Quando um paciente que sofre de doença renal crônica está em estágio final, ou seja, quando ele já necessita realizar a diálise, é comum que familiares ou amigos próximos ofereceram-se, de forma altruísta e genuína, como doadores de rim.
Por esta razão, em todo o mundo, mais de 35 mil transplantes renais (de doadores vivos) são realizados a cada ano.
Este ato generoso, para os médicos nefrologistas, é observado com extrema reverência e admiração. O nefrologista, então, escolhe o doador de rim ideal, observando todas as suas condições médicas, de forma que o indivíduo não sofra, no futuro, as consequências por ter apenas um rim.
Depois da retirada de um rim, é perfeitamente possível viver. O rim remanescente fica maior (hipertrofiado) e filtra mais o sangue, acumulando em parte a função do rim ausente. Estudos mostram que a função renal total retorna para aproximadamente 70% em 10 dias e cerca de 70 a 80% no acompanhamento a longo prazo.
Doar um rim não está associado à maior risco de mortalidade por todas as causas, doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2 ou desfechos psicossociais adversos em doadores. A pressão arterial diastólica pode se elevar a longo prazo, assim como a taxa de eliminação de albumina (proteína) na urina.
Existe, sim, o risco maior de evoluir para insuficiência renal, principalmente e estatisticamente em pacientes negros, pelo fato de terem uma maior tendência a desenvolver hipertensão grave. Os riscos absolutos, entretanto, de evolução para diálise ou, no caso das mulheres, de desenvolver pré-eclâmpsia podem ser considerados baixos.
Para a maioria dos doadores, o risco de insuficiência renal em 15 anos é menor que 1%, mas para certas populações, como homens jovens e negros, este risco pode ser maior. Mesmo assim, caso o doador necessite de um transplante renal, ele receberá um rim com prioridade.
Alguns poucos pacientes se queixam de dores relacionadas aos nervos ou hérnias no pós-operatório prolongado, mas estas são questões que podem ser resolvidas e acompanhadas pelo médico.
Os doadores renais devem exercer seus esforços em manter hábitos de vida saudáveis, evitando o sobrepeso e a obesidade, o diabetes, a pressão alta e o uso de medicações que podem reduzir a função dos rins, como os anti-inflamatórios.
Todos estes fatores geram risco para a saúde renal. Alimentação saudável, rica em frutas, legumes, vegetais e cereais, evitando-se o excesso de sal; praticar exercícios físicos 150 minutos por semana; cessar o tabagismo e ingerir bebidas alcoólicas moderadamente são importantes metas a serem seguidas pelos doadores de rim.
O acompanhamento com o nefrologista anualmente também é indispensável, tanto para exames de sangue e urina, quanto para o exame clínico, com a medida da pressão arterial. As mulheres que engravidam precisam observar atentamente a pressão, devido ao risco de pré-eclâmpsia.
O compromisso do médico nefrologista é cuidar muito bem de todo doador renal, que também deve estar comprometido com a própria saúde.
Dra. Caroline Reigada
Médica nefrologista, especialista em medicina interna pela Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e em nefrologia pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Também é especialista em medicina intensiva pela Associação de Medicina Intensiva Brasileira. Formada pela Faculdade de Medicina da Universidade de Santo Amaro, atualmente é médica do Hospital Alemão Oswaldo Cruz. Instagram: @dracaroline.reigada.nefro
* Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Site Doutor Jairo