Será que o gênero do seu parceiro pode interferir no tempo que você gasta no seu emprego? Segundo um estudo recente publicado no periódico “American Sociological Review”, a resposta é sim. Tanto homens quanto mulheres tendem a trabalhar mais horas se seu parceiro romântico for uma mulher.
A pesquisa também revelou que as mulheres reduzem suas horas de trabalho ao cuidar de um filho, mas essa redução é menor se a parceiria também for com uma mulher.
As descobertas oferecem novas perspectivas sobre como as dinâmicas de gênero dentro dos relacionamentos influenciam o comportamento no mercado de trabalho.
Provavelmente desde o início da humanidade, homens e mulheres tendiam a ter papéis diferentes em seus lares e a se envolver em tipos distintos de trabalho. Tradicionalmente, os homens realizavam tarefas que exigiam maior força física e fora do lar, enquanto as mulheres se especializavam em cuidados com crianças e tarefas domésticas.
Nos tempos modernos, essa divisão evoluiu, com os homens mais dedicados ao trabalho remunerado fora de casa e as mulheres, no trabalho doméstico.
Ao longo do último século, a participação das mulheres na força de trabalho aumentou significativamente. Apesar desse progresso, estudos continuam a mostrar que as mulheres, em média, ainda realizam uma maior parte das tarefas domésticas e passam menos tempo no mercado de trabalho em comparação aos homens.
Curiosamente, homens e mulheres solteiros tendem a passar quantidades semelhantes de tempo em trabalho remunerado, mas isso muda quando formam parcerias. Manter uma família e um lar exige contribuições tanto financeiras quanto domésticas, levando os casais a se especializarem em papéis diferentes.
A autora do estudo, a pesquisadora Eva Jaspers, e seus colegas analisaram dados coletados pelo Statistics Netherlands de 1995 a 2020. O estudo focou em indivíduos que tiveram tanto um parceiro masculino quanto um feminino durante o período do estudo (não simultaneamente) e viveram com cada um deles por pelo menos um ano.
A análise foi restrita a pessoas que tinham entre 25 e 29 anos (para que estivessem entre 40 e 44 anos ao final do período do estudo) e que residiam na Holanda durante todo o período. Os pesquisadores também excluíram qualquer ano em que a pessoa fosse pelo menos parcialmente autônoma, pois não poderiam determinar com precisão as horas de trabalho nesses casos. Isso resultou em uma amostra final de 2.871 homens e 2.101 mulheres, totalizando 4.972 indivíduos.
Os resultados mostraram que esses indivíduos passaram a maior parte do período de estudo em relacionamentos heterossexuais. Os homens estiveram com mulheres em 75% dos meses observados, enquanto as mulheres tiveram parceiros masculinos em 63% dos meses observados.
Tanto homens quanto mulheres trabalharam mais horas quando seu parceiro era uma mulher. Em média, as mulheres trabalharam 7 horas a mais por mês quando seu parceiro era uma mulher, e os homens trabalharam 21 horas a mais por mês no mesmo cenário.
Houve uma associação entre as horas trabalhadas pelos parceiros em um relacionamento. Indivíduos que trabalhavam mais horas tendiam a ter parceiros que também trabalhavam mais horas por mês.
As mulheres reduziram suas horas de trabalho de maneira mais significativa ao cuidar de um filho em comparação com os homens, mas essa redução era menor quando a parceria fosse com uma mulher. As horas de trabalho dos homens não foram significativamente afetadas por ter um filho, independentemente do gênero do parceiro.
O estudo demonstra que indivíduos que têm relacionamentos com mulheres e homens exibem um comportamento sistematicamente diferente com suas parceiras femininas em comparação com seus parceiros masculinos.
Os pesquisadores acreditam que esse padrão se deve a uma orientação para produzir não apenas a própria identidade de gênero, realizando tarefas típicas de gênero, mas também a identidade de gênero do parceiro, protegendo sua produção de tarefas típicas de gênero.
O desenho do estudo não permite conclusões definitivas sobre causa e efeito. Além disso, como todos os participantes são provavelmente bissexuais, os resultados podem diferir para indivíduos de outras orientações sexuais. Pesquisas futuras podem explorar mais essas dinâmicas em diferentes contextos culturais e de trabalho para aprimorar nossa compreensão de como o gênero do parceiro influencia o comportamento das pessoas.
Tatiana Pronin
Jornalista e editora do site Doutor Jairo, cobre ciência e saúde há mais de 20 anos, com forte interesse em saúde mental e ciências do comportamento. Vive em NY e é membro da Association of Health Care Journalists. Twitter: @tatianapronin