Dia dos Namorados: trisais explicam como funciona a relação

Dois trisais explicam como funciona o relacionamento e tiram as principais dúvidas sobre o assunto

Giulia Poltronieri Publicado em 12/06/2021, às 08h00

Ciúmes, presentes dobrados e preconceito são temas da conversa - Reprodução / Instagram

O conceito de relacionamento nos tempos atuais é bastante diferente do que era na época de sua avó — a não ser que ela fizesse parte do seleto grupo de pessoas “pra frentex”. O fato é que, atualmente, não é difícil encontrar quem vá comemorar o Dia dos Namorados não com apenas uma pessoa, mas duas ou talvez até mais.

Mas calma! Se você ainda não consegue conceber a ideia de ter um relacionamento aberto ou colocar mais uma pessoa dentro de um casal tradicional, confira a história de dois trisais para entender um pouco melhor como funciona esse tipo de relação.

O primeiro deles é composto por Anderson Alves, de 38 anos, Alexandre Brum, de 33, e Lucas Rocha, de 26. O trisal acabou ficando famoso no TikTok, com mais de 125 mil seguidores e, por lá, eles mostram a rotina e fazem vídeos cômicos sobre a vida.

Mas, falando sobre o relacionamento, Alexandre conta que, inicialmente, ele e Anderson estavam juntos há mais de oito anos e, depois de um ano e meio de conversa sobre o assunto, decidiram ocasionalmente colocar alguém para apimentar a relação. “Eu namorei apenas duas pessoas durante minha vida, o que causou em mim uma necessidade de explorar um pouco mais outras experiências no âmbito sexual, sem deixar de lado o amor que sentia por Anderson”, conta Alexandre. “Ele não concordava e, por isso, a conversa demorou muito tempo, até que tivéssemos a certeza de que não havia nenhum tipo de problema no relacionamento e que colocar uma terceira pessoa para fazer sexo também não seria um fator que atrapalharia nosso casamento. Esse tempo foi importante para que nenhuma das partes saísse machucada”.

A partir disso, o casal foi conhecendo outras pessoas, até que encontraram Lucas. “A conversa nunca partiu para um cunho sexual, o que despertou um interesse mútuo em nos conhecermos. Marcamos o encontro e, no dia, passamos bastante tempo conversando. O conteúdo e a forma de ver o mundo fez com que as horas passassem mais rápido do que pudéssemos imaginar e dali nasceu um novo e grande amor. Rapidamente Lucas foi sendo inserido em nossas vidas, e o que não imaginávamos ser possível logo começou a soar como uma boa ideia. Em comum acordo com o Anderson, propusemos ele em namoro e aí nasceu nossa relação a três. Encontrar uma terceira pessoa nunca teve objetivo em firmar-se como um relacionamento, mas aconteceu por acaso e estamos muito felizes por isso”, relata Alexandre.

O caso de Larissa, de 29 anos, Helena, de 34, e Leandro, de 35, também é um pouco parecido. Assim como Anderson e Alexandre, Leandro e Helena já estavam juntos havia quatro anos, mas, ao todo, tinham mais de dez anos de história e, por isso, decidiram abrir o relacionamento. Larissa o conhecia do trabalho e, segundo ela, tinha um “crush enorme” por ele, mas nunca achou que seria recíproco. Em 2019, os dois voltaram a se falar nas redes sociais e ele contou sobre o relacionamento e a chamou para sair. “Como eu sempre fico desconfiada quando o assunto é homem, resolvi falar com a Helena só pra ter certeza de que estava tudo bem. Acabamos ficando muito amigas e nos apaixonando uma pela outra. A partir daí as coisas só aconteceram”, diz Larissa.

Mas nesse tipo de relação não tem ciúmes?

Tem! Ambos os trisais relataram que, apesar de a relação ser acordada e todos se darem bem, no início — e, às vezes, até hoje — o sentimento aparece.

Alexandre, por exemplo, contou que no começo do relacionamento havia ciúmes e eles tiveram que passar por um processo de adaptação. “Todo dia é um aprendizado novo, mas no início, principalmente, passamos por situações que um casal tradicional não passa. Cada vez que tínhamos um ponto em que um dos três ficava chateado, nos reuníamos e conversávamos. A gente entende que a conversa é fundamental para todos os relacionamentos, mas para um trisal é ainda mais importante, pois uma das partes não deve ser deixada de lado nos assuntos que são debatidos, principalmente nos que falam sobre o relacionamento”, explica. “Com isso, fomos alinhando todos os pontos, sendo possível alcançar uma fase em que tudo é assimilado e acaba sendo natural do nosso comportamento evitar atitudes que possam causar mágoas a um dos parceiros, como dar mais atenção mais para um do que para outro, entre outros. Desde quando decidimos ser um trisal foi importante nunca tratar o Lucas como sendo a terceira pessoa e, sim, parte integrante da relação, sem distinção.”

Para Larissa, o ciúmes é ainda mais presente. “As pessoas acham que uma relação não mono significa ausência completa de ciúmes, mas isso não existe. A gente só aprende o que o sentimento é e como lidar com ele”, explica ela. “E essa transição foi muito diferente para cada parte. Ninguém tinha referências ou sabia o que estava fazendo. Acho que de certa forma todo mundo meio que achava que seria um juntar de relações, ou até mesmo tentar construir uma coisa sólida só juntos, mas é bem mais complexo do que isso. Eu precisei entender qual era o meu lugar individual na relação, e eles precisaram aprender a abrir mão do modelo de relacionamento ao qual eles estavam habituados. Todos nós aprendemos que é impossível construir uma única relação como trisal, e sim três relacionamentos individuais que precisam estar fortalecidos para que o nosso em conjunto possa existir. São aprendizados que nunca acabam”.

 

E, mesmo sendo um trisal, o relacionamento ainda pode ser aberto?

Como qualquer relacionamento, não existe uma regra específica e cada um tem seus próprios acordos. No caso da relação de Alexandre, o combinado é ser algo fechado. “O relacionamento é fechado e em formato de triângulo, ou seja, todos se relacionam entre si”, ele explica.

Já com Larissa, há uma relação aberta a outras pessoas, ou seja, eles têm liberdade para se relacionarem fora do arranjo principal. “Mas não trazemos mais ninguém pra dentro do nosso relacionamento conjunto”.

Existe muito preconceito?

Depende do canal em que se está. Como Alexandre, Anderson e Lucas expõem muito a vida na internet, há diversos tipos de comentários. “As pessoas têm muita curiosidade sobre nossa relação. Foi, inclusive, por isso que decidimos abrir o TikTok Namoro de Trisal. No canal, damos informações sobre nosso relacionamento, tiramos dúvidas, conselhos, dessexualizamos o trisal e mostramos que o poliamor existe e merece respeito. No mundo virtual recebemos algumas críticas de pessoas que tentam invisibilizar nosso tipo de relação, muitas das vezes com discursos de ódio e opiniões infundadas, mas optamos por não os responder. Até porque nossos seguidores já fazem isso por nós”.

Confira:

Para Larissa, que não fala tanto sobre sua vida amorosa nas redes e, portanto, não tem uma legião de fãs a apoiando, o preconceito pode ser um pouco maior. “Tivemos e temos ainda muitos problemas com a família, porque para gerações anteriores esse estilo de vida é mais difícil de entender, desafia muitas normas e morais tidas como certas. Muito do julgamento que a gente recebe tem a ver com aprendizados arcaicos de relacionamento, de ideias de posse sobre o parceiro ou parceira, de noções românticas de metade da laranja, essas coisas. Quanto mais as pessoas veem da gente, mais elas percebem que é um relacionamento igual a qualquer outro. Somos uma família, e não tem nada demais nisso.”

E como vai ser o Dia dos Namorados? 

Se você está pensando que, com uma pessoa a mais, os presentes também têm que ser em dobro, está certo! É claro que, assim como tudo no relacionamento, isso é acordado. No caso de Alexandre, por exemplo, o trisal fará uma viagem, mas ele brinca: “Agora é tudo em dobro: amor, carinho e por que não os presentes?”.

Já Larissa explica que não comemora o Dia dos Namorados porque o aniversário de namoro é logo em seguida. “Mas são, em geral, dois presentes, ou um presente ou experiência que seja pros três”.

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