Jairo Bouer Publicado em 15/01/2020, às 18h59 - Atualizado às 19h03
Muitos pais têm apelado para que os filhos não participem de sexting, ou seja, não enviem, nem armazenem fotos ou vídeos eróticos no celular. A preocupação é compreensível – não são poucos os casos em que esse conteúdo acaba vazando pela internet. Mas uma dupla de pesquisadores norte-americanos diz que mandar adolescentes evitarem a prática não funciona, e é tão ingênuo quanto pregar a abstinência sexual.
Em estudo publicado no Journal of Adolescent Health, pesquisadores das universidades de Florida Atlantic e de Isconsin-Eau Claire alerta que, em vez disso, pais e professores devem ensinar a tomar os devidos cuidados ao receber ou compartilhar “nudes” ou vídeos íntimos.
Os professores de criminologia Sameer Hinduja e Justin Patchin também dirigem o Centro de Pesquisas sobre Cyberbullying. Com dados coletados em abril do ano passado, eles descobriram que 14% dos jovens de 12 a 17 anos já enviaram imagens explícitas pelo celular, e 23% já receberam esse tipo de conteúdo. A amostra analisada contou com 5.000 garotos e garotas.
Em relação a levantamento semelhante feito em 2016, as proporções são 13% e 22% mais altas, respectivamente. Isso significa que a tendência é a prática ganhar espaço entre os adolescentes, para desespero dos pais.
Hinduja e Patchin explicam que participar de sexting nunca é 100% seguro. Mas existem estratégias que diminuem bastante os riscos associados à prática, como o de ter a intimidade exposta, sofrer humilhações, extorsões (também chamadas de “sextortion”) e até se envolver em processos criminais. Os danos à reputação podem ser permanentes, porque é impossível apagar cópias particulares de conteúdos que circulam na internet.
A dupla divulgou dez mensagens que pais e professores podem passar para os adolescentes sobre o tema. Elas são baseadas nas leis norte-americanas, mas valem para qualquer lugar:
1-Se alguém te mandar um sext, não envie para mais ninguém. No futuro isso pode ser considerado um compartilhamento não consensual de pornografia, o que é passível de penalidade (especialmente se a pessoa retratada é menor de idade);
2-Se você enviar um sext para alguém, tenha certeza de que conhece bem a pessoa e confia nela. Há muita gente que cria perfis falsos ou faz de conta que é alguém conhecido para engatar uma conversa e enviar ou pedir sexts;
3-Não envie imagens para alguém sem ter certeza absoluta que essa pessoa quer ver aquele conteúdo. Tenha a confirmação dela por escrito antes de enviar;
4-Dê preferência a imagens discretas, em estilo “boudoir” (sensuais, mas sem nudez). Garanta que as partes mais íntimas estejam cobertas;
5-Nunca, em hipótese alguma, deixe seu rosto aparecer num “nude”. Não só para que ninguém depois possa provar que é você, mas também porque as redes sociais possuem algoritmos de reconhecimento facial para tagueamento;
6-Garanta que as imagens não mostrem tatuagens, marcas de nascença, cicatrizes ou adereços que provem sua identidade. Fique de olho também no ambiente: evite que fotos, quadros ou a decoração permitam identificar seu quarto ou sua casa;
7-Desligue os serviços de localização das redes sociais e aplicativos que você costuma usar para evitar o tagueamento, e delete os metadados das imagens, aquelas informações anexadas aos arquivos digitais que podem levar à identificação de data, local e aparelho;
8-Se você for pressionado (a) a enviar “nudes”, procure coletar evidências disso (como cópias de tela ou mensagens de texto). Isso pode ajudar em uma eventual investigação futura ou pedido de remoção de contas nas redes sociais;
9-Procure usar aplicativos que permitam enviar imagens que sejam automaticamente deletadas depois de um tempo. Claro que há sempre o risco de uma pessoa fazer uma cópia, mas isso diminui o risco de distribuição;
10-Não deixe de deletar todas as imagens e vídeos explícitos do aparelho – as que tirou e recebeu. O armazenamento aumenta o risco de alguém, inclusive a polícia ou um hacker, encontrar esse material. Se a pessoa retratada for menor de idade, você pode ser responsabilizado (a) criminalmente.