Caso Liliane Amorim faz lembrar da dismorfia corporal, que leva jovens a tratamentos desnecessários
Redação Publicado em 26/01/2021, às 05h00
A morte da influenciadora digital Liliane Amorim, de 26 anos, nos últimos dias, após complicações por uma cirurgia de lipoaspiração, chocou o país. Na imprensa e nas redes sociais, muita gente manifesta indignação com o fato de a jovem ter se submetido a um procedimento que sempre envolve riscos, apesar de ser magra e exibir um corpo invejável nas fotos que ela própria publicava em seu perfil no Instagram.
Transtorno dismórfico corporal
O que faz uma pessoa enfrentar o bisturi para ter um corpo “mais que perfeito”? É difícil não lembrar do transtorno dismórfico corporal (TDC), caracterizado por uma preocupação com pequenas falhas ou defeitos que, apesar de imperceptível para os outros, causa enorme sofrimento para a pessoa.
É importante ressaltar que não há, até o momento, qualquer evidência de que Liliane sofresse do quadro, que afeta cerca de 2% da população, segundo fundação que leva o nome do transtorno – Body Dysmorphic Disorder Foundation, no Reino Unido. Ele costuma ter início na adolescência e, no Ocidente, afeta homens e mulheres igualmente.
Também chamado de dismorfia corporal, o transtorno está longe de ser uma manifestação de vaidade. Pelo contrário, essas pessoas tendem a se achar feias por causa das imperfeições que julgam ter. Algumas até deixam de sair de casa por isso, ou passam a evitar situações específicas – como locais com muita luz, por exemplo.
Outra característica comum é a tentativa de camuflar o suposto defeito, com roupas ou maquiagens pesadas. Além de se submeter a sucessivos tratamentos cosméticos desnecessários, que não trazem a satisfação esperada.
Comportamento repetitivo
Além da vergonha de se expor e da tentativa constante de mudar de aparência, pessoas com o transtorno podem repetir determinados comportamentos durante parte considerável do dia, como:
Esses comportamentos chegam a atrapalhar as atividades diárias da pessoa, como o estudo ou o trabalho, além de afetar o relacionamento com os outros.
Muitas vezes, o transtorno acompanha sintomas de ansiedade ou depressão. Um estudo inclusive alerta que 80% das pessoas diagnosticadas com o TDC sofrem de ideação suicida.
É preciso buscar ajuda
Não se sabe exatamente o que provoca o transtorno, mas estima-se que haja fatores genéticos e também ambientais, como exposição a traumas ou bullying.
Se você se identifica com esses sintomas, ou conhece alguém com eles, é muito importante buscar ajuda de um profissional de saúde mental. O tratamento envolve psicoterapia, como a terapia cognitivo-comportamental, e o uso de antidepressivos. O apoio da família e dos amigos também é imprescindível.
Redes sociais e pandemia
Estudos têm sugerido que transtornos de imagem corporal, como a dismorfia corporal, e que levam a comportamentos alimentares desordenados, como a anorexia e a bulimia, podem ter se tornado mais frequentes com o advento das redes sociais. Mas ainda são necessários mais estudos para confirmar a relação. Também há indícios que a comparação constante gerada pelas plataformas tenha deixado jovens mais perfeccionistas.
A Body Dysmorphic Disorder Foundation diz que a procura pela organização aumentou desde o início da pandemia, em março do ano passado, e, desde então, tem realizado uma série de eventos online.
Também existem indícios de que o isolamento social, e o fato de as pessoas estarem mais atentas ao próprio rosto ao se comunicar por vídeo, fez a procura por cirurgia plástica aumentar no Reino Unido e em outros países.
Em relação ao Brasil, a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica afirma que não possui dados relativos a 2020 para confirmar essa tendência. Além disso, a entidade lançou uma campanha para conscientizar as pessoas de que “não existe milagre”, e que muitos médicos não especialistas agem de forma antiética, com propagandas nas redes sociais.
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