Redação Publicado em 14/06/2021, às 11h16
Embora os padrões de gênero estejam sendo quebrados, a ideia de que homens e mulheres têm uma função específica dentro de casa ainda é presente na cabeça de muitas pessoas. Isso se deve por inúmeros motivos, como idade, questões culturais e ensinamentos passados de geração a geração.
A questão é que, sabendo disso, dois sociólogos se juntaram e publicaram um estudo na American Sociological Review falando, exatamente, sobre como as normas de gênero, atreladas ao desemprego, podem afetar um relacionamento.
"Este estudo é realmente sobre como a associação entre o desemprego masculino e o divórcio ou separação varia entre os países", explica Gonalons-Pons, uma das autoras do estudo. "Isso também indica o quanto as opiniões sobre gênero realmente influenciam na duração dos relacionamentos românticos."
Para realizar a pesquisa, os sociólogos optaram por se concentrar em casais heterossexuais dos Estados Unidos e de mais 28 países de alta renda da Europa. Dessa forma, foram observados os lugares por ordem de mais conservador de gênero, onde cerca de um terço da população acredita que o papel do homem é de provedor, para mais progressivo em termos de gênero, onde esse número cai para cerca de 4%. No total, os pesquisadores acompanharam casais por quatro anos, em busca de eventos de desemprego, bem como separação ou divórcio.
Eles levantaram a hipótese de que em países conservadores de gênero, o estresse do desemprego dos homens não seria apenas financeiro, mas também relacionado às normas culturais. “Pensamos que quando um homem perde seu emprego e não consegue outro imediatamente, isso pode lançar uma pressão, um sentimento de fracasso ou falta de senso de status e identidade social”, diz Gonalons-Pons.
Os resultados se mostraram como os pesquisadores esperavam. Os países que valorizam mais o papel do homem como provedor experimentam uma associação mais forte entre o desemprego masculino e o rompimento do relacionamento, seja separação ou divórcio. Em lugares onde a ideia do "homem como chefe da família" não é tão forte, há menos críticas à identidade masculina após a perda do emprego.
Confira:
As descobertas fazem sentido para Gonalons-Pons. “Em um contexto mais hostil, um contexto de gênero conservador, o desemprego dos homens deixará um impacto psicológico mais negativo para o homem, que reverbera dentro do casal”, diz ela. “Você terá mais amigos e parentes dizendo: 'O que há de errado com seu parceiro? O que está acontecendo aqui?'. Isso não faz com que nenhuma das pessoas se sinta melhor e leva a essa pressão cultural que pode acentuar o estresse e, por fim, resultar em uma separação. "
Curiosamente, os pesquisadores não viram o mesmo efeito para casais que coabitam, uma descoberta que se alinha com pesquisas anteriores sobre casais não casados que vivem juntos. Gonalons-Pons suspeita que isso decorra do fato de que a pressão para se conformar às normas convencionais de gênero aumenta com o casamento.
Embora o trabalho como um todo tenha se concentrado em um subconjunto de países de alta renda e apenas em casais heterossexuais, os pesquisadores dizem que isso tem implicações mais amplas para outros lugares e outros tipos de relacionamento – embora as questões possam ser um pouco diferentes. Por exemplo, como essas crenças afetam a longevidade de uma parceria romântica entre dois homens ou duas mulheres?
“Essas ideias culturais criam suporte para aqueles que se enquadram nessas normas”, diz ela. "O outro lado é que eles criam pressão que pode afetar negativamente as pessoas que não o fazem."
Gonalons-Pons ressalta que seu trabalho não equivale a uma bola de cristal para nenhum relacionamento. “Nada disso quer dizer que se você quebrar uma norma de gênero, você está destinado a se separar”, diz ela. "É para destacar que essas normas são importantes; elas influenciam um relacionamento. As normas sociais são parte daquilo que molda o bem-estar de um casal."
Assista também: