Será que sentir dor no tórax é sempre sinônimo de gravidade?
Anderson José Publicado em 20/09/2022, às 14h00
Uma das principais queixas dos pacientes que procuram atendimento médico no pronto socorro é a dor no peito, mais precisamente na região torácica. Além do desconforto físico do quadro, o medo do que está causando esse desconforto também é um dos motivos pelos quais as pessoas procuram atendimento rapidamente. Mas sentir dor no tórax é sempre sinônimo de gravidade?
Estima-se que, no Brasil, ocorram quatro milhões de atendimentos anuais por dor torácica expressando ampla variedade de causas, em geral, benignas. É um desafio médico fazer o pronto reconhecimento da causa e das condições ameaçadoras à vida daquele paciente que refere dor torácica. A dor torácica pode ser dividida em cinco principais grupos de etiologias em ordem decrescente, ou seja, da mais prevalente para a menos prevalente, são elas:
As condições que afetam as estruturas musculoesqueléticas são referidas como potenciais causas de dor torácica não cardíaca. A dor, em geral, é bem localizada e pode ser reproduzida através de palpação em um ponto, além de, na maioria dos casos, a dor aumentar com os movimentos de respiração da caixa torácica. Os pacientes previamente saudáveis, sem condições sistêmicas que afetam sua saúde podem ser tratados apenas com analgésicos sem a necessidade de qualquer exame complementar. Entre algumas causas de dor torácica musculoesquelética estão:
É difícil diferenciar a apresentação clínica do paciente com dor de origem esofágica da cardíaca, porém existem sinais e sintomas que sugerem etiologia esofagiana: presença de pirose (queimação) que surge tipicamente após as refeições e melhora com o uso de antiácidos e disfagia (dor para deglutir). A abordagem inicial nas salas de emergência a esses pacientes deve incluir exames complementares, como eletrocardiograma, por exemplo, com o objetivo de excluir causas ameaçadoras à vida, como as cardíacas. Após afastar dores não cardíacas, o alívio da dor pode se dar através de inibidores de bomba de prótons.
A dor no tórax acende a luz vermelha na cabeça das pessoas justamente porque nesta região está um dos órgãos mais nobres do corpo humano: o coração. As dores de origem cardíaca podem estar relacionadas com
A dor causada pelo infarto agudo do miocárdio, em geral, começa de forma súbita que aperta o peito que pode se estender da região do epigástrio e até a mandíbula irradiando ou não para os braços e costas. É comum o paciente sentir náusea e sudorese excessiva, além de levar a mão no peito (Sinal de Levine).
O atendimento inicial ao paciente com um quadro típico de dor torácica de origem cardíaca inclui história clínica, exame físico direcionado e protocolo de Síndrome Coronariana Aguda que inclui: monitorização, oxigenioterapia se dispneia e com saturação de oxigênio baixa, acesso venoso para infusão de medicamentos, eletrocardiograma e dosagem de marcadores de necrose miocárdica. Isso tudo é preconizado que seja feito em até 10 minutos.
Em um terço dos pacientes que procuram serviço de emergência devido à dor torácica, identifica-se alguma desordem psiquiátrica. Os sinais e sintomas desencadeados por crises de ansiedade, por exemplo, podem se assemelhar a condições mais graves causados por desordens orgânicas. Taquicardia, hiperventilação, sudorese, palpitação são presentes nesses quadros juntamente com o medo dos pacientes de estarem com a sensação de morte. A dor torácica pode estar presente nos quadros de:
Além das etiologias acima citadas, a Síndrome de Munchausen não pode ser ignorada. Esta síndrome é aquela na qual o paciente finge estar com sintomas de doenças graves para poder fazer exames. Vale ressaltar que dor torácica de origem psicogênica é diagnóstico de exclusão, ou seja, deve-se abordar todas as outras possíveis causas antes, principalmente àquelas ameaçadoras à vida antes de fechar diagnóstico de dor de origem psíquica.
A dor de origem pulmonar é decorrente de alterações em vasos, parênquima pulmonar ou pleura (membrana serosa que recobre os pulmões). Entre as causas estão:
Existem outras etiologias que podem estar relacionadas à dor, como câncer, doenças crônicas, sarcoidose e infecções como pneumonia, por exemplo, embora a dor torácica associada a esta infecção esteja presente em menos de 30% dos casos.
A dor do TEP se manifesta de forma aguda, é retroesternal e, geralmente, está associada à dispneia e hemoptise (tosse com sangue). O diagnóstico é inicialmente clínico e confirmado através de exames de laboratório (D-dímero) e imagem (Angiotomografia computadorizada).
A prevalência de dor torácica não cardíaca é superior às cardíacas nos atendimentos de emergência, porém, o objetivo principal, ao se avaliar o paciente com dor torácica, é excluir as condições potencialmente ameaçadoras à vida. Uma história clínica bem coletada, exame físico bem feito associados a exames complementares como eletrocardiograma, laboratório e raio-x de tórax podem fornecer diagnósticos mais assertivos e afastar possíveis iatrogenias aos pacientes.
*Anderson José é estudante de medicina na Ufac (Universidade Federal do Acre), autor do podcast Farofa Médica e da página de Instagram @oiandersao
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