, possibilitando a preservação de dentes bonitos e saudáveis por toda a vida.

*Hugo Roberto Lewgoy é especialista, mestre e Doutor pela Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo; Professor Colaborador do Instituto de Pesquisas Nucleares (Ipen) e do Mestrado Profissional em Biomateriais em Odontologia da Universidade Anhanguera (Unian); Pós-graduado em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP); Instrutor da filosofia individually Training Oral Prophylaxis (iTOP); Consultor Científico da Curaden Swiss.

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