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Doença de Crohn e retocolite: veja como identificar os sinais

Fatores ambientais e genética podem interferir no risco das doenças inflamatórias intestinais (DII) - iStock
Fatores ambientais e genética podem interferir no risco das doenças inflamatórias intestinais (DII) - iStock

As doenças inflamatórias intestinais (DII), como o próprio nome sugere, decorrem de processos inflamatórios que podem acontecer no intestino, mas não apenas nele, eventualmente acometendo outras regiões do trato gastrointestinal. Elas atingem mais de cinco milhões de pessoas no mundo e, no Brasil, a prevalência é de 12 a 55 casos para cada 100 mil habitantes, segundo dados da Sociedade Brasileira de Coloproctologia. Dentre as DII mais conhecidas está a doença de Crohn e a retocolite ulcerativa.

Famosos como o ator Tyler James Williams, que deu vida ao personagem Chris na série “Todo mundo odeia o Chris”, a cantora Anastacia e o youtuber Felipe Neto já revelaram que têm Doença de Crohn. Já a retocolite ulcerativa foi diagnosticada no ex-primeiro ministro japonês Shinzo Abe, que deixou o posto de premiê para cuidar de sua saúde, e no ex-presidente estadunidense John F. Kennedy, além de outras pessoas conhecidas.

Causas multifatoriais

As DII são causadas por resposta inflamatória imunológica inadequada à microbiota alterada em indivíduos geneticamente suscetíveis. Isso significa dizer que vários fatores podem contribuir para o surgimento dessas doenças, que podem ser compreendidos da seguinte forma:

  • Genoma: relaciona-se à predisposição genética que se dá pela mutação de genes. Mais de 200 genes já foram relacionados às DII, dentre eles o NOD2, o primeiro estudado no contexto dessas doenças.
  • Exposoma: são os fatores ambientais aos quais o indivíduo se expõe e que podem influenciar fatores genéticos e a microbiota (ou flora) intestinal. Dentre os fatores que podem impactar negativamente o organismo estão tabagismo, dieta pobre em fibras e rica em proteína animal e alimentos gordurosos, uso frequente de medicamentos anti-inflamatórios e antibióticos, deficiência de vitamina D, poluição, estresse e infecções de repetição.
  • Microbioma: pacientes com DII apresentam, em geral, redução nas bactérias “do bem” presentes no trato gastrointestinal, com menor biodiversidade e proliferação de bactérias patogênicas. O uso de antibióticos nos dois primeiros anos de vida, ausência de amamentação exclusiva e teoria da higiene (que se baseia num cuidado excessivo em relação à higiene e a fatores relacionados) podem desregular o microbioma.
  • Imunoma: algumas respostas imunes do organismos apresentam falhas em pessoas com DII, havendo resposta pró-inflamatória mais intensa e menos resposta anti-inflamatória, causando um desequilíbrio entre elas.

Além desses fatores, há evidências científicas de que o tabagismo pode ser considerado fator de risco para o desenvolvimento e agravamento da doença de Crohn.

Doença de Crohn x retocolite ulcerativa

A retocolite ulcerativa acomete apenas a mucosa (camada que reveste a parte interna do trato gastrointestinal) e surge no reto, ascendendo pelo intestino grosso com lesão contínua. A classificação da gravidade da retocolite leva em consideração o número de evacuações por dia, a presença de sangramento nas fezes, febre, alterações na pulsação, presença de anemia e alterações no exame de velocidade de hemossedimentação, feito em laboratório. Conforme essa classificação, um tratamento mais adequado pode ser proposto pelo médico.

Já na doença de Crohn o processo inflamatório atinge tanto as camadas mais superficiais (mucosa e submucosa) quanto as camadas mais profundas (muscular e serosa) que formam os órgãos do trato gastrointestinal. Ao afetar camadas mais internas, podem surgir fístulas (espécie de buraco indevido que comunica partes que antes ficavam separadas) no intestino. Além disso, as lesões na doença de Crohn surgem de forma salteada, com áreas de lesão e áreas saudáveis, podendo aparecer ao longo de todo trato gastrointestinal, da boca ao ânus.

Pessoas com doença de Crohn têm mais predisposição a apresentarem também a chamada doença perianal, que é a comunicação da luz intestinal com a região em torno do ânus.

Sinais e sintomas

Os sinais e sintomas das DII dependem de diversos fatores relacionados à doença, como localização e extensão das lesões, duração, grau de atividade inflamatória e surgimento de complicações. Os principais sintomas geralmente são dor abdominal e diarreia, mas também pode haver emagrecimento, fezes com muco, pus ou sangue, tenesmo (sensação de evacuação incompleta) e urgência para evacuar.

Em casos mais avançados, também pode ocorrer períodos de constipação intestinal, com ausência de evacuação e eliminação de gases, distensão abdominal e vômitos. Além disso, mulheres que apresentam fístulas podem eliminar fezes pela vagina. Nesses casos, é frequente a recorrência de infecções do trato urinário.

Até 30% das pessoas com DII podem apresentar manifestações extraintestinais, como dor nas articulações, lesões de pele, úlceras orais e alterações oftalmológicas. Em pessoas com retocolite ulcerativa, as manifestações reumatológicas, como artralgia (dores nas articulações), podem chegar a 60% e podem indicar atividade da doença.

Diagnóstico

O diagnóstico das doenças Inflamatórias Intestinais depende de uma criteriosa avaliação médica, levando em conta a história clínica (anamnese) e exame físico. A partir disso, ele pode solicitar alguns exames que ajudam a confirmar o diagnóstico, como colonoscopia e exame anatomopatológico. Exames laboratoriais podem também evidenciar anemia, deficiência de vitaminas e minerais, como ferro e ácido fólico e, sobretudo, dosar a calprotectina fecal. Ela é uma proteína dosada nas fezes que tem alta sensibilidade para doenças inflamatórias do trato gastrointestinal. Apesar de não ser específica para as DII, ela é útil para rastreio dessas doenças e diferenciá-las de outras condições clínicas.

Tratamento

Por se tratar de uma doença crônica, o tratamento tanto da doença de Crohn quanto da retocolite ulcerativa tem por objetivo cicatrizar a mucosa para que não haja complicações, como fístulas e estenose, além de reduzir os sintomas. Para isso, podem ser indicados medicamentos conforme a complexidade do quadro clínico. Em geral, são utilizados medicamentos do tipo imunossupressores (como azatioprina e metotrexato) e terapia biológica (infliximabe, adalimumabe, certulizumabe e outros), seguindo um esquema terapêutico proposto pelo médico.

Os anti-inflamatórios tópicos e os corticoesteroides podem ser usados para reduzir o processo inflamatório em pessoas em crise (geralmente com muita diarreia e dor abdominal), mas eles não cicatrizam a mucosa. Dentre os medicamentos usados estão a budesonida, a prednisona e a hidrocortisona. Além da terapia medicamentosa, em casos onde há fibrose de partes do trato gastrointestinal ou fístulas, pode ser necessária cirurgia.

As pessoas que fazem tratamento para DII são consideradas imunossuprimidas e, por isso, apresentam mais risco de desenvolverem infecções. Para evitar isso, é importante dar atenção à saúde como um todo e especialmente às vacinas, já que este grupo tem prioridade em alguns casos.

*Leo Fávaro é acadêmico de Medicina da Universidade Federal do Espírito Santo

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Leo Fávaro

Leo Fávaro

Ex-advogado, jornalista e, atualmente, acadêmico de Medicina da Universidade Federal do Espírito Santo. Escreveu por bastante tempo sobre música, cultura pop e moda, e atualmente se dedica a escrever sobre saúde. Está nas redes sociais como @leofavaro