Doutor Jairo
Leia

Desejo de contato social após isolamento é igual ao de comida após dia de jejum

Imagem Desejo de contato social após isolamento é igual ao de comida após dia de jejum

Da Redação Publicado em 24/11/2020, às 13h39 - Atualizado às 19h33

Um estudo realizado por neurocientistas do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) indica que o desejo de contato social que sentimos após um período de isolamento têm muitas semelhanças, no cérebro, com o desejo que sentimos por comida após um dia em jejum.

Os pesquisadores descobriram que, após algumas horas em confinamento, olhar para uma foto com pessoas se divertindo, juntas, é capaz de mexer com as mesmas regiões cerebrais que são ativadas quando uma pessoa faminta vê um prato de macarronada.

Crédito: Pixabay

Solidão é como sentir fome

De acordo com os pesquisadores do MIT, a solidão é um estado que motiva as pessoas a compensar a falta de conexões de alguma forma, assim como a fome.

Isso dá uma ideia do impacto que o isolamento social tem causado para todos nós nesta pandemia. Ter contato com outras pessoas é uma necessidade básica do ser humano, e pode ser tão importante quanto o apetite,  sensação sem a qual as pessoas morreriam de fome.

Os resultados do estudo, publicados na Nature Neuroscience, fazem parte de um projeto mais amplo focado no impacto do estresse social no comportamento e na motivação das pessoas.

É importante destacar que os experimentos foram feitos antes de a Covid-19 chegar. Os cientistas se inspiraram em um trabalho anterior, realizado em camundongos, e também em resultados prévios de pesquisas com seres humanos que indicavam uma base neurológica para o estresse provocado pela solidão.

Como o estudo foi feito

Para recriar a sensação em laboratório, os pesquisadores selecionaram 40 estudantes saudáveis e cada um deles ficou confinado em um quarto sem janelas por dez horas seguidas. Eles não podiam usar o telefone, e só entravam em contato com a equipe por meio de um computador quando precisavam ir ao banheiro.

Ao saírem de lá, os voluntários foram submetidos a exames de ressonância magnética. Como ninguém podia conversar antes ou durante o procedimento, todos foram orientados sobre como se posicionar para os testes antes de todo o experimento começar.

Durante os exames de imagem, os voluntários foram expostos a diferentes imagens, para que os pesquisadores pudessem observar quais regiões do cérebro eram ativadas. Eles se concentraram em uma pequena estrutura conhecida como “substância nigra”, associada ao desejo por comida e também à fissura experimentada por quem usa drogas.

Quem sofre mais com o isolamento

As reações dos voluntários ao isolamento variaram de acordo com os níveis de solidão prévios de cada um. Aqueles que já estavam mais acostumados a viver isolados apresentaram menos desejo por conexão, durante o experimento. Já aqueles que tinham uma vida social mais rica sofreram mais – isso ficou claro nos exames de imagem.

Os pesquisadores também puderam observar que, enquanto a substância nigra tem um papel mais genérico nos desejos, a fissura por contato social ou por comida ativam áreas diferentes e mais especializadas do cérebro.

Com todo esse conhecimento, a equipe espera estudar questões mais específicas no futuro, como os efeitos do isolamento em pessoas de diferentes idades, e o impacto dos contatos virtuais no nosso cérebro.

Enquanto não dá para fazer festa, que tal ligar todo dia para algum amigo ou parente querido e colocar a conversa em dia? O hábito pode trazer o mesmo conforto que um bom prato de comida.

Leia mais:

Solidão tem pico na faixa dos 20 e dos 40 anos, segundo pesquisadores

Não parece, mas a solidão pesa para os mais jovens

Assista, também, a outros vídeos no meu canal no YouTube