Hoje, 31 de julho, é comemorado o Dia Mundial do Orgasmo. A data surgiu da iniciativa de sex shops britânicos que buscavam não só aumentar as vendas, como também ampliar o debate sobre a dificuldade de muitas pessoas em atingi-lo. Hoje, ainda que esses brinquedos sexuais sejam mais populares, deixam muitos homens com receio de serem comparados ou substituídos por eles.
Uma pesquisa feita com 1,5 mil usuários do Ysos, app direcionado a encontros casuais e liberais, revelou que o uso de sex toys em relações com mais de duas pessoas, seja no ménage à trois ou no swing, é bastante comum. Entre os perfis de homens, mulheres e casais, 55% dos respondentes já incrementaram o sexo com brinquedinhos. A educadora sexual e antropóloga Loren Kaiza, que também é fundadora de um sex shop, conta que já presenciou casais de clientes empolgados com um vibrador recém-adquirido e que usariam dali a poucas horas com uma amiga. Ela conta que em sua pesquisa de mestrado conheceu uma mulher que levava o vibrador para usar no swing com as parcerias femininas.
O orgasmo é uma experiência íntima e individual, e entender as diferenças entre o prazer dos homens e mulheres pode ajudar a aprimorar a relação, fortalecendo os laços. Por isso é fundamental entender o Orgasm Gap: termo usado para descrever a disparidade nos orgasmos entre os casais. Estudos o usaram para medir a satisfação sexual entre diferentes dados demográficos. Claro que uma vida sexual boa e saudável não pode ser medida apenas por quantos orgasmos as pessoas estão tendo. No entanto, estudos descobriram que há uma diferença considerável entre o número de orgasmos que homens e mulheres têm em relacionamentos heterossexuais.
De acordo com pesquisas, 95% dos homens heterossexuais costumam ter orgasmo, já entre as mulheres heterossexuais, 65% disseram que conseguem chegar lá, e 10% afirmam que nunca tiveram orgasmo. Das mulheres lésbicas ouvidas, 85% contam que costumam, sim, ter orgasmos. Por que as mulheres heterossexuais estão tendo pouco orgasmos? A resposta pode ser: pela falta de educação sexual e autoconhecimento do próprio corpo - pontos que são reforçados há décadas pelo tabu acerca do assunto. Nesse contexto, consequentemente, o orgasmo é algo mais atribuído ao homem, e muitas mulheres relatam não dar tempo de chegarem ao ápice do prazer, levando-as a acreditar até mesmo que possuem algum problema ou desinteresse sexual.
Marília Ponte, educadora sexual e COO da Feel & Lilit, marca de sexual wellness, lembra que a sexualidade feminina é complexa e envolve muitos fatores emocionais e físicos. Ela comenta que a estimulação do clitóris é essencial para muitas mulheres alcançarem o orgasmo, pois é uma área extremamente sensível, além de ser importante explorar diferentes técnicas de estimulação, desde o toque direto até a estimulação indireta ao redor da região. “Além disso, a conexão emocional e a criação de um ambiente de confiança e intimidade são fundamentais para que as mulheres se sintam à vontade para explorar seu prazer sexual”, diz.
Ela acrescenta que a mulher necessita de mais sangue para que o clitóris seja totalmente estimulado, fazendo com que fique bastante excitada. Enquanto que o homem precisa de menos sangue para que o pênis fique ereto e excitado. “Por isso, é indispensável saber como funciona cada corpo, cada tempo. Assim como a masturbação é extremamente importante para o autoconhecimento do próprio corpo, para que a mulher possa descobrir outras áreas erógenas e o que aumenta a sua excitação”, conclui.
Para 60% das mulheres, o beijo na boca é determinante para prever se uma relação terá sucesso ou não. Foi o que apontou uma pesquisa realizada com quase duas mil pessoas pela Universidade de Albany, no Canadá. O estudo também mostrou grandes diferenças no valor que homens e mulheres dão ao beijo. Enquanto 85% das mulheres disseram que não fariam sexo sem antes beijar o parceiro, apenas 50% dos homens afirmaram o mesmo.
Já uma pesquisa da Fundação Britânica do Coração descobriu que 18% das pessoas casadas passam até uma semana inteira sem beijar seus parceiros, enquanto 40% se beijam por apenas cinco segundos ou menos. Segundo Dani Fontinele, terapeuta sexual e sexóloga clínica; membro da Abrasex e apresentadora do Podcast Clitcast, o beijo erótico e apaixonado é capaz de provocar estímulos intensos como calor, calafrios e aumento da frequência cardíaca.
“Essa sensação de êxtase, que começa nos lábios, acontece graças à grande presença de terminações nervosas e de múltiplos receptores com densa capacidade para perceber, explorar e transmitir informações para o cérebro”, afirma Dani.
Segundo um estudo realizado pela Universidade de Barcelona, o beijo estimula a liberação de quatro neurotransmissores que geram diversas reações na mulher: a dopamina e serotonina (que aumentam o prazer), a epinefrina (que aumenta a frequência cardíaca, o tônus muscular e o suor) e a ocitocina (que gera bem-estar, afeto e confiança).
Também há liberação de outras substâncias, como a feniletilamina, que eleva o desejo sexual na mulher principalmente quando se trata do primeiro beijo (mesmo em relações diferentes). Já o óxido nítrico, que relaxa os vasos sanguíneos, provoca aumento do fluxo de sangue e, consequentemente, maior excitação e sensibilidade na região genital.
No entanto, de acordo com a pesquisa espanhola, o maior responsável pelo clímax da mulher está na troca de testosterona presente na saliva tanto do homem quanto da mulher. “Essa troca ativa o sistema cerebral primário por meio da testosterona da saliva, aumentando a receptividade sexual feminina. Tanto a mucosa labial quanto a mucosa genital são inervadas pela medula. Porém, a mucosa labial está mais próxima do cérebro, recebendo os estímulos sexuais de uma maneira mais eficaz. Por isso que a boca tem um grande potencial erótico”, explica Dani.
Assim, fica evidente que a falta ou a incompatibilidade do beijo durante a relação sexual pode afetar diretamente o orgasmo feminino. “Em um relacionamento de anos, o casal que tem o hábito de se beijar é mais propenso a ter uma boa performance sexual. Já para aqueles que se beijam pouco e com desinteresse, a tendência é que a intimidade sexual comece a se perder e até cessar”, finaliza.
Quando o assunto é orgasmo masculino, a falta de conhecimento pode ser maior, pois muitos homens têm vergonha de falar e buscar esclarecimentos sobre o assunto. Uma das principais dúvidas é: todas as vezes que o homem goza sai fluído? A resposta é não, pois existe o orgasmo seco, por exemplo.
Segundo o urologista e cofundador da Omens, João Brunhara, em alguns casos, o homem pode sentir as sensações do orgasmo sem expelir o sêmen. Isso se chama de anejaculação ou orgasmo seco, sendo dois casos bem diferentes. Ele acrescenta que, embora a ejaculação seja comum durante o orgasmo, é possível separar essas experiências por meio de técnicas de controle ejaculatório: a estimulação do pênis é a forma mais comum de alcançar o orgasmo masculino, mas cada homem pode ter preferências individuais, e é importante explorar diferentes formas de estimulação para descobrir o que traz maior prazer, além do emocional também fazer parte do processo.
Brunhara explica que existe a ejaculação controlada em que o homem bloqueia a chegada da ejaculação pressionando o dedo em um ponto preciso entre o saco escrotal e o ânus. Dessa forma, o esperma é interrompido na próstata e os músculos ejaculatórios se contraem sozinhos, sem perda de ereção. “Já na anejaculação, os músculos se contraem e a sensação de orgasmo está presente, mas o sêmen não é expelido. Neste caso, pode haver duas razões: não existe emissão de esperma ou o sêmen está sendo mal direcionado no sistema ejaculatório”, explica.
Importante ressaltar, que embora as pessoas considerem o orgasmo masculino mais fácil de alcançar do que o feminino, ele é desconhecido por muitos homens e mais diversificado do que parece. “Além dos casos em que não há saída de fluídos, existe o orgasmo clássico, aquele conhecido como orgasmo ejaculatório, em que os homens liberam o sêmen após a estimulação sexual. Sendo a ejaculação liberada no ápice do prazer sexual, ou seja, durante o orgasmo”, detalha Brunhara.
Outra diferença que pode ser notada é que as mulheres podem ter orgasmos múltiplos, enquanto a maioria dos homens precisa de um período refratário após o orgasmo antes de conseguir ter outra ejaculação.
A compreensão das diferenças entre o orgasmo masculino e feminino pode contribuir para uma vida sexual mais satisfatória e para a construção de relacionamentos íntimos mais saudáveis. A diversidade da experiência sexual é algo a ser celebrado, e a busca pelo prazer deve ser guiada pelo respeito mútuo, consentimento e diálogo constante.
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Cármen Guaresemin
Filha da PUC de SP. Há anos faz matérias sobre saúde, beleza, bem-estar e alimentação. Adora música, cinema e a natureza. Tem o blog Se Meu Pet Falasse, no qual escreve sobre animais, outra grande paixão. @Carmen_Gua